Jorge Heitor, jornalista – O Máximo
Das ilhas do arquipélago de Cabo Verde às terras do Delta do Níger, quase na fronteira com os Camarões, os narcotraficantes latino-americanos têm circulado com impunidade, nestes últimos sete anos, aproximadamente. Muitos dos regimes existentes são fracos e/ou não dispôem de meios para controlar a circulação de cocaína, chegada normalmente da América do Sul a caminho da Europa.
Países como a Gâmbia, a Guiné-Bissau, a República da Guiné e a Serra Leoa têm constituído uma rota essencial para pessoas sem escrúpulos que, partindo da Venezuela ou da Colômbia, pretendem fazer chegar o seu produto à Península Ibérica, às Ilhas Britânicas, a muitas outras regiões europeias e até mesmo ao Médio Oriente.
O problema da droga na África Ocidental é tão grave que até já serviu para motivo primordial do mais recente livro do romancista britânico Frederick Forsyth, que durante a segunda quinzena de Agosto de 2010 lançou nos Estados Unidos e no Reino Unido o thriller "The Cobra", sobre o comércio internacional da cocaína, que envolve "alguns dos homens mais violentos do mundo".
Quando no início de Março de 1999 o autor de "O Dia do Chacal" estava em Bissau a investigar a passagem de droga sul-americana para a Europa, por vezes através do aeroporto de Lisboa, soube que alguém fizera explodir o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general Tagme Na Wae, e que horas depois o próprio Presidente da República, João Bernardo "Nino" Vieira, seria assassinado com requintes de extrema malvadez.
O sangue guineense não se ficaria por aí, pois que algum tempo depois caberia a vez ao deputado Helder Proença e ao candidato presidencial Baciro Dabó. Todos eles, segundo é voz corrente entre as pessoas que regularmente acompanham os assuntos daquela região, mais ou menos ligados a negócios muito pouco dignos.
Relações com a Al-Qaeda
Ainda se o problema fosse só o narcotráfico, talvez as chancelarias ocidentais não se preocupassem tanto. Mas a verdade é que os responsáveis pelo combate ao terrorismo estão cada vez mais preocupados com os grupos islamistas que se associam aos cartéis da droga. Nomeadamente com a hipótese de a África Ocidental se tornar uma nova fonte de rendimento para a rede Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, que se tem estado a infiltrar pelas terras da Mauritânia, do Mali, do Níger e do Burkina Faso.
Se formos ao site StrategyWorld.com, podemos ler que há alguns anos operacionais daquela rede terrorista começaram a aparecer na Guiné-Bissau, nomeadamente para facilitar a circulação de cocaína, numa terra onde os mais altos órgãos do Estado são incapazes de controlar o que quer que seja.
A ausência de uma Força Aérea bem equipada e de uma Marinha dotada de um razoável número de lanchas rápidas faz com que proliferem as pistas de aterragem e com que atraquem barcos às dezenas de ilhas do arquipélago das Bijagós, alvo dos mais mirabolantes projectos. Ao ponto de Nino Vieira ter chegado a autorizar um projecto do magnate chinês Stanley Ho para construir um casino na ilha Caravela.
Uma ameaça crescente
No dia 1 de Abril de 2010, tropas sob o comando do vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, general António Indjai, foram à representação das Nações Unidas e retiraram de lá, com toda a impunidade, o contra-almirante Bubo Na Tchuto, que aí se encontrava refugiado, por ter um diferendo com o Governo. Depois, juntos, Indjai e Bubo Na Tchuto, afastaram o Chefe do Estado-Maior, almirante Zamora Induta, e remeteram-no para uma cadeia.
Dias depois, a Drug Enforcement Administration, dos Estados Unidos, colocava Bubo na sua lista de pessoas associadas ao narcotráfico na África Ocidental, tal como aliás o fez em relação ao capitão Ousmane Conté, filho do anterior Presidente da República da Guiné, Lansa Conté. Bissau e Conacri eram, desde há anos, duas faces de uma mesma moeda. Nino e Conté haviam sido, durante muitos anos, amigos inseparáveis.
As fracas instituições, a ausência de desenvolvimento e o crime organizado têm sdio um caldo fértil para toda a espécie de aventuras a que alguém se queira lançar desde as imensidões desérticas da Mauritânia até à contestada fronteira entre a Nigéria e os Camarões.
O representante especial das Nações Unidas na África Ocidental, Said Djinnit, tem dito que as perspectivas de realização nessa parte do mundo dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio continuam a ser fracas, sem que a pobreza da maior parte das pessoas diminua.
(parte de um trabalho que publiquei no anuário Janus)
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