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Os golpistas estão isolados: a ONU, a União Africana e os EUA condenaram o golpe. Também a CPLP ameaçou com sanções, caso a Guiné-Bissau não regresse à “normalidade constucional”. Analistas buscam líder dos insurgentes.
Os militares sublevados, que na quinta-feira passada (12/04) tomaram o poder na Guiné-Bissau e detiveram o presidente interino e o primeiro-ministro, encerraram agora os espaços aéreo e marítimo. Só com a autorização do Comando Militar é que se pode cruzar as fronteiras guineenses.
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadou Djaló, está claro que o responsável pelo golpe é o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas António Indjai. "Sabe-se que há um autointitulado Comando Militar, e apesar de terem dito que o General António Indjai está detido, nós não confiamos [esta informação], entendemos que é uma farsa. Portanto, ele está na origem desse golpe de Estado", avalia.
Os acontecimentos dos últimos dias na Guiné-Bissau lembram a crise de 2010. Naquela altura, um grupo de militares, entre eles Indjai, deteve Carlos Gomes Júnior. Pressionados pela comunidade internacional, os militares acabariam por libertar Gomes Júnior no prazo de algumas horas.
Todavia, o então chefe das Forças Armadas, Zamora Induta, esteve detido durante meses e foi deposto por suas próprias tropas. Este episódio do ano 2010 mostra bem a impunidade com que os militares agem na Guiné-Bissau. Normalmente uma sublevação deste tipo significaria uma despromoção ou pena de prisão.
Não na Guiné-Bissau. Aqui o cabecilha do golpe foi promovido de vice para Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas.
Briga antiga
Desde esse braço de ferro em 2010 que a relação entre António Indjai e Carlos Gomes Júnior é tensa, como explica Paulo Gorjão, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS).
"Essa relação foi sempre má. Em função das circunstâncias internas e externas haveria uma espécie de acordo tácito, em que, na prática, Indjai tolerava Carlos Gomes Júnior. Mas Carlos Gomes Júnior é talvez nos últimos anos dos políticos e dos intervenientes civis com mais influência e com mais prestígio junto da comunidade internacional. E tudo isso, naturalmente, joga em desfavor dos militares. Isto era um pouco quase como um golpe adiado que esperava melhores circunstâncias", diz Gorjão.
O vácuo de poder aberto pela morte do presidente Malam Bacai Sanha, em Janeiro de 2011 na sequência de doença prolongada, constituiu uma janela de oportunidade para um golpe.
Isto porque o chefe de Governo, Carlos Gomes Júnior, surgiu como favorito à sucessão de Malam Bacai Sanha. "Cadogo", como é conhecido na Guiné-Bissau, falhou por pouco em obter a maioria absoluta na primeira volta das eleições presidenciais de 18 de março – ficou com 49 por cento dos votos.
Golpe anunciado
Para Paulo Gorjão, não é um acaso que os militares tenham feito este golpe pouco antes da segunda volta das eleições presidenciais. "Eu penso que o golpe, mais do que o anúncio da retirada, é desencadeado sobretudo pelo anúncio de que a segunda volta das eleições iria ter lugar, como previsto, embora com uma semana de atraso [no dia 29 de abril]. E como era previsível que o vencedor seria Carlos Gomes Júnior, era evidente que, sob a designação da Missang ou com uma outra formulação qualquer, a presença mais ou menos diluída de forças militares angolanas seria para continuar."
No comunicado oficial, o autodenominado Comando Militar justificou o golpe dizendo querer “defender as Forças Armadas guineenses de uma suposta agressão de Angola com um mandato da União Africana”. O Comando militar afirmou ter conhecimento de um acordo secreto entre os executivos guineense e angolano para atacar os militares guineenses.
Mudanças no setor militar
O facto é que o governo de Carlos Gomes Júnior tentou nos últimos meses, com a ajuda de Angola, reformar o sector militar. Em 2010 uma missão da União Europeia retirou-se frustrada do país porque os militares sabotaram todas as tentativas de mudança.
Antes da segunda volta das eleições presidenciais, Luanda anunciou a retirada dos duzentos soldados angolanos estacionados na Guiné. O Governo de Carlos Gomes Júnior esforçou-se por manter uma missão militar internacional no país. A motivação deste golpe poderá ter sido a preocupação das Forças Armadas com a sua autonomia.
Autores: Johannes Beck/Helena Ferro de Gouveia - Edição: Francis França/António Rocha
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