João Lemos Esteves – Expresso, opinião, em Blogues
1. A história das ameaças de Miguel Relvas a uma jornalista prossegue. Para além de um relacionamento estreito com a personagem chamada Jorge Silva Carvalho, Miguel Relvas tentou silenciar a jornalista que investigava as relações promíscuas e altamente atentatórias do Estado de Direito de Miguel Relvas com Jorge Silva Carvalho. Este é um episódio que mancha a democracia portuguesa e deve deixar envergonhado qualquer democrata: uma ditadura usa os dados pessoais dos cidadãos para controlar e chantageá-los politicamente. A nossa democracia, corporizada por políticos como Miguel Relvas, alia-se a interesses privadas e a personagens como Jorge Silva Carvalho para obter informações sobre a vida privada dos opositores políticos para os diminuir politicamente. Mudam os métodos; mantêm-se os objectivos e as práticas. Não há nada pior do que viver numa democracia liderada por pessoas com o carácter (ou falta dele) de Miguel Relvas e Companhia. Eu tenho medo desta gente: medo do seu "poder oculto", que através de ligações a empresas privadas e a organizações secretas têm acesso a informação que o Estado(pelo menos, um Estado que se respeite) deveria preservar e defender contra qualquer intromissão. Medo desta gente que se auto-convenceu que goza de uma impunidade ilimitada, podendo afastar, subverter a legalidade democrática conforme os seus interesses e conveniências privadas.
1.1. Entendamo-nos: Miguel Relvas não apresenta apenas defeitos, não é um "monstro" qe nasceu para assustar e amedrontar a nossa democracia. Devo, aliás, confessar que Miguel Relvas já mostrou qualidades políticas e legislativas: a reforma administrativa que empreendeu, no governo de Durão Barroso, ao nível das comunidades intermunicipais e Urbanas reflecte uma filosofia acertada. Todavia, o problema de Miguel Relvas - insistimos - é a sua falta de sentido de Estado, a sua deturpação da noção de interesse público e o seu comprometimento com interesses empresariais muito duvidosos. Relvas encara a política como a arte do domínio de certas pessoas ou categorias de pessoas que exercem um papel central na democracia, sobretudo na formação da opinião pública. A sua continuidade no Governo, após o episódio gravíssimo do Carvalhogate, só prova que Relvas será sempre um empecilho no governo de Passos Coelho.
2. Por último, esta ideia de remeter o processo para a ERC é muito original: como se sabe, a ERC é uma entidade reguladora (teoricamente) independente, mas o Governo intervém no processo de designação dos seus membros. Aliás, se verificarmos com atenção, os membros designados pelo executivo são pessoas próximas de Miguel Relvas. Por conseguinte, esta ideia do Governo (e da bancada do PSD) de rejeitar a audição de Relvas no Parlamento, remetendo o caso para a ERC é a forma encontrada para matar o assunto subtilmente. Aproveito, ainda, para acrescentar que a opinião divergente da directora do Público face à posição do Conselho de Redacção não causa estranheza: há redacções sobre as quais Miguel Relvas tem quase um poder paternal sobre elas, resultado de muitos anos a acarinhar jornalistas - Relvas considera que a melhor forma de conquistar e perpetuar o poder é dominar os jornalistas. Atenção: não assevero que os jornalistas do Público (ou o seu Conselho de Redacção) se encontram numa posição de subserviência face a Miguel Relvas, mas sei, por conhecimento pessoa, que há muito boa gente, no meio da comunicação social, que tem pavor (que se confunde em certos casos com admiração) de Miguel Relvas. Nós já conhecemos a decisão da ERC: nada se irá provar. E vamos continuar todos felizes e contentes, até à próxima jogada de Relvas, Silva Carvalho; Carvalho, Relvas - a dupla que melhor define o que é a nossa democracia actualmente.
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