domingo, 13 de maio de 2012

REPARTIR A RIQUEZA E ENRIQUECER




Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

O crescente descalabro económico e social para que estão a ser conduzidos cada vez mais países europeus e, nos últimos dias, os impactos dos resultados das eleições na França e na Grécia têm aumentado o leque dos discursos que reclamam crescimento económico.

Tal reclamação representa, à partida, um ganho para as causas por que lutam os trabalhadores e os povos, mas os conceitos "crescimento económico" e "mudança" estão cheios de armadilhas.

Há quem queira crescimento para prosseguir e acelerar a concentração de capital; e quem o deseje articulado com uma melhor utilização e distribuição de riqueza ao serviço do bem comum, do combate à pobreza e às desigualdades, do desenvolvimento da sociedade.

A eleição de François Hollande (FH) traz-nos mudança, ao apear o aventureiro neoliberal Sarkozy do cargo de presidente da República de um grande país europeu. Mas as mudanças de que o povo francês e europeu precisam não estão adquiridas.

Tratou-se de uma vitória política e social das forças de Esquerda que pode propiciar a construção de políticas novas e alternativas, mesmo que bastante condicionadas. Para essa construção ser um facto, FH e o seu governo terão de, designadamente: ser capazes de gerir, com cuidado e firmeza, relações institucionais entre estados (desde logo com a Alemanha), e iniciar decididamente uma rutura com os compromissos inerentes ao que se vinha chamando de políticas MERKOZY; mobilizar a sociedade francesa respondendo aos seus justos anseios - mesmo que expressos em posições por vezes contraditórias; contribuir empenhadamente para dinâmicas políticas de Esquerda por toda a Europa, que alterem a atual relação de forças favorável à Direita, sob pena de, se não o conseguirem, ficarem manietados e corporizarem uma perigosa frustração.

Na Grécia assistimos a uma forte condenação das políticas de austeridade, que vêm amesquinhando o povo grego, povo que, entretanto, vai estar sujeito a todo o tipo de chantagens nas próximas semanas.

O poder financeiro e as forças conservadoras (e os que sobrevivem na gestão do neoliberalismo) receiam a hipótese de surgirem coligações sociais e políticas democráticas que rompam com os vergonhosos compromissos a que a Grécia está sujeita e iniciem caminhos novos. Mobilizando o povo para desencadear, de baixo para cima, uma transição que reconstrua solidariedades, crie emprego e reponha dimensões de proteção social.

Não sabemos se estas vias vão ser seguidas! Mas há razões para haver esperança e, acima de tudo, para, em cada país, se intensificar toda a ação transformadora possível.

Face a este desafio importa retomar as observações sobre a questão do crescimento.

Mário Draghi (pres. do BCE) e Durão Barroso reclamam crescimento económico, mas chantageiam-nos com as receitas de "reformas estruturais", que significam colocar ainda mais os estados debaixo da tutela do setor financeiro, prosseguir a destruição do Estado Social, eliminar direitos e segurança no trabalho, reduzir salários.

As reformas que há muito deviam ter sido feitas ao setor financeiro, colocando-o no seu lugar e criando meios de apoio à economia real, essas continuam adiadas. E jamais colocam em agenda políticas justas de utilização e distribuição da riqueza. Ora, falar de crescimento sem olhar o que se faz à riqueza criada é uma enorme armadilha.

No resumo do Relatório sobre o Trabalho no Mundo-2012, a OIT expressa que "as políticas que favorecem o emprego têm um efeito positivo na economia e a voz das finanças não deverá guiar a tomada de decisões". O Governo português faz o contrário!

Há, pois, que valorizar o emprego e colocá-lo no cerne da economia, com salários dignos. Assumir políticas fiscais justas e políticas de inclusão social, recompor capacidades e instrumentos do Estado que garantam direitos sociais fundamentais e impulsionem atividades económicas e produtivas indispensáveis, rechaçar a destruição dos direitos laborais e sociais, que é feita, cinicamente, em nome da justiça social. Combater medos e inseguranças e gerar confiança no Poder através de práticas de governação transparente, com ética, justiça e equidade.


2 comentários:

Anónimo disse...

A França vai afundar ainda mais, e este blog não comentará isso.

Página Global disse...

Se afundar... Por que não faremos constar aqui? Onde vai buscar essa perspetiva? Calro que constará aqui. Até V. pode desde já começar a escrever e a enviar o que pensa e sabe sobre o assunto. Fique à vontade. Ok?

Agradecidos.

Leandro V.

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