Eva Gaspar – Jornal de Negócios, com foto
Krugman diz que pode ser questão de um mês. "Adeus Acrópole" é a capa desta semana da "Der Spiegel". E são já precisas duas mãos para contar os governantes e banqueiros centrais que começam a falar abertamente do fim da Grécia no euro.
Durante estes mais de dois anos de crise, a saída da Grécia do euro foi sempre uma hipótese muito discutida no mundo académico, mas firmemente rejeitada pelo consenso político europeu, pelo menos no espaço público.
O impasse que se arrasta em Atenas para a formação do novo Governo terá alterado fundamentalmente os dados do jogo.
Divórcio à distância de meses?
O impasse que se arrasta em Atenas para a formação do novo Governo terá alterado fundamentalmente os dados do jogo.
Divórcio à distância de meses?
A Grécia sair do euro passou a ser para muitos economistas uma inevitabilidade que está já ao virar da esquina. Paul Krugman escreveu ontem que isso sucederá “muito possivelmente no próximo mês”, ao passo que Nouriel Roubini antecipa há já alguns meses que o divórcio acontecerá no início de 2013 (e seguir-se-á o de outros, entre os quais o de Portugal). Até aqui, nada de muitíssimo novo: sempre houve uma corrente de economistas, designadamente norte-americanos, para quem a saída da Grécia do euro (e, no limite, o fim do euro) sempre foi uma mera questão de tempo.
A principal reviravolta que se operou nestes dias foi na forma e no número cada vez mais alargado de políticos e de banqueiros centrais a abordar publicamente o cenário de saída da Grécia do euro.
Toda a retórica dos responsáveis europeus vai no sentido de responsabilizar a Grécia pelo seu destino.
“Queremos que a Grécia fique na Zona Euro. (…) Mas saber se fica ou não é uma decisão que está nas mãos da Grécia”, disse Guido Westerwelle, chefe da diplomacia alemã. “Se a Grécia decidir que não quer ficar no euro, não podemos forçá-la”, secundou ainda na semana passada o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que já esta manhã voltou a referir-se às “vantagens” da permanência no euro, mas também ao “esforço exigente” que essa opção significa. O chanceler austríaco, Werner Faymann afirmou, por seu turno, que “um qualquer país pode decidir sair do euro”, mas que é preciso que se tenha presente o que significa – e “isso é algo que os gregos devem ponderar”.
“Penso que um divórcio amigável – se for alguma vez necessário – será possível, mas irei sempre lamentá-lo”, afirmou Luc Coene, governador do banco central belga ao Financial Times, depois de o seu colega alemão e irlandês terem afirmado que, embora extremamente complexa e onerosa, a operação de saída de um país do euro é exequível.
“Podem acontecer coisas que não foram enquadradas nos Tratados. Tecnicamente, isso [saída da Grécia do euro] pode ser gerido. Não é necessariamente fatal, mas não é atrativo”, afirmou Patrick Honohan, governador do banco central da Irlanda, que referenda no dia 31 o Tratado orçamental.
“Penso que um divórcio amigável – se for alguma vez necessário – será possível, mas irei sempre lamentá-lo”, afirmou Luc Coene, governador do banco central belga ao Financial Times, depois de o seu colega alemão e irlandês terem afirmado que, embora extremamente complexa e onerosa, a operação de saída de um país do euro é exequível.
“Podem acontecer coisas que não foram enquadradas nos Tratados. Tecnicamente, isso [saída da Grécia do euro] pode ser gerido. Não é necessariamente fatal, mas não é atrativo”, afirmou Patrick Honohan, governador do banco central da Irlanda, que referenda no dia 31 o Tratado orçamental.
Imprensa anuncia saída
Hoje a revista alemã “Der Spigel”, mais próxima da social-democracia, na oposição, anuncia sem rodeios a iminência da saída da Grécia. “Adeus Acrópole” é a capa desta semana da revista que há precisamente um ano anunciou a reunião confidencial entre os ministros europeus das Finanças marcada pela intenção do então primeiro-ministro grego, George Papandreou, abandonar o euro por sentir que, na ausência de apoio político e popular ao programa de austeridade exigido pelos credores internacionais, não tinha outra opção.
Na altura, a revista escrevia que o ministro alemão ia tentar evitar que a Grécia abandonasse o euro e que teria preparado um dossiê alertando para as consequências dramáticas dessa decisão.
Na altura também, prevaleceu o discurso de que a Grécia era – e seria – parte do euro. Porque Atenas recuou na intenção de organizar uma consulta popular. Mas foi tudo sol de pouca dura.
A primeira brecha profunda na irreversibilidade do euro, consagrada nos Tratados, foi aberta meses depois, no fim do ano passado, quando os líderes europeus avisaram publicamente Papandreou de que o referendo que voltou a querer organizar sobre as condições da troika para a concessão do segundo empréstimo teria de ter consequências sobre a permanência do país no euro.
Papandreou voltou a ceder e saiu de cena, abrindo espaço a um governo de transição, integrando o Pasok e o Nova Democracia, que conseguiu um muito almejado acordo entre os dois grandes partidos sobre o programa de ajustamento que teria de ser seguido pela Grécia para que esta se mantivesse no euro e com um novo empréstimo externo.
As eleições de 6 de Maio voltaram, porém, a ressuscitar o velho dilema grego, depois menos de um terço dos votos ter ido para os dois partidos que dizem estar na disposição de implementar o pacote de austeridade acordado com a troika a troco de um segundo empréstimo externo e do perdão (já concedido) de metade da dívida pública grega detida por privados.
A mais recente sondagem confirma que 80% dos gregos querem permanecer no euro. Em contrapartida, no cenário de novas eleições, o Syriza, partido de extrema esquerda, seria o mais votado com um quinto dos votos. O partido defende a manutenção no euro, mas também a criação de 100 mil postos de trabalho na função públicas, e aumentos nos salários e pensões – ou seja, marcha atrás em medidas que a troika considera essenciais para travar a espiral de endividamento do país.
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