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Na província angolana de Cabinda, uma parte da população não está interessada em votar nas eleições gerais de 31 de agosto. É a resposta às violações dos direitos humanos do povo, segundo o ativista Marcos Mavungo.
Abel Chivukuvuk, líder da coligação eleitoral CASA-CE (Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral), revelou, recentemente, o nome do jornalista José Lelo, que será o número um na lista em Cabinda nas eleições.
Mas naquela província, a sociedade civil vai utilizar o "voto de um povo oprimido" ou então não vai votar, como disse em entrevista à DW África Marcos Mavungo, ativista angolano dos direitos humanos.
DW África: Os meios do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, o partido no poder) para a campanha eleitoral são considerados ilimitados?
Marcus Mavungo (MM): O MPLA tem meios ilimitados porque controla as finanças, ou seja, o dinheiro do país, controla os meios de comunicação social e, por conseguinte, controla também o espaço geográfico. E, no que diz respeito ao povo de Cabinda, o potencial voto que podemos ter é o voto de um povo oprimido, que não pode falar, manifestar-se, ao qual, todos os dias, é negado o seu direito como povo, todos os dias é roubado, os seus filhos são perseguidos, são mortos, são assassinados e ninguém o defende.
E é nesse contexto que o voto do povo de Cabinda é, em princípio, o voto do oprimido. O problema que temos aqui em Cabinda, e também em toda Angola, é a falta de uma verdadeira democracia.
Fala-se de um país democrático mas, na verdade, há uma “democratura”, isto é, há uma ditadura na própria democracia. É neste contexto que uma grande parte da população que diz que não vai participar nas eleições, mas também há uma outra parte da população que entende que deve participar.
DW África: Quando diz que o voto do povo de Cabinda será "o voto do povo oprimido" e que não vai participar, quer dizer que legitima o MPLA?
MM: O grande problema que temos em Cabinda é que não há condições para verdadeiras eleições, isto é, eleições livres e democráticas. Essa é a reserva que muita gente tem, essa falta de transparência. É nessa perspetiva que alguns partidos da oposição estão a levar a cabo uma certa ofensiva no sentido de dialogar com as populações de Cabinda e de ver se é possível criar condições que possam levar avante na campanha para derrotar o MPLA.
DW África: A sociedade civil de Cabina ainda não começou esforços para uma pré-campanha para as eleições?
MM: Há uma parte da sociedade civil que aderiu [à campanha], que está empenhada em participar; e uma boa parte diz que não há condições.
DW África: Nesse processo eleitoral acredita que o MPLA não vença?
MM: É muito difícil dar uma opinião a esse respeito porque o comportamento humano é imprevisível. Mas num verdadeiro Estado de direito democrático, tendo em conta os desvarios do regime, as perseguições republicanas, o roubo do erário público, o MPLA não tem condições para vencer, tanto em Cabinda como no resto de Angola. Toda a estratégia do MPLA é a estratégia da batota, neste momento. Porque há um grande desânimo no seio das populações e houve consultas, nomeadamente uma delegação do MPLA, dirigida por Roberto Almeida, veio até Cabinda para consultar as populações e disseram de cara que o governo do MPLA é um governo de tiranos.
DW África: Há muitas pessoas que são da opinião de que as eleições não serão justas. A questão que se coloca é a de saber se não serão fraudulentas.
MM: Essas são as expetativas atuais porque o MPLA sem fraude não pode vencer, por causa do que tem feito, como as humilhações do povo de Cabinda, os assassinatos. O MPLA não tem condições para vencer em Cabinda.
DW África: Mas como a sociedade civil poderá saber se não tem os mecanismos para detetar essas fraudes?
MM: Esse é o grande problema que temos. É por isso que há uma boa franja da população que não vai participar nas eleições.
DW África: E as manifestações que a sociedade civil tem apoiado assim como as detenções que foram feitas poderão benefeciar os candidatos da oposição na corrida eleitoral?
MM: Evidentemente que a população já está farta dessa situação. E tudo vai depender da própria oposição. Porque o grande problema que temos aqui em Cabinda é de consciência. Diz-se que a consciência é a consciência de qualquer coisa. Agora quando a oposição não consegue ir até à região de Conge (em Cabinda), nas áreas mais recôndias, pois não há condições para o fazer, isso complica o próprio processo.
DW África: Como é que os meios de comunicação social em Cabinda estão a seguir este processo?
MM: Não há média independentes aqui em Cabinda. A imprensa oficial, a TPA (Televisão Pública de Angola), a rádio, tudo está nas mãos do governo. E então não há esta dinâmica da imprensa no sentido de promover um debate democrático nestas condições.
DW África: Sente-se desencorajado como membro da sociedade civil?
MM: Não estou desencorajado. Eu acredito que todos aqueles que tenham fome e sede de justiça acabarão por ficar fartos. É por isso que, todos os dias, nós denunciamos, dizemos ao MPLA que estamos a seguir, que não estamos de acordo e que vamos avante.
Autor: António Rocha - Edição: Glória Sousa
1 comentário:
A melhor forma de o demonstrar não é apelando, como aqui se faz, ao não voto. É mobilizando as populações para votarem noutra força política que não seja o MPLA. Se todos os votos na oposição somarem mais que os votos do Partido no poder, isso porá este em sentido. Agora se não forem votar estão a fazer o jogo deles e... de que adianta estas palavras nacionalistas bonitas.
Só há duas formas de resolver o conflito de Cabinda: pelo voto e a altura é esta, ou de armas na mão e, já está mais que visto que é derramar sangue à toa.
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