Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Aquela passeata a que Portugal chamou operação militar, e que deu o nome "Manatim", destinada oficialmente a um eventual resgate de cidadãos portugueses da Guiné-Bissau teve um custo de 5,7 milhões de euros.
Se calhar ficaria mais barato pagar exclusivamente umas férias aos cérebros portugueses que julgaram, como é habitual, que a montanha iria parir um gigante. No final, nem um rato foi parido e nem havia montanha.
No total, o envio da Força de Reação Imediata (FRI) portuguesa para amedrontar os supostos facínoras guineenses (se calhar Lisboa ainda julgava que era o Nino Vieira quem mandava) envolveu 1028 militares (684 no exterior e 344 em Portugal), quatro meios navais (duas fragatas, uma corveta e um reabastecedor) e dois meios aéreos.
Portugal é assim. De vez em quando tenta parecer o que não é. Ainda pensei que entre os meios navais também fosse um daqueles submarinos de última geração “portista”(de Portas). Mas não. Como era para a Guiné-Bissau, não havia necessidade de levar os pesos-pesados do arsenal lusitano.
O relatório apresentado aos deputados pelo ministro da Defesa, ouvido à porta fechada na Comissão Parlamentar, aponta a Marinha como o ramo com mais gastos nesta operação (4,3 milhões de euros), seguida da Força Aérea (957 mil euros). O Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) teve uma despesa de quase 400 mil euros e o Exército de 67 mil euros.
Para algum lado haveria de ir o dinheiro roubado aos portugueses de segunda. Foi, desta vez, para desenferrujar os meios bélicos com que os militares gostam de brincar em tempo de paz. E enquanto regressavam a África, cantando e rindo, não se lembravam do papel que eventualmente poderiam desempenhar dentro do próprio país.
Os mais de 5 milhões de euros gastos na "Operação Manatim", saídos dos bolsos dos portugueses, serão essencialmente acomodados pelos ramos com o cancelamento de exercícios de treino previstos para 2012.
"O montante que não for possível acomodar pelos ramos será acomodado pelo Ministério da Defesa com reforço das verbas para as Forças Nacionais Destacadas (FND)", refere o documento. Que descanso. O produto do roubo passa a ser acomodado. Não está mal, não senhor.
A FRI partiu a 15 de Abril para África e esteve em operação cerca de três semanas, tendo iniciado o regresso a Portugal (fase de retracção) a 4 de Maio, sem que tivesse havido – como todos saberiam que seria - resgate de cidadãos portugueses na Guiné-Bissau.
Na altura, o Ministério da Defesa disse ter tido em conta "as condições de segurança da comunidade portuguesa na Guiné-Bissau" e a situação de "abertura das fronteiras terrestres, marítimas e aéreas que tem permitido um fluxo normal de entradas e saídas do território".
Os guineenses, sejam os golpistas de ontem, os de hoje ou os de amanhã, são boas pessoas e não fariam mal aos portugueses. Só os que pretendem ser parcialmente imparciais podem duvidar disso. Mas fica sempre bem se forte com os fracos. A bem da nação… deles.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: Portugal poderia viver sem o MPLA? - Podia. Mas não era a mesma coisa!
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