Fernando Peixeiro, da Agência Lusa
Bissau, 11 mai (Lusa) - O golpe de Estado de abril na Guiné-Bissau foi até agora o de mais difícil resolução, de acordo com guineenses habituados à instabilidade no país, e nem a indicação de Serifo Nhamadjo para Presidente de transição conclui o processo.
Um mês depois do golpe de 12 de abril, são populares que recordam que outros períodos de instabilidade se resolveram mais depressa. Há um mês que o país vive uma situação confusa, envolvendo não só militares e políticos locais, mas também organismos internacionais.
Na última noite, uma delegação da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) propôs o presidente interino da Assembleia Nacional Popular (ANP), Serifo Nhamadjo, para Presidente de transição, mas tal não representa o fim do golpe.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, maior partido) não toma parte no processo e continua a exigir o regresso do Presidente e do primeiro-ministro depostos. O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai ainda apreciar o processo, na próxima semana.
O golpe perpetrado pelos militares teve a condenação unânime da comunidade internacional e começou por ser confuso sobre as causas. De acordo com os militares, a motivação foi a existência de um acordo para "liquidar" as forças armadas da Guiné-Bissau, mas em menos de uma semana a principal motivação passou a ser uma carta que o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, escreveu à ONU, a pedir uma força de paz.
Logo no dia a seguir ao golpe, os militares garantiram que não ambicionavam o poder e que o iriam entregar aos políticos. Passado um mês, são ainda os militares quem está ao comando e para a história deste mês ficam as intermináveis reuniões de políticos, e destes com militares.
Uma semana após o golpe chegaram a assinar um documento que previa a criação de um Conselho Nacional de Transição e dois anos para essa transição, após o que seriam realizadas eleições presidenciais e legislativas. O acordo não foi para a frente e os militares começaram a buscar uma solução junto do Parlamento. Porque, justificavam, o Governo tinha caído, mas o Parlamento não.
Internamente, o PAIGC, que estava no poder e que tem a maioria de assentos no Parlamento, exigiu desde sempre a reposição da ordem constitucional e o regresso ao poder de Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, Presidente e primeiro-ministro, presos e entretanto já libertados.
Mas externamente também sempre foi exigida a "reposição da ordem constitucional" (CEDEAO, União Europeia e União Africana, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e Nações Unidas.
Duas semanas depois do golpe, em Abidjan, Costa do Marfim, a CEDEAO deu 72 horas aos militares para satisfazerem uma série de exigências e decidiu o envio de um contingente militar. Uma posição de força manifestada também em Banjul, na Gâmbia, dias depois, já com Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior libertados (a 27 de abril, depois de mais uma reunião demorada no aeroporto de Bissau).
Na cimeira da CEDEAO seguinte, em Dacar, a organização oeste-africana deixa cair uma série de exigências, uma posição com a qual a CPLP não concordou. Como também internamente não concordou o PAIGC, ainda à espera de uma resolução favorável do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em Bissau, continuam hoje reunidos os ministros dos negócios estrangeiros da Nigéria e da Costa do Marfim com políticos e militares guineenses. O golpe de Estado foi há um mês.
"Reposição da ordem constitucional" e "tolerância zero a golpes de Estado" são duas frases que o marcam.
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