sábado, 23 de junho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Israel

O jornalista do Haaretz, Uri Blau, foi acusado no passado mês de espionagem por estar em posse de informação que o Estado de Israel considera ser documentação classificada. Os assuntos relacionados com a defesa, as relações exteriores e as operações militares, ocupam um lugar central na vida pública de Israel. Para que esses temas possam ser debatidos têm de ter espaço de divulgação. Para poderem ser divulgados, de forma séria, as informações confiáveis provêm de fontes que estão ao nível de altos funcionários diplomáticos, políticos e militares. Tal informação para os media têm de ser sustentadas por documentação.

Ora qualquer documentação, em Israel, é classificada em algum nível, o que provoca situações difíceis aos media que divulgarem essas noticias. Blau obteve a informação de uma fonte. Os documentos encontrados em sua posse eram para uso do seu trabalho, para comprovar as informações concedidas pela fonte. Mas o Shin Bet, a contrainteligência militar israelita, acusa Blau de divulgar informações secretas e de não devolver os documentos que se encontram na sua posse. O resultado final destas medidas extremas de segurança representam um duro golpe na liberdade de informação e impedem os media de cumprir o seu dever de informar. As verdades oficiais passam a ser sagradas e a segurança e a defesa passam a sobrepor-se á soberania popular.

Este é mais um passo para derrubar as ténues e frágeis (mas históricas) barricadas democráticas que ensombram a elite sionista que pretende instaurar um estado de apartheid, por cima da vontade dos povos de Israel e da Palestina. Não ver, não ouvir, não falar eis o slogan da corja sionista. Amanhã ensaiarão o não pensar.

Ausência

Sublime a poesia do amanhecer. Laissez-faire indomável, maresia, acto simples do acontecer incontornável. Sublime poesia o teu beijo, pura heresia de pele, carne e desejo.

Palestina

Mahmoud Sarsak e Akram Rikhawi cumprem uma prolongada greve de fome (80 e 60 dias, respectivamente), em prisões israelitas. O estado de saúde destes dois prisioneiros palestinianos inspira grandes cuidados, mas o Serviço Penitenciário de Israel (IPS) recusa as visitas de médicos independentes da organização Médicos pelos Direitos Humanos, Israel (PHR-Israel) que iniciou uma campanha de solidariedade para com os dois prisioneiros. No entanto um tribunal israelita deu um prazo de 12 dias ao IPS (que terminaram em 12 de Junho) para permitir a visita e as respectivas acçöes dos médicos da PHR.

Mahmoud Sarsak, 25 anos, do acampamento de refugiados de Rafah, na Faixa de Gaza, membro da selecçäo palestiniana de futebol, foi detido em 22 de Julho de 2009 no controlo militar de Erez, quando se dirigia a um treino da selecçäo palestiniana no campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia. Pela Unlawfaul Combatants Law (UCL) os palestinianos de Gaza podem ficar encarcerados durante tempo ilimitado, aguardando julgamento. Iniciou a greve de fome a 19 de Março de 2012. Foi transferida da sua cela em Ramleh, para a clinica da penitenciária e foi-lhe prometida a sua libertação a 1 de Julho, se terminasse de imediato a greve de fome. Como Sarsak insistiu num acordo por escrito e assinado por ambas as partes, a oferta foi-lhe retirada e reconduzido á sua cela. Segundo o seu advogado, Sarsak está muito debilitado e mal consegue falar.

Akram Rikhawi, também de Gaza, foi detido a 7 de Junho de 2004 e condenado a 9 anos de prisão. Sofre de diabetes, asma e osteoporose e iniciou a sua greve de fome a 12 de Abril. A PHR tenta visitá-lo desde 6 de Maio, alegando o quadro clinico cronico de Rikhawi, mas a visita foi sempre negada.

Ausência

Desejar a verdade, aspirar á divindade. Verdade, mentira, omissão...Omitir para não fugir á verdade...Será a omissão uma mentira semântica?

Astúrias

A greve dos mineiros asturianos contra as medidas do governo espanhol de realizar um corte de 64% nos subsídios atribuídos ao sector mineiro, o que implica o fecho das minas, mantem-se desde há um mês. As barricadas são erguidas, seja em locais como Santiago de Aller, em Caborana, seja nas cidades de Leon e Palencia. Os mineiros cortaram estradas e ocuparam as minas, enquanto os confrontos com a Guarda Civil tornam-se uma práctica quotidiana. Em Caborana os piquetes de trabalhadores cortaram a estrada. O governo ameaça com represálias e pesadas penas para os mineiros e os que os apoiarem, mas um facto é que as forças governamentais não têm controlo em muitas áreas da região mineira. As confederações sindicais (UGT, CCOO) convocaram uma marcha sobre Madrid, mas os mineiros enviarão apenas 200 delegados eleitos por sectores regionais, pois não se sentem representados pelas mesmas, apesar de negociarem com os delegados das centrais sindicais.

