domingo, 13 de maio de 2012

NA VANGUARDA DO SERVILISMO



Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues

A tese que vingou em Portugal sobre a forma de sairmos desta crise não foi a de que temos de organizar as nossas contas públicas. Não foi a de que devemos reduzir os custos de trabalho ou de contexto. Não foi a de que temos de crescer economicamente. Não foi a de que devemos renegociar a dívida. Não foi a de que devemos sair do euro. Não foi nem a tese neoliberal nem a tese keynesiana. Não foi a tese da austeridade nem a tese do investimento público. Foi aquela que não exige nenhum debate, nenhum esforço intelectual, nenhum confronto político: devemos fazer o que nos mandam fazer e estar caladinhos a ver se se esquecem de nós. Foi a tese do criado. "Não lhe pago para pensar", como dizem os patrões demasiado burros para suportarem as ideias dos outros.

Portugal ratificou o Tratado Orçamental. Aquele que, para além de definir vitaliciamente, sem ter em conta as variações do contexto económico e as necessidades de cada economia, os limites para o défice e para dívida, ainda decide como lá chegar, tornando o processo democrático e o parlamento em absolutas inutilidades. A pressa de parecer bem comportado foi tanta que fomos os primeiros fazê-lo. Os únicos a fazê-lo. Com a vitória de François Hollande muita coisa mudou na Europa. E o parlamento alemão adiou a aprovação do tratado. Ou seja, com a pressa de não ficarmos sozinhos, ficámos sozinho. São estas as tristes figuras que faz o capacho: no seu vanguardismo servil acaba por correr os riscos que queria evitar.

Entretanto, diz que Seguro e Passos andam zangados por causa de qualquer coisa. Cavaco Silva deixou um aviso: "Este é um tempo que requer muito bom senso e muita serenidade. Porque, diz o Presidente, os nossos dois principais ativos são o "consenso político" e o "consenso social". Consensos que, a existir, não resultam de qualquer desígnio nacional ou rumo para sair desta crise. Resultam apenas do medo. Ou seja, a nossa vantagem para sair da crise será a nossa anemia democrática. Francisco Van Zeller juntou a sua voz ao presidente e disse que "não podemos deixar o PSD separar-se do PS" (seria grave que os portugueses achassem que há alternativas) porque "se isso transparece lá para fora lá se vai um bocadinho da nossa credibilidade". "Lá fora" - como continua a nossa elite a ser tão deslumbrada e parola - podem julgar que isto é uma democracia e os partidos discordam uns dos outros. E isso é que não pode acontecer. Porque cada "bocadinho da nossa credibilidade" depende de parecermos indigentes na ausência de opiniões e servis na nossa obediência.

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