terça-feira, 24 de abril de 2012

OS TRAIDORES QUE MANDAM NA GUINÉ BISSAU




Celso Filipe* – Jornal de Negócios

É penoso escrever sobre a Guiné-Bissau. Penoso, porque a réstia de esperança que ainda existe no futuro do país, sucumbe perante os factos.

É penoso escrever sobre a Guiné-Bissau. Penoso, porque a réstia de esperança que ainda existe no futuro do país, sucumbe perante os factos. E os factos são estes. O narcotráfico tomou conta da Guiné, os militares exercem um poder ilegítimo para se preservarem, as elites manipulam o povo e os crimes cometidos ao longo de décadas têm ficado sem castigo. Ninguém acredita na Guiné-Bissau, a começar pela própria população, que reagiu com uma substantiva indiferença a mais um golpe de Estado.

Durante o primeiro período em que liderou a Guiné-Bissau, entre 1980 e 1998, Nino Vieira impôs um Estado policial e repressivo. E foi conseguindo manter a ordem através do medo e da aura de combatente destemido que conquistou, entre os seus pares militares, durante a guerra colonial. O golpe que o destituiu ressuscitou ódios antigos e recentes e fez com que grupos diversos, civis e militares, quisessem um quinhão do poder que Nino concentrava na sua pessoa. Esta fragmentação acabou por desencadear golpes e contragolpes, espancamentos brutais e assassinatos. Uma constante até aos dias de hoje.

Em Janeiro de 2003, o então presidente do país, Kumba Ialá, esteve presente num cocktail de inauguração de um voo trissemanal para Bissau. Ialá fazia-se acompanhar de uma numerosa escolta militar constituída por jovens inquietos e desconfiados, de olhos raiados pelo consumo excessivo de álcool e drogas. Ao lado, um português com muitos anos de Guiné avisava: "a estes nem se pergunta as horas, porque primeiro disparam e só depois é que respondem." Em Setembro desse mesmo ano, Ialá foi vítima de um golpe de Estado. Agora assina um acordo com os golpistas entre os quais, eventualmente, até estarão alguns dos que antes o derrubaram.

Pode-se apontar o dedo à comunidade internacional, da CEDEAO à CPLP, atribuindo-lhe uma quota de responsabilidade pela situação a que a Guiné-Bissau chegou. É fácil e admissível, mas não foram os estrangeiros (exceptuando os narcotraficantes) que colocaram o país no estado em que se encontra hoje. Os maiores culpados, são as elites guineenses, civis e militares, que não merecem o povo que têm. Quem quiser ajudar a Guiné-Bissau tem de exigir o afastamento de todos os que destruíram o país para seu benefício exclusivo. Amílcar Cabral, pai da independência, classificá-los-ia como traidores.

*Editor executivo
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

2 comentários:

Anónimo disse...

MAIS UM A DEITAR GASOLINA NA FOGUEIRA, EM NOME DA “DEMOCRACIA”!

1 ) As drogas não são da Guiné, nem das elites da Guiné: quando muito há alguns grupos que estão associados a uma corrente de interesses que vem de longe e vai para longe.

2 ) As moedas do tráfico de droga, não são da Guiné, salvo o minúsculo consumo local: são sobretudo o dólar norte americano e o euro!

3 ) Os meios utilizados no tráfico, na esmagadora maioria (barcos e aviões), não são da Guiné: são propriedade dos carteis e dos destinatários do tráfico.

4 ) A nível de África a Guiné Bissau é apenas um dos pontos de passagem: ao longo da costa ocidental africana há muitos outros, inclusive Angola; por que razão se evoca a Guiné Bissau, sem analisar a questão no seu conjunto?

5 ) Os principais transportadores de droga pertencem aos países ocidentais; a título de exemplo: são os meios militares da NATO e sobretudo dos Estados Unidos que levam a droga do Afeganistão para os seus principais centros de consumo - os países que compõem o Atlântico Norte!

6 ) Mesmo que sejam alguma vez desmantelados os grupos de traficantes da Guiné, outros tomarão o seu lugar, pois as raízes do problema não estão ali radicadas: ali apenas há uns poucos de tentáculos!

7 ) Em conclusão: o articulista está ao serviço dos expedientes de ingerência externa na Guiné Bissau: faz parte dos remédios que pretendem adoecer ainda mais o doente e não trazer-lhe a cura – é isso o que está a fazer a “imprensa independente de referência”, ao serviço das oligarquias e do imperialismo!

Martinho Júnior.

Luanda.

Anónimo disse...

DESPEJAM SOBRE A GUINÉ BISSAU O ÓNUS DA SUA IMPOTÊNCIA PARA ATACAR O MAL NA SUA RAIZ, NA MAIOR PARTE DOS CASOS DENTRO DE SUAS PRÓPRIAS CASAS!

ISSO É MESQUINHO E COBARDE!

AO CONDENAR OS NARCO TRAFICANTES DA GUINÉ BISSAU, HÁ QUE CONDENAR O TRÁFICO INTERNACIONAL E SOBRETUDO AS RAZÕES DE SUA EXISTÊNCIA!

O TRÁFICO DE DROGA É UM PRODUTO DO CAPITALISMO NEO LIBERAL, DO PERCURSO QUE FOI ESCOLHIDO PARA A GLOBALIZAÇÃO EM CURSO E SÃO ESSENCIALMENTE AS GRANDES POTÊNCIAS OCIDENTAIS QUE DEVEM SER CONDENADAS!

ALÉM DO MAIS, É LÁ ONDE SE ENCONTRAM OS MAIORES CENTROS DE CONSUMO!

Mais lidas da semana