quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cimeira europeia: CRESCIMENTO, A NOVA PALAVRA MÁGICA



Trouw, Amesterdão - Presseurop

Nas últimas semanas, a nova palavra mágica parece ser "crescimento". Mas como pode ele ser gerado? Embora ainda não tenha realmente surgido um debate prático sobre esta matéria, os projetos de infraestruturas poderiam, eventualmente, ser parte de uma solução para a crise. Excertos. Excertos.

Jan Kleinnijenhuis – imagem de Kopelnitsky

Este encontro informal de dirigentes dos governos da União Europeia em Bruxelas, em 23 de maio, não tem sido apresentado como uma cimeira de crise. No entanto, com a Grécia na iminência de sair da zona euro, o sistema bancário espanhol à beira da falência, taxas recordes de desemprego na União Europeia e uma economia europeia que não para de encolher, vamos mesmo chamar-lhe reunião cimeira em tempo de crise.

Segundo o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, o tema quente da cimeira será o crescimento. Esta é a nova palavra mágica em Bruxelas: praticamente todos os atores importantes na Europa já falaram da necessidade de crescimento económico. O Presidente francês, Hollande, fez dele o tema da sua campanha eleitoral, o que o ajudou a derrotar o seu rival Sarkozy. O chefe da Comissão Europeia, Durão Barroso, antecipa um trabalho perfeito para Bruxelas: grandes projetos de infraestruturas, que supostamente irão dar novo fôlego à economia europeia, sob a supervisão da sua comissão.

Krugman versus austeridade

Praticamente todos concordam que um maior crescimento económico pode ajudar a resolver o problema da dívida. A questão é como podem os governantes produzir o necessário crescimento. O semanário britânico The Economist comparou o crescimento económico à paz mundial: todos são a favor, mas todos têm uma opinião diferente em relação à forma como a paz deve ser alcançada.

A ciência económica também não proporciona quaisquer respostas. Desde que a crise financeira estourou, no final de 2008, com a queda do banco norte-americano Lehman Brothers, tem sido travado um debate entre economistas sobre a saída para a crise. Há basicamente duas opções: por um lado, os defensores de medidas de estímulo em grande escala por parte dos vários governos nacionais; do outro lado, as pessoas que preferem cortes rápidos nos gastos do governo.

A mensagem da chanceler Merkel de que os governos têm de baixar os seus défices é entendida como dogmática, enquanto os críticos apontam que os problemas só aumentaram, em muitos países do Sul, com a Grécia e a Espanha liderando o grupo. Fazer cortes em tempos de recessão só aumenta o mal-estar económico, contra-argumentam.

O mais importante proponente desta teoria é o norte-americano Paul Krugman, galardoado do Prémio Nobel. Nas suas colunas do New York Times, critica repetidamente os dirigentes dos governos europeus. Estes parecem acreditar que o crescimento económico não é possível sem dor (na forma de cortes). Segundo Krugman, essa visão moralista está moribunda e quanto mais depressa a Europa deixar esse caminho, melhor. Os resultados das eleições em França e na Grécia não o surpreenderam; são a prova de que os cidadãos europeus têm mais ideia de como sair da crise do que a maioria dos políticos.

A recessão japonesa

O exemplo avançado pelos adversários da política de estímulo é o Japão. No início da década de noventa, o Japão debateu-se com uma crise semelhante à de 2008 nos Estados Unidos e Europa.

Desde então, o Governo japonês vem tentando tirar a economia da descida, por meio de medidas de estímulo. Apesar de todo o dinheiro injetado na economia, isso não impediu o Japão de ter apenas um crescimento económico mínimo nos últimos vinte anos e de deslizar regularmente para a recessão.

Os adeptos do estímulo salientam que o Governo japonês não agiu até ser demasiado tarde. Nos primeiros anos após o rebentamento das bolhas, o Governo seguiu uma política de restrição fiscal, como a Europa está a fazer agora.

Mas mesmo se concordarmos em que fazer cortes durante uma recessão é prejudicial, isso ainda deixa a questão sobre onde deve o governo gastar o dinheiro extra. Os opositores apontam que o argumento do estímulo que manda o governo apoiar a procura na economia é a parte fácil. Mas a procura de quê? O governo não produz coisas, além de obras de infraestruturas, como estradas, diques e pontes. Aliás, muitas vezes é dessa forma que a economia é estimulada, na prática. Mas será que isso realmente melhora a economia?

Debate prático não está em curso na Europa

Peguemos na famosa história japonesa de uma ponte que custava dois mil milhões de dólares para proporcionar um melhor acesso a uma ilha com 800 habitantes. Este projeto permitiria ao Governo dar a um par de empresas de construção um suculento contrato e empregar temporariamente algumas pessoas; mas não aumentava a produtividade da economia.

Além disso, a questão é se estes projetos podem pôr a economia a funcionar – ou se os trabalhadores da construção não vão acabar de novo na bicha do desemprego, assim que a ponte estiver concluída e o governo não puder continuar a gastar dinheiro.

Este debate prático não está realmente em curso na Europa. A história da Europa está repleta de exemplos: as autoestradas em Espanha e Portugal, através das quais os turistas chegam aos seus destinos de férias, foram geralmente financiadas com dinheiro europeu. As regiões pobres continuam a ser apoiadas com dinheiro dos fundos estruturais da Comissão Europeia.

E é com isso que se parecem os planos cautelosos que já foram sugeridos para promover o crescimento na Europa: mais orçamento para o Banco Europeu de Investimento, para financiar grandes projetos, mais dinheiro para a Comissão, para expandir o trabalho atual.

Tem de ficar claro se os dirigentes governamentais acreditam que estas medidas serão suficientes para restaurar o crescimento económico na Europa. E, mais ainda, se vão estar preparados para puxar das carteiras.
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Economia: OCDE adverte contra "o círculo vicioso" da recessão

Num relatório publicado em vésperas do Conselho Europeu extraordinário de 23 de maio, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) chama a atenção dos europeus para a ameaça de uma "recessão grave" na zona euro, salienta o Süddeutsche Zeitung. Segundo este diário de Munique, a OCDE considera que:

A fraca conjuntura e o frágil sistema financeiro poderão originar um círculo vicioso, que talvez venha, inclusive, a atingir a Alemanha, o bom aluno da Europa. […] A força económica só poderá aumentar em 9%, em 2013, se a crise não se agravar.

A OCDE sugere, por outro lado, que os países em dificuldades económicas moderem as suas políticas de austeridade, como sublinha Die Welt:

A OCDE exige dos governos dos Estados em crise que encontrem soluções sociais que complementem as suas políticas de reformas e que tenham em conta os mais fracos das respetivas sociedades. Nos Estados com um crescimento fraco, os governos poderiam abrandar os seus esforços em matéria de política de austeridade, a fim de evitar a degradação contínua da economia.

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