Federico Mastrogiovanni, Cidade do México – Opera Mundi
Em uma sociedade sufocada pela violência, movimento espontâneo arrebata as estruturas do país
No México, a campanha para as eleições presidenciais de 1 de julho caminhava sem emoções. Após um mandato de cinco anos de Felipe Calderón, conquistado após suspeitas de fraude e marcado pelo salto da violência do crime organizado, a população parecia apática. Até que chegou o dia 11 de maio. Em uma universidade privada, aos gritos de “Assassino!” e “Fora daqui”, centenas de estudantes da UIA (Universidade Iberoamericana), instituição jesuíta bastante influente e considerada um baluarte conservador, expulsaram o candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Enrique Peña Nieto.
Dali em diante, um movimento espotâneo, denominado “Yo Soy 132” (Eu sou 132), arrebatou o México. Predominantemente juvenil, apesar de reunir integrantes de todas as camadas da população em seus protestos – nas ruas e nas redes sociais –, a movimentação que surpreendeu o país acendeu as esperanças de que uma “primavera mexicana” está em curso.
Tido pela grande maioria dos meios de comunicação mexicanos como o favorito, até antes da campanha presidencial, Peña Nieto foi pego de surpresa. Os estudantes lembraram os seis anos do massacre de Atenco, quando uma operação policial no Estado de México, cujo governador era o presidenciável, deflagrou uma repressão brutal para desarticular a FPDT (Frente de Povos em Defesa da Terra) em sua luta contra a construção de um aeroporto em Texcoco. Dois jovens foram mortos e mais de 207 presos. Quarenta e sete mulheres foram violentadas sexualmente, de acordo com a CNDH (Comissão Nacional de Direitos Humanos). Nenhum dos culpados foi punido.
O PRI reagiu ao ataque a Peña Nieto e acusou a universidade de ter sido manipulada por um grupo de provocadores e inimigos políticos infiltrados. Os principais meios de comunicação fizeram coro. Em resposta, 131 estudantes gravaram um vídeo em que mostram a carteira de estudante, desmentindo as acusações. Em questão de horas o “Yo Soy 132” eclodiu na web e manifestações contra Peña Nieto e os meios de comunicação hegemônicos foram agendadas.
“Sou bonita, mas não idiota!” dizia a faixa de Karina, vestida com roupas de marca. Com um sorriso no rosto, a estudante da UIA explica porque foi à marcha de quarta-feira (23/05), em repúdio à imprensa: “Essa é a primeira vez que participo de um movimento como esse. Sou de uma geração que cresceu nas redes sociais e em um país oprimido por informações manipuladas. Quando percebemos como Peña Nieto e suas emissoras quiseram esconder nossa indignação, a resposta surgiu automaticamente”, contou ao Opera Mundi.
A jovem ressaltou que a onda de protestos é ainda incipiente, mas lembrou que pode crescer ainda mais. “É evidente que as reivindicações são muitas, mas finalmente saímos às ruas para expressá-las juntos. Penso que existem ainda mais pessoas que querem mudanças neste país, muito mais do que os que estão aqui [na marcha]. O futuro é nosso e já se foram os tempos de autoritarismo.”
Já são milhares de estudantes e jovens nas ruas do país sob o grito de “Estudantes informados, jamais manipulados”. Organizada nas redes sociais com a ajuda do Twitter, Facebook e Youtube por alunos de universidades públicas e privadas, a mobilização estudantil das últimas semanas representa o evento mais interessante da campanha presidencial. As mobilizações se repetem em vários estados: #Yosoy132 #Córdoba #Guadalajara #Jalapa #León #Pachuca #Puebla #Querétaro #Saltillo #Tijuana são as hashtags mais usadas no Twitter.
Peña Nieto recebeu críticas dos estudantes da Ibero e não soube contestá-las. Defendeu sua decisão repressora em Atenco afirmando que, “nesse caso, tomou a decisão de usar a força pública para recuperar a ordem e a paz”. No final do evento, sob as vaias dos jovens, chegou a se esconder em um banheiro da universidade antes de escapar pelas portas dos fundos.
A jovem ressaltou que a onda de protestos é ainda incipiente, mas lembrou que pode crescer ainda mais. “É evidente que as reivindicações são muitas, mas finalmente saímos às ruas para expressá-las juntos. Penso que existem ainda mais pessoas que querem mudanças neste país, muito mais do que os que estão aqui [na marcha]. O futuro é nosso e já se foram os tempos de autoritarismo.”
Já são milhares de estudantes e jovens nas ruas do país sob o grito de “Estudantes informados, jamais manipulados”. Organizada nas redes sociais com a ajuda do Twitter, Facebook e Youtube por alunos de universidades públicas e privadas, a mobilização estudantil das últimas semanas representa o evento mais interessante da campanha presidencial. As mobilizações se repetem em vários estados: #Yosoy132 #Córdoba #Guadalajara #Jalapa #León #Pachuca #Puebla #Querétaro #Saltillo #Tijuana são as hashtags mais usadas no Twitter.
Peña Nieto recebeu críticas dos estudantes da Ibero e não soube contestá-las. Defendeu sua decisão repressora em Atenco afirmando que, “nesse caso, tomou a decisão de usar a força pública para recuperar a ordem e a paz”. No final do evento, sob as vaias dos jovens, chegou a se esconder em um banheiro da universidade antes de escapar pelas portas dos fundos.
