quarta-feira, 27 de junho de 2012

Angola: A NAÇÃO LUNDA EM COLÓQUIO NA FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES




 O Página Global tem abraçado a divulgação da luta da Nação Lunda pela autonomia como opção alternativa de dar voz aos que são relegados para o silêncio pelas Agências de Informação que servem fielmente os objetivos traçados por governos que nos deixam sérias dúvidas sobre as suas práticas democráticas.

Ao serviço desses governos encontramos chamados jornalistas que recheiam a comunicação social em postura de atentos, venerandos e obrigados a serem meros escribas de “verdades” oficiais de sistemas políticos degradantes e desrespeitosos do direito de formar e informar que deve sempre assistir os que compõem as redações de órgão de comunicação social. A nosso ver a luta pacifica e até hoje perceptivelmente democrática em defesa da Nação Lunda tem tido por destino o silencio das agências de informação de Angola e/ou de Portugal. Nada de novo nesta atitude porque o servilismo da Angop e da Lusa é por demais conhecido em relação ao governo corrupto e assassino de JES-MPLA. Só não calam o que é por demais evidente ser impossível de calar.

Esses escribas, operativos constituintes dessas e de outras agências, tementes de “perderem os empregos”, vêm adulterando de forma grave os seus desempenhos profissionais, cometendo o pecado de contribuírem para muitos dos défices de democracia que constatamos existirem em imensos países do mundo. E em Angola também, principalmente. Jornalistas?

Por todo este fim de semana o Página Global vai libertar e publicar textos de divulgação referentes à Nação Lunda que acumulámos por via de anomalias que tivemos e nos dificultavam o manuseamento do blogue. Por essa razão pedimos aos nossos leitores que não estranhem deparar com textos mais longos do que é habitual. Sugerimos que se interessem em compreender a luta pela autonomia da Nação Lunda. (Redação PG)

Muatchissengue Watembo Rei da Lunda no Colóquio sobre Direitos Humanos, Fundação Mário Soares, em Lisboa, Maio 2004

Declaração de Sua Majestade Rei Muatchissengue Watembo

8 Anos depois, o que mudou dentro da Nação Lunda?

Principal riqueza de uma região é o seu Povo. Mas, no Leste, o povo está a ser vítima da ganância pelos diamantes. Os sectores da saúde e da educação são os principais indicadores que reflectem a condição social de um povo e o nível de aplicação dos seus recursos para o bem-estar comum. Os pequenos indicadores que acima apresentei, demonstram que os filhos do Leste estão a ser lançados para a escuridão total do obscurantismo e da ignorância.

Por isso, às vezes, as pessoas em Luanda, dizem que os Tchokwes e outros povos da região são matumbos. Essa é a linguagem da capital de um suposto pais chamado Angola de invenção recente e de criação dos Portugueses sem consultar os Povos que aqui vivem. Os outros são matumbos, não é? Então se o governo não dá escolas aos Tchokwes, como é que podem estudar para deixarem de ser atrasados? Eu pergunto aos senhores que manipulam o dinheiro dos diamantes, dos petróleos e com o nosso destino se isto está certo? Na região Leste, mais de 88% das pessoas são analfabetas.

Como o soberano legítimo da Lunda-Tchokwe digo: não há sequer uma escola primária ou um posto médico, lá onde vivo. Os meus filhos não estudam. Amanhã receberão o meu poder tradicional sem qualquer educação. Isso é muito grave. Estou em crer que o mesmo acontece com os meus irmãos de Pungo-a-Ndongo, Ekuikui IV, a Nhakatolo Tchilombo e Bakongo.

Baixo a ocupação não desejável do MPLA, o desemprego ultrapassa os 90% da força de trabalho. Nas Lundas, as pessoas praticamente sobrevivem do garimpo ou da candonga de comprar mercadorias em Luanda e revender lá nas praças a preços exagerados. As Lundas são a região mais cara, por causa dos diamantes, apesar de serem as mais empobrecidas do país, ao lado do Moxico e Kuando-Kubango.

Os diamantes têm sido explorados no subsolo das Lundas, por parte da Endiama, Sociedade Mineira do Lucapa, Sociedade Mineira do CATOCA, Projecto Luô, SOMINOL, ASCORP, as dragas dos generais do exército do Regime não eleito do MPLA, os Ministros corruptos do Regime não eleito do MPLA e outros que operam nas áreas do Cafunfo, Cuango, Calonda, Lucapa, Nzaji, Chitotolo, Catoca, Cucumbi, Capenda-Camulemba, Cuilo e Luangue, para não citar outras localidades, serão para o bem das populações ou da nação colonial do MPLA?

Tem-se falado muito na atribuição de 10% das receitas de imposto sobre a venda de diamantes para benefício das populações da região Leste. O povo não conhece a verdade sobre esse assunto, porque ninguém explica como é que se está a governar para o bem-estar das populações. A miséria é cada vez maior.

Por exemplo, o Hospital, em Saurimo, só faz consultas a olho nú. Praticamente não tem laboratório. Para se fazer um raio-X ou qualquer análise tem de se ir aos postos médicos privados ou dos missionários de Caluquembe. Para aqueles que trabalham no Catoca têm o privilégio do posto médico da empresa.

Outro exemplo é a instalação do núcleo universitário de Saurimo numa escola de professores do IIIº Nível. Pintaram a escola e puseram lá a correspondente da Universidade Agostinho Neto. Portanto, menos uma escola para dar lugar a outra. É como fazer funge sem conduto. No mundo inteiro não existe um povo sem cultura, usos e costumes como símbolos da sua dignidade humana, com que Deus abençoou cada grupo etnolinguístico.

A tradição Tchokwe é apreciada no mundo inteiro, menos em Luanda, onde praticamente só se aplaudem os cantores brasileiros e procura-se abafar aquilo que é a essência da nossa identidade. Basta verificar que o Museu do Dundo, que era um grande símbolo cultural do Leste, e de outras regiões em geral, está abandonado. Muitas peças de arte foram roubadas e vendidas na Europa.

Em Luanda, muita gente que se diz civilizada, estranha quando alguém fala Kikongo, Umbundu, Ibinda e outras línguas maternas. Dizem que são línguas do mato e de matumbos. O colono dizia que eram línguas de cão. Nos obrigam a falar apenas o português, com sotaque de Lisboa, como língua de unidade nacional de um pais imaginado e engendrado por eles sem conhecimento nem respeito pelas fronteiras e Povos Naturais Africanos.

Por isso é que estamos assim, sem rumo nem liderança que nos indique um caminho para o bem e para a harmonia entre todos os Africanos. O país artificial que temos é de improviso e para aqueles e rejeitam a cultura do seu próprio povo.

Eu, Muatchissengue Watembo como Rei, tenho o dever Constitucional Hereditário de Defender a cultura, tradição e Historia do Povo Lunda Tchokwe que Represento.

Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe


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