Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
Os traficantes de droga mexicanos conseguiram reduzir a Imprensa ao silêncio em várias regiões do país, com a sua política de terror contra jornalistas, incluindo recentes assassinatos particularmente atrozes, noticiou a agência AFP.
Pois é. Para grandes males, grandes remédios. Em Portugal os traficantes utilizam na sua actividade outros tipos de droga mas conseguem, igualmente, silenciar grande parte – talvez a esmagadora maioria – da Imprensa.
Durante os últimos cinco anos, "o poder dos traficantes de droga reduziu ao silêncio uma grande parte do jornalismo nacional", afirmou o presidente da Fundação de Jornalismo Buiendia e director da Revista Mexicana de Comunicação, Raul Omar Martinez.
Pelas ocidentais praias lusitanas trafica-se corrupção, influências, negociatas, serviços secretos, faces ocultas, furacões, BPNs, EDPs e similares. E como estão quase todos envolvidos nesse tráfico, o jornalismo acabou por ficar em silêncio sobre o essencial mas, é claro, glorificando o acessório.
Por alguma razão os donos dos jornalistas e os donos dos donos são, também, protagonistas e às vezes donos desse tráfico. E se uma mão lava a outra, as duas lavam o que for preciso.
Na semana passada, os cadáveres desmembrados de três fotógrafos foram descobertos, envolvidos em sacos de plástico, num canal na zona metropolitana de Veracruz, um porto no Golfo do México. Alguns dias antes, foi Regina Martinez, correspondente no Estado de Veracruz do semanário nacional "Proceso", a ser encontrada estrangulada na sua residência.
No reino luso os métodos são, apesar de muitos dos traficante quererem mesmo desmembrar alguns dos jornalistas que restam, algo diferentes. Os jornalistas que lutam são envolvidos nos sacos do desemprego, da marginalidade, da barriga vazia, das ameaças. Não morrem de uma só vez. Morrem aos bocadinhos.
Ao que tudo indica, os fotógrafos foram assassinados depois de terem sido convocados para um encontro. Um deles, Gabriel Huge, entregou a sua máquina fotográfica à sua irmã Mercedes antes de comparecer. "Eu penso que ele sabia o que o esperava", confiou Mercedes no dia do funeral do irmão.
Um jornalista local adiantou, sob anonimato, que as "convocações" de profissionais da comunicação social são uma prática dos traficantes de droga. Umas vezes, dão-lhes ordens sobre o que podem publicar, outras vezes agridem alguns, perante outros, por recusa de obediência. Os jornalistas comparecem frequentemente às "convocações" por receio de represálias contra as suas famílias.
Tudo se assemelha. Em Portugal os jornalistas são convocados pelos traficante e recebem ordens sobre o que podem publicar. Se não cumprirem (mas também eles têm medo de represálias) lá terão de ser castigados pelo sipaio de serviço (também conhecido por director) e, se não resultar, o chefe do posto manda-os para debaixo da ponte.
O Estado de Veracruz tornou-se desde 2008 um campo de batalha entre o cartel de Sinaloa e o dos Zetas. Tornou-se também, segundo os Repórteres Sem Fronteiras, um dos 10 locais mais perigosos do mundo para o exercício da profissão de jornalista. Desde o início de 2011, já aí foram assassinados oito.
O Comité de Proteção de Jornalistas (CPJ), baseado em Nova Iorque, atribui a situação no Estado de Veracruz a uma "combinação de negligência e de corrupção generalizada entre as forças de segurança".
Negligência e corrupção generalizada? Onde é que eu já ouvi isto?
Situação idêntica ocorre em Ciudad Juarez, cidade fronteiriça com os EUA, no Estado de Chihuahua. Em Setembro de 2010, depois do assassínio de outro fotógrafo, o jornal "El Diario de Juarez" publicou um editorial, dirigido directamente aos traficantes de droga, onde perguntava: "O que querem de nós? Que desejam que publiquemos ou que não publiquemos, para saber o que temos de fazer?"
Dias depois, o presidente mexicano, Felipe Calderon, anunciou um plano de proteção de jornalistas, mas os assassinatos continuaram. A Comissão mexicana dos Direitos do Homem contabiliza em 79 os jornalistas assassinados e em 14 os desaparecidos desde 2000.
Com uma impunidade estimada em 98,5%, as agressões aos jornalistas vão continuar, prevê o director da Amnistia Internacional no México, Alberto Herrera.
Com este cenário, alguém se atreverá a dizer a Cavaco Silva e a Pedro Passos Coelho que ou Portugal acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com Portugal? Não. Na melhor das hipóteses eles não ouvem a mensagem e matam o mensageiro para resolver a questão.
Creio, contudo, que a corrupção pode ser uma boa saída para a crise portuguesa. Isto porque, como demonstraram os empresários portugueses, é muito mais fácil negociar com regimes corruptos do que com regimes verdadeiramente democráticos e sérios.
Sendo que o caminho certo se define não em função da luta contra a corrupção mas, é claro, dos interesses económicos, Portugal só tem que continuar a estratégica luta encetada (honra lhe seja feita) por José Sócrates no sentido de fazer com que o país se torne o mais evoluído do norte de… África.
Quanto ao povo… bem, o melhor é torná-lo escravo. Sempre é fácil, barato e dá milhões.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: LOUVADA SEJA A DIVINA ISABEL DOS SANTOS
Sem comentários:
Enviar um comentário