quarta-feira, 25 de abril de 2012

Livro sobre 10 anos da independência revela Alemanha "farta" de ouvir Portugal



RBV - Lusa

Lisboa, 25 abr (Lusa) -- O ex-chanceler alemão Helmut Khol disse há 20 anos ao então primeiro-ministro português Cavaco Silva que já estava "farto" da questão de Timor-Leste, revela um livro lançado hoje com testemunhos sobre uma década de independência timorense.

Em 1992, Portugal aproveitou o exercício da sua presidência europeia para continuar a alertar o mundo para a situação do território e a constante violação dos direitos do povo timorense. Nem todos os nossos parceiros europeus se mostravam recetivos às diligências e aos argumentos de Portugal", lembra Cavaco Silva, num testemunho do livro "Por Timor -- Memórias de Dez Anos de Independência", que Sónia Neto, conselheira do presidente da Comissão Europeia lança hoje em Bruxelas com a presença de Durão Barroso.

"Lembro-me bem, a esse propósito, que num Conselho Europeu em que participei como primeiro-ministro, um colega me interpelou dizendo que 'já estava farto de ouvir falar de Timor-Leste'. Reagi lamentando tal afirmação e, para que não ficassem dúvidas, acrescentei que, quanto a mim, 'não só não estava farto como nunca me fartaria de falar de Timor, enquanto a questão não estivesse resolvida'", acrescenta Cavaco Silva.

Num outro testemunho, Nelson Santos, atual embaixador timorense na União Europeia, garante que foi o antigo chanceler alemão Helmut Khol o autor desta tirada sobre Timor-Leste, em pleno Conselho Europeu.

No livro, que recolhe depoimentos de quem esteve, de uma forma ou de outra, envolvido no processo de independência e nas cerimónias do nascimento -- a 20 de maio de 2002 - da primeira nação do século XXI, o líder histórico da guerrilha de resistência timorense, ex-Presidente da República e atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, admite que, por duro que tenha sido liderar os timorenses na guerra, em paz é ainda mais.

"Rapidamente compreendi que é mais difícil liderar em tempos de paz do que em tempos de guerra. Se conheci momentos angustiantes ao liderar um povo na guerra, quando me foi colocado o desafio de ser Presidente da República percebi que o grande desafio seria construir a paz e, subsequentemente, construir o Estado", diz Xanana.

"Envolver todo um povo marcado pelo conflito na procura da paz é mais difícil do que conseguir a união em tempos de conflito. Conforme sabemos, são tantas as expectativas legítimas de quem se bate pelos ideais de liberdade, igualdade, e desenvolvimento, que podemos afirmar que o atingir da paz verdadeira significa também libertar o povo da pobreza", acrescenta.

Também o antigo Presidente da República dos Estados Unidos, Bill Clinton, cuja administração apoiou a causa da independência timorense, considera no livro que Timor-Leste, graças à "ação rápida e decisiva da comunidade internacional, associada ao claro compromisso do povo timorense para com a democracia e o progresso", transformaram Timor num modelo para outros movimentos de independência.

"Há muito para celebrar, mas (...) a jornada não terminou com o reconhecimento pelas Nações Unidas (...) O país ainda tem pela frente muitos desafios e oportunidades, incluindo a construção de uma economia forte e diversificada e o desenvolvimento das instituições necessárias para prosperar como Estado independente. A longo prazo, atingir esses objetivos representa a melhor forma de enfrentar um terceiro desafio: o ressurgir da violência", diz Clinton.

Timor-Leste assinala a 20 de maio o décimo aniversário da restauração da independência, após uma consulta popular realizada em 1999 ter libertado a antiga colónia portuguesa de quase 25 anos de ocupação indonésia.

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