Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
No dia 29 de Março de 2008, o primeiro-ministro do Timor-Leste, Xanana Gusmão, apelava aos doadores internacionais para implementarem uma estratégia para alterar "a situação de povo pobre em país rico".
Em 24 de Junho de 2007, Avelino Coelho, então candidato a primeiro-ministro pelo Partido Socialista Timorense (PST), afirmava que "a presença portuguesa em Timor-Leste era uma farsa" e que os líderes timorenses "mentem a Portugal" sobre a língua oficial.
Em Julho de 2009, o presidente da Repúblicade Timor-Leste, José Ramos Horta dizia, em entrevista à revista “Foreign Policy”,que o país tinha tem um plano de investimentos públicos para 10 anos que visava criar milhares de empregos e dotar o país de estradas e de um novo aeroporto.
A definição de Xanana Gusmão, também ex-presidente da República, não andava como não anda longe da verdade. O que ele deveria dizer é que o povo é pobre (e assim vai continuar se não mudar de políticos), que o país é rico e que alguns dos seus dirigentes são muito ricos.
"Creio que todos os parceiros de desenvolvimento de Timor-Leste consideraram que a mudança de estratégia que este governo apresentou pode mudar esta situação de povo pobre num país rico", afirmou o primeiro-ministro.
Este governo senhor Xanana Gusmão? Este governo fez o quê? Mudança de estratégia? Sim, para pior.
"As decisões não vão ser fáceis e fomos também alertados de que o programa é ambicioso. Sabemos disso", disse Xanana Gusmão, no final dessa reunião com os doadores, mais uma em que mais uma vez os pobres dos países ricos ajudaram os ricos dos países que embora ricos têm o povo na miséria.
Para essa reunião de doadores, o governo timorense preparou um documento em que expôs as seis prioridades de desenvolvimento para 2008, sob o título "Trabalhando em Conjunto para Construir os Alicerces da Paz e Estabilidade e Melhorar as Condições de Vida dos Cidadãos Timorenses".
Só o título diz tudo. Ou seja, que tudo ia ficar na mesma, tanto para os poucos que têm milhões, como para os milhares que têm pouco, ou nada.
Segurança pública, segurança social e solidariedade, política de juventude, emprego e criação de rendimento, aumento da eficácia dos serviços sociais e, por último, gestão limpa e eficaz constituíam (estamos a falar de 2008) as prioridades apresentadas pelo Executivo.
Até dava a impressão, que hoje se mantém, que Xanana Gusmão e José Ramos-Horta só agora chegaram ao país e que, por isso, nada têm a ver com o que foi, ou não, feito nos últimos anos.
Xanana Gusmão deu alguns exemplos do que o governo do país fez e pretende fazer para concretizar essas prioridades.
"O governo está a providenciar segurança jurídica sobre os direitos de propriedade, que vão, ainda este ano, fechar parte da lacuna existente" nessa área, anunciou o primeiro-ministro. Brilhante. Nada mais importante para um país em que o povo parece condenado a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer com fome.
"Para melhorar o sector público de prestação de serviços, estamos também a estudar formas mais eficientes de investimento do Fundo de Petróleo. Este está a aumentar gradualmente, havendo potencial para um maior aumento no retorno dos investimentos", afirmou Xanana Gusmão, como se este feito fosse da sua única responsabilidade.
"Como contrapartida da generosidade, mas também, e não menos importante, do apoio moral" dos doadores, Xanana Gusmão prometeu "garantir a transparência dos processos e dos financiamentos e a obtenção de resultados concretos e quantificáveis, como prova de bom desempenho".
A frase foi tirado dos manuais que têm uso generalizado, seja no Burkina Faso, em Angola ou, é claro, em Timor-Leste.
Mas seja. Com a habitual cobertura da comunidade internacional, Timor-Leste irá continuar à deriva, cantando e rindo, lavado, levado sim, pela mão dos donos…australianos. Com figurantes, de baixo custo, continuam a existir os portugueses, sempre solidários com quem está no poder.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: RELVAS AMIGO, OS JORNALISTAS ESTÃO CONTIGO!
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