sábado, 14 de abril de 2012

“ESTOU MANIETADO”, afirma o jornalista António Aly Silva na Guiné-Bissau



António Veríssimo

No blogue Ditadura do Consenso, do jornalista guineense Aly Silva – preso e espancado pelos golpistas em Bissau – é solicitado pelo próprio a devolução de objetos e material imprescindível que elementos dos golpistas apreenderam (ou roubaram?). A lista é relativamente extensa e Aly Silva afirma-se manietado por assim, sem meios, não dispor de condições para trabalhar.

O abuso, contra a legitimidade do exercício da profissão de Aly, não se ficou somente pelo facto de o deterem ilegalmente e espancarem-no – ao ponto de lhe cortarem uma orelha - também consideraram conveniente privar o mensageiro dos meios de suporte ao exercício da profissão.

Os chefes do autointulado Comando Militar que estão a pôr a Guiné-Bissau a ferro e fogo têm declarado não pretenderem o poder e quererem reger-se na defesa dos interesses do país. Não se percebe bem como tal será possível se na realidade são eles que detêm o poder ilegalmente, pela força das armas, quem detem e espanca cidadãos civis inocentes, e também o profissional da informação, usando o poder golpista que lhes permite tais barbaridades.

Se o tal Comando Militar na realidade pretende o bem do país cujas forças armadas deviam servir de acordo com a Constituição, o seu dever é permitir que os profissionais de informação, os jornalistas – nacionais e estrangeiros – possam reportar os acontecimentos protegendo-os se necessário, em vez de os prender, espancar, roubar-lhes os meios de trabalho, com o objetivo de os silenciar, como é o caso daquilo que está a acontecer com Aly Silva.

Contrariamente ao que é afirmado pelos chefes dos militares golpistas da Guiné-Bissau as práticas em uso demonstram temerem que os guineenses e os cidadãos do mundo conheçam a realidade sobre os acontecimentos que ali estão a ocorrer, o que prefigura intenções e práticas reprováveis cuja faceta pretendem ocultar. Como querem estes sujeitos golpistas, militares e não militares, granjear e merecerem credibilidade por parte dos guineenses e da comunidade internacional?

Respeitem os jornalistas. Respeitem a população. Respeitem a vida e os bens de todas as pessoas. Resolvam causas políticas fazendo política, dialogando e traçando consensos e acabem com essa malvada cultura da guerra, da violência que nada resolve e que tem levado o país, o seu povo, para a miséria, o temor, a permanente instabilidade.

Senhores militares e políticos de má-fé guineenses, golpistas de agora e de situações anteriores, devolvam rapidamente os meios profissionais e pessoais de Aly Silva, devolvam a dignidade e o respeito ao povo que deviam servir em vez de estarem a servir-se dele, aterrorizando-o sempre que vos dá na real gana de espraiarem vossos interesses de grupo, interesses pessoais, e as vossas paranóias!

Ainda da prosa de Aly Silva no Ditadura do Consenso saliente-se informação de última hora: “Militares estiveram há pouco na residência do coronel Manuel Saturnino da Costa com intenção de o prender. Por sorte, este não estava em casa. Mas deixaram recado em como voltariam...”

Finalmente, a prosa e a lista do material apreendido (roubado) a Aly Silva no referido blogue:

ATENÇÃO, queria que os militares me devolvessem tudo isto

Durante o espancamento, em que me cortaram a orelha a coronhada, começaram por me tirar o relógio que trazia no pulso. E, na Amura, fiquei sem isto:

- 1 computador ACER preto
- 1 iPad 2
- 1 telefone NOKIA E 71
- 1 carregador BlackBerry do isqueiro + 1 carregador Black Berry de corrente
- 1 máquina fotográfica CANON EOS 50D
- 1 maquina digital pequena cybershot
- 1 gravador de voz Olympus de ultima geração
- 1 carregador da bateria da maquina fotográfica CANON EOS 50D
- 1 cabo USB CANON EOS 50D

Como podem ver, estou manietado.  

António Aly Silva”

Nota de AV: Não esqueçam, devolvam tudo e também o relógio.

Sem comentários:

Mais lidas da semana