quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Poder militar na Guiné-Bissau é permeável ao narcotráfico" - Paulo Portas



PSP - Lusa

Lisboa, 17 mai (Lusa) - O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, considerou hoje que o poder militar na Guiné-Bissau "é permeável ao narcotráfico" e manifestou-se convicto que a comunidade internacional irá conseguir um consenso sobre a situação política no país.

"Eu não tenho nenhuma dúvida. Todas as informações de que Portugal dispõe apontam para que, claramente, na origem deste golpe de Estado também está o narcotráfico e, ou a Guiné-Bissau tem condições para ser um Estado de Direito, ou a Guiné-Bissau fica sequestrada a um certo poder militar que é permeável ao narcotráfico" disse Paulo Portas.

O chefe da diplomacia portuguesa falava em conferência de imprensa, após uma reunião de mais de uma hora com o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, deposto no golpe de Estado de 12 de abril e que se encontra em Portugal desde quarta-feira.

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros o tráfico de droga é essencial para compreender os factos que estiveram na base do golpe de Estado e que deve ser levado em conta pela comunidade internacional.

"Um dos elementos essenciais que as Nações Unidas e as suas agências têm desenvolvido e que é muito importante para países como os Estados Unidos é fazer uma separação nítida entre os Estados e governos que são permeáveis ao narcotráfico e aqueles que, felizmente, o não são. Esta é uma chave de leitura e de explicação para o que aconteceu a 12 de abril", acrescentou Paulo Portas, sublinhando a posição de Portugal em relação a atual situação no país.

"Nós fomos, desde o início, na CPLP, inclusivos. Ou seja, desde o primeiro dia, as Nações Unidas, em que acreditamos, a União Africana, que é a organização continental, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, deviam ser parte da solução e ajudar a Guiné-Bissau a evitar este caminho, que é um caminho para a ilegalidade e para a arbitrariedade e que a nosso ver está relacionado com o narcotráfico", disse.

"Nós mantemos esta linha. É preciso que nas Nações Unidas o Grupo de Contacto entre as quatro organizações - ONU,CEDEAO, CPLP e União Africana - funcione e busque coordenação e chegue a um compromisso, sem o qual nós não vemos uma situação estável para a Guiné Bissau e eu creio que os factos nos dão razão porque a própria CEDEAO tem nos seus princípios fundadores a tolerância zero em relação a golpes de Estado", acrescentou Portas, referindo que é a "tolerância zero" que permite estabilidade e progresso do continente africano.

Por seu lado, Carlos Gomes Júnior disse que a Guiné-Bissau não pode servir de interposto para o tráfico de droga e que o país não pode lutar sozinho contra "organizações poderosas".

Carlos Gomes Júnior e Raimundo Pereira, presidente da República interino também deposto no golpe de estado de 12 de abril, estão em Portugal desde quarta-feira.

A CEDEAO designou Serifo Nhamadjo para Presidente da transição, até à realização de novas eleições dentro de um ano, e este nomeou na quarta-feira Rui de Barros para o cargo de primeiro-ministro, mas estas decisões foram contestadas pela restante comunidade internacional, que continua a exigir o regresso à ordem constitucional.

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