Isabel Marisa Serafim, da Agência Lusa
Díli, 13 mar (Lusa) - Timor-Leste é um país sem dívida pública, com um Fundo Petrolífero de mais de 8 mil milhões de dólares, mas a riqueza do Estado não se refletiu ainda na qualidade de vida dos cidadãos.
Com pouco mais de um milhão de habitantes, 41 por cento da população continua a viver com menos de um dólar por dia, segundo dados do PNUD, no seu último relatório de desenvolvimento humano.
Na capital timorense, onde está concentrada mais de 21 por cento da população do país, as desigualdades económicas são visíveis e convivem diariamente num ritmo imparável de uma cidade em constante crescimento.
Se é visível uma grande aposta nas infraestruturas, algumas das quais fundamentais para a consolidação do Estado, também se nota a ausência de construção de habitações que aqueles que procuram melhores condições de vida possam pagar.
A presença da comunidade internacional no país fez disparar os preços das rendas de casa e as habitações construídas nos últimos anos destinam-se exclusivamente aos 'malai' (estrangeiro).
Com o êxodo rural de milhares de jovens que não encontram forma de subsistência na sua região de origem, Díli é uma cidade de economia paralela, porque todos precisam de sobreviver.
Os "bita roda" (carrinhos com três rodas onde se pode comprar tabaco, água, refrigerantes e carregamento para os telemóveis) proliferam pela cidade, e também se podem comprar cães na rua.
Segundo números das autoridades timorenses, o setor privado da economia cria 400 novos empregos por ano, mas não absorve o número de jovens que entram no mercado de trabalho anualmente, mais de 12 mil.
Deixando Díli para trás e iniciando caminho em direção a leste ou a oeste, a população do interior vive da agricultura, um dos grandes potenciais do país, mas que ainda é essencialmente de subsistência.
Exemplo disso é o cultivo do arroz. Apesar de ser a base alimentar dos timorenses, apenas 25 por cento do arroz produzido é comercializado, o que obriga à sua importação para colmatar as faltas no mercado.
O café timorense já começou a ser exportado, mas as quantidades estão longe de equilibrar a balança comercial.
Num país onde quase todos os bens são importados, o governo definiu como uma das suas prioridades a aposta na agricultura, prevendo para os próximos anos uma modernização do setor e a construção de acessibilidade que permitam o escoamento dos produtos, não só para as zonas de maior consumo, mas também para serem exportados.
O turismo também poderá ser uma fonte de emprego e de lucro, mas atualmente ainda está numa fase muito rudimentar.
É a falta de modernização de determinados setores da economia que conduz a um país dependente das receitas do petróleo, mas que também se esgotam. Segundo dados das autoridades timorenses, o principal campo de petróleo de Timor-Leste é o Bayu-Undan, na Área Conjunta de Desenvolvimento Petrolífera (com a Austrália), que será uma fonte de receita até 2025.
Timor-Leste tem depois um campo adicional, o Kitan, com cerca de 34,5 milhões de barris de petróleo e que se deverá esgotar em 2017.
Existe ainda o campo de petróleo e gás, Greater Sunrise, onde ainda não foi iniciada qualquer exploração, devido a uma disputa entre as autoridades timorenses e australianas e a petrolífera australiana Woodside.
Timor-Leste quer ter uma fábrica de processamento construída na costa sul, enquanto a Woodside pretende uma plataforma flutuante no mar.
Embora o projeto inicial preveja uma distribuição de 10 mil milhões de dólares para Austrália e Timor-Leste, o Governo de Díli tem sido inflexível na intenção de receber um gasoduto na costa sul do país, o que garantiria substanciais receitas adicionais.
Para este ano, o Governo prevê receitas no setor do petróleo de 2,04 mil milhões de dólares.
No entanto, apesar das receitas, o petróleo e os seus lucros continuam muito distantes do seu dono.
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