terça-feira, 29 de maio de 2012

UE – DEIXEMOS DE TER MEDO DE NÓS PRÓPRIOS



Gian Paolo Accardo – Presseurop, em Editorial

Esta semana, mais uma vez, os europeus – e aliás não só eles – entregaram-se ao jogo do fazer medo, considerando como cada vez mais provável a hipótese da "Grexit". Segundo os analistas, que há meses se dedicam a dissertar sobre o porquê e o como de a Grécia dever sair da zona euro, chegou a vez de os políticos e os especialistas mandatados por estes últimos apresentarem as suas previsões, devidamente fundamentadas em cálculos, sobre a inevitabilidade desse cenário.

Na cimeira extraordinária informal de 23 de maio, os dirigentes europeus admitiram que a questão deixara de ser tabu e que estava a ser estudada, por cada um deles individualmente. Ao mesmo tempo, reafirmaram o seu desejo de que a Grécia continue na zona euro – desde que, evidentemente, honre os compromissos que assumiu com os seus credores.

E é precisamente esse o ponto central do problema: mais do que económica, a "Grexit" é uma questão eminentemente política. Tal como a da adesão da Grécia à zona euro, apesar de em Bruxelas, e não só, se ter consciência de que, à semelhança do que se verificara anteriormente no caso da Itália, Atenas não estava preparada.

Cabe portanto aos dirigentes europeus decidir se estão preparados para assumir os custos económicos – para os seus bancos e para os seus contribuintes – e políticos – perda de credibilidade da moeda única, explosão do modelo de integração europeu, abandono do "berço da democracia", para referir apenas alguns – da saída da Grécia do euro. Cabe aos seus homólogos gregos decidir até que ponto estão dispostos a respeitar os compromissos que assumiram ou, se pretenderem voltar atrás, como tencionam fazê-lo. A saída da zona euro não parece constituir uma opção, nem para os dirigentes gregos nem para a maioria dos seus eleitores.

E é precisamente porque os custos políticos e económicos da "Grexit" seriam demasiado pesados, tanto para os gregos como para os seus parceiros, que temos o direito de apostar numa abordagem mais "soft", que deveria ser delineada depois das eleições legislativas de 17 de junho, na Grécia e em França. Provavelmente, os europeus irão acabar por aceitar um – novo – reescalonamento da dívida grega, que permitirá que a população, esgotada por dois anos de dura austeridade, respire um pouco. Provavelmente governados por uma maioria inédita e vigiados de perto pela troika UE-BCE-FMI, os gregos serão forçados a reformar um Estado que se revelou injusto e ineficaz e a abandonar hábitos políticos cujas consequências saltam aos olhos de toda a gente.

* Gian Paolo Accardo é um jornalista italo-holandês, nascido em Bruxelas em 1969. Trabalhou como redator no Internazionale e no Courrier International e como correspondente da agência noticiosa italiana ApCom. É chefe de redação adjunto da presseurop.eu. Tem uma ligação no Twitter

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