segunda-feira, 2 de julho de 2012

Brasil: Ministro alemão da Economia pede fim de barreiras comerciais brasileiras



Deutsche Welle

Na abertura do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Frankfurt, ministro Philipp Rösler acusou Brasil de protecionismo e disse depositar grandes esperanças na presidência brasileira do Mercosul.

Brasília e Berlim tentam aparar arestas em suas relações comerciais no 30° Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que se realiza em Frankfurt nesta segunda (02/06) e terça-feira. Arestas e farpas que já ficaram claras logo na abertura do evento, cujo lema este ano é "Novas Estratégias para mercados em transformação".

"Apelo para que o governo brasileiro assuma a bandeira do livre comércio e que remova as barreiras existentes. Barreiras comerciais prejudicam a economia de ambos os lados", pediu o ministro alemão da Economia, Philipp Rösler, em seu discurso da abertura da conferência, realizada todos os anos, alternadamente, em um dos dois países.

Rösler afirmou que vê com "muita preocupação as crescentes tendências protecionistas no Brasil e no continente americano". "Sou a favor do livre mercado e que barreiras sejam desmontadas", acrescentou. "Precisamos lutar juntos contra o protecionismo e por uma competição livre", disse o ministro, que é também chefe do Partido Liberal alemão.

Rebatendo críticas de Dilma

O ministro alemão também rebateu a rejeição do governo brasileiro em relação à política europeia de combate à crise no continente, dizendo que a Europa não tem intenção de melhorar sua competitividade na exportação, mas de garantir a estabilidade da própria moeda.

Rösler se referia, assim, às críticas feitas em março pela presidente Dilma Rousseff, que culpou a política de empréstimo a juros baixos do Banco Central Europeu na zona do euro pelo grande afluxo de dólares ao Brasil, o qual, segundo ela, causaria valorização do real e um desaquecimento das exportações brasileiras. "A política do BCE não tem por fim manter nosso câmbio barato e melhorar nossa competitividade", ressaltou. "Nós não precisamos disso", alfinetou o ministro.

Rösler comentou, ainda, que deposita grandes esperanças na presidência brasileira do Mercosul. O país assumiu o comando rotativo do bloco neste mês. "Esperamos que a presidência brasileira dê nova vida ao acordo de comércio (entre União Europeia e o Mercosul)" comentou, referindo-se às conversações para uma aliança entre os dois blocos, há anos emperradas.

Heloísa Menezes, secretária do Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, usou um tom mais conciliador para comentar as críticas de Rösler, tanto em seu discurso inaugural, quanto na entrevista coletiva realizada na manhã desta segunda-feira. Ela negou que o Brasil seja protecionista, mas ponderou que o país necessita proteger sua indústria.

Oportunidade de acertar divergências

"Do ponto de vista estrutural, o diferencial da taxa de juros é fundamental, acaba promovendo uma entrada de dólares no Brasil muito maior", observou. "Estamos há dois meses com estratégia mais agressiva para reduzir a taxa de juros, o que contribuirá para melhorar essa entrada excessiva de dólares. Mas o câmbio ainda é um fator decisivo e provoca diferença de competitividade muito grande."

Menezes ressaltou, entretanto, que reuniões bilaterais, como o Encontro Brasil-Alemanha, devem ser usadas como oportunidade de acertar divergências e para que governo e empresários alemães expressem frente aos interlocutores brasileiros "as dificuldades que enfrentam no comércio". A secretária afirmou, ainda, que o governo brasileiro "está totalmente aberto para dialogar com empresas estrangeiras e nacionais" a respeito de "ajustes importantes para melhorar as condições de negócios no Brasil".

O protecionismo foi também ponto de discussão na mesa-redonda que se seguiu à cerimônia de abertura do encontro, além de temas como as negociações em relação a um acordo de bitributação entre os dois países e o auxílio a cooperações entre empresas e governo dos dois países e discussões sobre as possibilidades de participação alemã nos projetos bilionários de infraestrutura planejados para ocorrer no Brasil nos próximos anos.

Na discussão inaugural, os empresários acusaram ambos os países de práticas protecionistas. Enquanto os brasileiros reclamaram das subvenções agrícolas europeias, que dificultariam as exportações brasileiras, os alemães ressaltaram as barreiras brasileiras para a entrada de produtos industrializados europeus. Ao final do painel, os participantes concluíram que tanto alemães como brasileiros concordam na necessidade de, juntos, lutar para derrubar barreiras. De ambos os lados.

Autor: Marcio Damasceno - Revisão: Roselaine Wandscheer

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