A resposta dos principais meios de comunicação foi imediata. Encabeçados pela Televisa, a principal emissora do México, acusaram os estudantes de terem sido pagos pelo candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, e de terem agido como provocadores antidemocráticos. Além disso, alguns expoentes do PRI chegaram a ameaçá-los. Esse foi o caso do líder nacional do partido, Pedro Joaquín Coldwell, que disse que “esses jovens provocadores pagos para importunar deveriam ser investigados”.
Raúl, estudante do ITAM, diz desejar destacar o caráter amplo da luta estudantil. “Todos somos estudantes e não massa de manobra. Queremos estimular a consciência crítica por meio da cidadania e de uma informação livre e respeitosa com a realidade. Assim, cada um poderá eleger livremente o que quer. Mas deve haver informação livre. Este movimento está aqui para denunciar todo tipo de prática jornalística de ‘desinformacão’”.
Em meio a uma campanha eleitoral que era tida como decidida de antemão, dado o orçamento do PRI, os fundos de seu candidato, e o apoio da Televisa, os estudantes surgiram na opinião pública em resposta a um fato que parecia marginal.
Raúl, estudante do ITAM, diz desejar destacar o caráter amplo da luta estudantil. “Todos somos estudantes e não massa de manobra. Queremos estimular a consciência crítica por meio da cidadania e de uma informação livre e respeitosa com a realidade. Assim, cada um poderá eleger livremente o que quer. Mas deve haver informação livre. Este movimento está aqui para denunciar todo tipo de prática jornalística de ‘desinformacão’”.
Em meio a uma campanha eleitoral que era tida como decidida de antemão, dado o orçamento do PRI, os fundos de seu candidato, e o apoio da Televisa, os estudantes surgiram na opinião pública em resposta a um fato que parecia marginal.
União
Na marcha estão todos presentes: estudantes da Ibero com os da UNAM, do Instituto Politécnico Nacional, da Universidade Autônoma Metropolitana, da Universidade Autônoma da Cidade do México, do Claustro de Sor Juana, da TEC de Monterrey, do ITAM e da ANÁHUAC. Todos unidos em uma crítica à manipulação da informação, à desonestidade dos meios de comunicação e ao apoio dado por eles a Peña Nieto. Camponeses de Atenco, atacados em 2006 por Peña Nieto, também participaram.
Alberto Navarrete, estudante da Ibero, explica, erguendo seu cartaz: “O monopólio televisivo idiotiza! E Peña Nieto, além de ser ignorante e repressor, não está à altura de governar este país. Não sou de esquerda, nunca votei na esquerda. Só estou farto dessas mentiras, dessa arrogância e ignorância. Não somos minoria. Se levarmos em conta os jovens com idade entre 18 e 30 anos, somos a maioria no México e vão ter que nos escutar”.
História
História
De fato, quase toda a totalidade da população nasceu em um México priísta quando, de 1929 a 2000, o presidente designava seu sucessor, e as eleições era um mero trâmite. Contudo, nas duas últimas eleições, outro partido conseguiu chegar ao poder, o PAN (Partido da Ação Nacional). A "transição à democracia", como foi chamado o momento no México, não trouxe ganhos sociais e colocou o país em um espiral de violência.
Com essa conjuntura, o PRI pretendia captar o voto jovem. Um em cada quatro eleitores tem menos de 29 anos e mais de 13 milhões votarão pela primeira vez. No entanto, a reação dos estudantes a Peña Nieto mostra que não se esqueceram da história e que são, de fato, um nicho de voto poderoso.
De acordo com o professor Lorenzo Meyer, docente do Colégio do México, presente à marcha de quarta-feira, “um incidente trivial” na Ibero trouxe tudo à superfície, quase como o que aconteceu na Tunísia, quando Mohammed Bouazizi, farto da repressão se imolou e desencadeou uma revolução. “No mínimo, estamos diante de uma primavera mexicana”, sentenciou Meyer.
Na opinião do jornalista da publicação semanal Proceso Jenaro Villamil tudo é muito claro: “A primavera mexicana, ainda que muitos digam o contrário, é um movimento antiautoritário, como a primavera de Praga, como o maio francês, como a primavera árabe. Estão conduzindo uma mobilização contra o autoritarismo, algo que não mudou neste país com a estrutura monopólista da informação”.
Com essa conjuntura, o PRI pretendia captar o voto jovem. Um em cada quatro eleitores tem menos de 29 anos e mais de 13 milhões votarão pela primeira vez. No entanto, a reação dos estudantes a Peña Nieto mostra que não se esqueceram da história e que são, de fato, um nicho de voto poderoso.
De acordo com o professor Lorenzo Meyer, docente do Colégio do México, presente à marcha de quarta-feira, “um incidente trivial” na Ibero trouxe tudo à superfície, quase como o que aconteceu na Tunísia, quando Mohammed Bouazizi, farto da repressão se imolou e desencadeou uma revolução. “No mínimo, estamos diante de uma primavera mexicana”, sentenciou Meyer.
Na opinião do jornalista da publicação semanal Proceso Jenaro Villamil tudo é muito claro: “A primavera mexicana, ainda que muitos digam o contrário, é um movimento antiautoritário, como a primavera de Praga, como o maio francês, como a primavera árabe. Estão conduzindo uma mobilização contra o autoritarismo, algo que não mudou neste país com a estrutura monopólista da informação”.
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