SBR - Lusa
Lisboa, 07 abr (Lusa) -- A repressão governamental aumentou em 2011, mas ainda vai subir mais de tom neste ano eleitoral, antecipa o "rapper" MCK, assinalando que, em Angola, "a música tem mais peso do que a oposição".
A música "desperta consciências" e é "mais facilmente digerida pelas pessoas, porque não tem cunhos partidários", diz o músico de 30 anos, uma das pessoas com quem a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu para falar sobre a situação em Angola, quando visitou este país, em julho do ano passado.
Lembrando que "a música, em África, sempre foi utilizada como uma ferramenta de luta", MCK (também conhecido como Kapa) frisa que a liberdade de expressão em Angola "é aparente, nominal, só existe nos papéis". É isto -- diz - que tem levado os jovens a manifestarem-se.
"A Constituição é clara, diz que as manifestações carecem apenas de prévia autorização. Os manifestantes sempre obedeceram a isso", destaca, frisando que os acontecimentos de 09 e 10 de março - quando manifestações antigovernamentais em Luanda e Benguela foram impedidas por indivíduos com armas brancas, cabos elétricos, paus e barras de ferro, que espancaram e feriram vários dos organizadores - revelaram "desrespeito total" pela lei fundamental, "com o patrocínio do Estado".
Critica também a comunicação social angolana, nomeadamente a televisão estatal (TPA), por oferecer "espaço" a quem ameaça ajustar contas com aqueles que se manifestaram contra o regime.
Apesar dos riscos e danos para si e para quem ouve a sua música, nada o fará recuar, garante o "rapper".
"As manifestações vão continuar, porque elas são a maior ferramenta de pressão política. A nível de parlamento, não tens oposição. Basta o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder] mandar 30 deputados levantar a mão e aprovam todas e quaisquer leis", critica.
Em 2006, o segundo disco de MCK foi "proibido por orientações superiores". Foi por isso que chamou ao terceiro, recentemente editado, "Proibido ouvir isto". Em memória de "uma carreira premiada de proibições", fala de temas tabu e "convida a sociedade angolana a debater". Vendeu dez mil exemplares nas ruas angolanas em apenas quatro horas. Isto apesar de as rádios não passarem a sua música.
O fosso entre o número de compradores de discos e o número de pessoas, muito mais reduzido, que efetivamente participam nas manifestações antigovernamentais é explicado com muita repressão e falta de educação.
O regime foi plantando "sementes de medo", que facilmente crescem entre quem tem "uma memória de guerra muito recente". E o nível de escolaridade é "muito baixo", o que facilita a instrumentalização do voto e a corruptibilidade das pessoas.
"Se eu também passasse dificuldades do tipo de não ter nada para comer durante um ano, (...) claro que também trocaria o meu voto por um saco de arroz", reconhece. "Não educar as pessoas" tem sido o lema da "política de controlo do governo", porque é o melhor garante de que voltam a votar... "a favor, claro", ironiza.
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