A intenção da direita espanhola de criminalizar as reivindicações dos mineiros não surtiu qualquer efeito a não ser que estes cubram a cara durante as manifestações e por detrás das barricadas nas escaramuças com a Guarda Civil. Além do mais a solidariedade com os mineiros alastra, não só em Espanha como por toda a UE. Os sindicatos britânicos do sector do carvão já enviaram donativos e bens para as famílias dos mineiros, enquanto os sindicatos italianos, belgas, noruegueses e franceses enviaram observadores e criaram campanhas de apoio, iniciando uma conta solidária: Caja Espana (CC 2096-0000-85-3472463104).

Ausência

Recordas as flores? (Aquelas que roubei para ti...). Recordas as cores (tantas eram que já não sei...) das flores que ofereci? Hoje não tenho flores pois o meu desejo, vás para onde fores, é roubar-te um beijo.

Aqui, algures no Mali, não há flores. Aqui há deserto, há nómadas, cavalos, camelos, cabras e carneiros em busca de água e pastagens. Alá está aqui neste movimento cíclico, sazonal, de dispersão na busca, concentração no encontro... Curioso: omitir é manter a pureza dos segredo...Revela-se a omissão, somente o acto de omitir.

União Indiana

Aruna Roy, uma activista politica e social, trocou a sua carreira no Indian Administrative Service, em 1975 pelo activismo social. Focou a sua atenção em Rajasthan, onde estabeleceu o Mazdoor kisan Shakti Sanhatan, em 1990, uma organização que trabalha pela formação, melhoria das condições de vida, apoio social e capacitação de trabalhadores e camponeses. Em 2000 foi-lhe atribuído o prémio Ramon Magsaysay, pelo seu papel junto aos trabalhadores e aldeãos, na sua luta por uma vida melhor.

Aruna Roy tem perfeita consciência que o desenvolvimento das economias emergentes não é para os mais necessitados. As políticas seguidas na India não chegam às populações mais necessitadas. Desde a independência os sucessivos governos têm tratado as populações de muitas regiões de uma forma punitiva. Muitos funcionários governamentais, do governo central ou dos governos locais, associados a sectores da burguesia nacional e das réstias dos grandes senhores agrários, retiram as terras às populações tribais e rurais, estabelecendo depois uma relação senhor-servo.

Muitos activistas são perseguidos e detidos. É o caso de Binayak Sen, detido por acusação de ser um simpatizante maoista. Outro dos grupos perseguidos são os missionários cristãos, que trabalham ao nível escolar e dos primeiros cuidados de saúde, geralmente perseguidos pelos fanáticos da extrema-direita Hindu, que os acusam de “contaminar” as populações locais com ideias ocidentais. Mas o problema agravou-se nos últimos anos, quando se concluiu que a cintura tribal corresponde á cintura mineira da India. Aí vieram as multinacionais, a burguesia nacional e as parecerias publico privadas.

Bihar, Bengala, Orissa, Andhra Pradesh, Chhattisgarth, Jharkhand e Maharashtra, säo as regiões que compõem a cintura mineira, mas simultaneamente as regiões milenárias da cintura tribal. O governo indiano cria diariamente legislação para “limpar” as florestas, retirar as populações e privatizar a terras. As populações revoltam-se e lutam pelas suas terras, organizando-se em milícias populares, que integram o Exercito Popular de Libertação, braço armado dos maoistas. A revolta acaba-se por estender a toda a cintura mineira e o governo responde com mais repressão. Em alguns casos os trabalhadores mineiros fizeram greves contra as péssimas condições de trabalho e acabaram por ser fortemente reprimidos, despedidos e acusados de maoistas. O estado de Chhatisgarh transformou-se num estado policial, dominado por leis antidemocráticas, onde os trabalhadores não podem fazer greve e milícias privadas, a soldo das companhias garantem a segurança nas unidades extractivas.

Perante esta situação não há grandes possibilidades de negociação, sendo a luta armada a opção mais viável. No entanto alguns grupos, como “Citizens for Peace” tentam conduzir as reivindicações e a defesa da terra por meios pacíficos, explorando brechas no poder judicial e negociações politicas. Só que a legislação recente, criada para defender as multinacionais e os investidores nacionais, mais as medidas policiais fortemente repressivas, dificultam o trabalho destas organizações, que acabam por pedir, muitas das vezes a protecçäo dos guerrilheiros maoistas.

O grupo de Aruna Roy tenta a todo o custo a exploração da via pacífica, realizando grandes campanhas de sensibilização da opinião pública e levando o problema às grandes cidades, embora esta tarefa seja cada vez mais complexa e em alguns casos é levada a cabo em condições de semiclandestinidade.

Fontes
Alberto Pradilla; La cuenca asturiana se paraliza y los mineros preparan más movilizaciones; http://www.gara.net

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