MSE – Lusa, com foto
Díli, 14 abr (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje que a situação na Guiné-Bissau é complexa e perigosa e disponibilizou-se para um eventual processo de mediação, no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"A situação na Guiné-Bissau, que acompanhei ao longo de anos e procuro acompanhar, é extraordinariamente complexa, perigosa, porque pode degradar-se para maiores atos de violência, e o país não está em situação de se dar a esse luxo de novo retrocesso no processo de pacificação, de democratização", afirmou à agência Lusa José Ramos-Horta.
Para José Ramos-Horta, é uma "tristeza" que os guineenses não consigam ver uma luz ao fundo do túnel.
"É necessário que a CPLP, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, o Conselho de Segurança da ONU, a Comissão Europeia ajam de forma firme para prevenir o pior, para se retomar o processo democrático com a continuação da segunda ronda das eleições presidenciais e esperemos que, com o papel de Angola, possamos chegar ao processo da modernização das forças armadas da Guiné-Bissau, onde parecem situar-se sempre os problemas que têm acontecido", disse.
Questionado pela agência Lusa sobre se estaria disponível para regressar à Guiné-Bissau como enviado especial, José Ramos-Horta disse estar disponível, mas que um eventual processo de mediação não pode ser uma visita de médico.
"O nosso ministro dos Negócios Estrangeiros alertou-me atempadamente para os problemas que se estavam a avolumar na Guiné-Bissau e perguntou-me da minha disponibilidade para uma possível participação num processo de mediação. Eu disse claro que sim, disponibilizo-me no quadro da CPLP e desde que [a mediação] também seja bem-vinda e aplaudida pelas autoridades da Guiné-Bissau e pelo governo legitimamente eleito e pelos militares", afirmou.
Para Ramos-Horta, uma mediação não pode ser uma visita médica.
"Eu estaria disposto a investir o tempo que fosse necessário, apesar de ter uma agenda sobrecarregada em vésperas de terminar o mandato, em vésperas de participar ativamente nas legislativas de Timor-Leste, em julho próximo, mas eu creio que pelo carinho que nós temos todos pela Guiné-Bissau eu faria o esforço, desde que seja no quadro da CPLP, com todo o apoio dos colegas da CPLP, da CEDEAO, Conselho de Segurança e da Comissão Europeia, que deve ter um papel muito mais interveniente na Guiné-Bissau", disse.
Na quinta-feira à noite, um grupo de militares guineenses atacou a residência do primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, e ocupou vários pontos estratégicos da capital da Guiné-Bissau.
A ação foi justificada sexta-feira, em comunicado, por um autodenominado Comando Militar, cuja composição se desconhece, como visando defender as Forças Armadas de uma alegada agressão de militares angolanos, que teria sido autorizada pelos chefes do Estado interino e do Governo.
A mulher de Carlos Gomes Júnior disse na sexta-feira que ele tinha sido levado por militares na noite do ataque e que se encontrava em parte incerta, bem como o Presidente interino, Raimundo Pereira.
Entretanto, em comunicado, o Comando Militar que realizou na quinta-feira um golpe de Estado veio dizer que o Presidente interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, cujas detenções já tinham sido anunciadas anteriormente, e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai, estão "são, salvos e seguros nos lugares em que se encontram sob vigilância".
Os acontecimentos militares na Guiné-Bissau, que antecederam o início da campanha eleitoral das presidenciais de 29 de abril, mereceram a condenação da União Africana, da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e de vários países, incluindo Portugal, que exortou os autores do "golpe militar" a libertar os políticos detidos.
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1 comentário:
Grande ideia!! Um grande timorense, um homem do mundo, um grande mediador poderá colocar a sua experiência e o que de melhor sabe fazer ao serviço da paz e da estabilidade. Os anglo-saxónicos, Xanana, e outros, abandonaram este homem que, apesar de não ser um grande político em Timor-Leste, é e sempre será um grande diplomata. Viva Ramos Horta!
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