JSD - Lusa
Cidade da Praia, 02 jul (Lusa) -- Os dois maiores partidos de Cabo Verde, que conquistaram a totalidade das 22 câmaras nas autárquicas de domingo, trocaram hoje acusações de corrupção eleitoral.
Em conferências de imprensa separadas, os presidentes do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, que detém o Governo mas é minoritário no poder local), José Maria Neves, e do Movimento para a Democracia (MpD), Carlos Veiga, denunciaram fraudes eleitorais na votação de domingo.
Segundo os dados da Direção Geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) cabo-verdiana, o MpD conquistou 14 dos 22 municípios do país, mais dois do que na votação de 2008, enquanto o PAICV diminuiu de 10 para oito o total de câmaras.
José Maria Neves disse hoje que, em Santa Catarina - uma das mais importantes edilidades do país, de onde é natural e onde já presidiu ao município na década de 1990 -, os resultados apurados pelo partido dão a vitória ao candidato que apoiou, José Maria Veiga, ex-ministro das Infraestruturas.
Os dados da DGAPE dão uma vitória a Francisco Tavares (MpD) por uma diferença de 119 votos, mas José Maria Neves refutou a contagem, alegando dispor de provas que os números contidos nos editais foram "rasurados" e que a Justiça vai apurar a verdade dos factos, "doa a quem doer".
"Os ilícitos eleitorais foram longe demais", afirmou, aludindo também a alegadas compra de votos, sobretudo em Santa Catarina de Santiago e Ribeira Grande de Santiago.
Antes, Carlos Veiga, reivindicando "mais uma vitória eleitoral" - após as presidenciais de agosto de 2011 -, defendeu a necessidade de "incentivar o combate" a "uma cultura já instalada" de condicionamento e de compra de votos, "claramente ilegítima e ilícita" e "induzida por práticas sucessivamente reiteradas, toleradas e fomentadas pelo poder".
"Há uma vitória clara do MpD e uma derrota clara do PAICV. Continuamos a ser o maior partido a nível local e ganhámos 14 municípios. Nas sete câmaras em que saímos derrotados melhoramos os nossos resultados", sintetizou Carlos Veiga, lamentando a perda do município de Porto Novo para o PAICV.
Para Carlos Veiga, a vitória eleitoral, que se concretizou também nas principais cidades e municípios do arquipélago, constitui um "recado claro do descontentamento da população" em relação ao PAICV e ao Governo de José Maria Neves, primeiro-ministro desde 2001.
"É uma mensagem de manifesta insatisfação com as mentiras, promessas incumpridas, demagogia, irresponsabilidade, nepotismo, conflito de interesses, partidarização da administração pública , governamentalização das candidaturas eleitorais e discriminação política do poder local", considerou.
José Maria Neves, por seu lado, reconheceu a derrota do PAICV nas eleições - "não atingimos os objetivos preconizados", que passavam pela manutenção das 10 câmaras ganhas em 2008 e a conquista de pelo menos mais duas -, e mostrou-se surpreendido pela perda das edilidades do Paul de Santo Antão e do Tarrafal de São Nicolau, admitindo o "desgaste" de 21 anos de poder na Brava para justificar a derrota na ilha mais a sul do arquipélago.
Garantindo que cumprirá o mandato de primeiro-ministro até às próximas legislativas, em 2016, a que não se candidatará, José Maria Neves defendeu que não foi o Governo que esteve a ser avaliado nas autárquicas e que não se pode misturar as coisas, recordando ainda que o PAICV, desde 1991, nunca foi maioritário nas câmaras e que, apesar disso, obteve três vitórias consecutivas nas legislativas de 2001, 2006 e 2011.
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