segunda-feira, 9 de julho de 2012

EUA: COMPRANDO PARLAMENTARES



Eliakim Araújo* - Direto da Redação

Pelo título o leitor poderia imaginar tratar-se de matéria sobre o Brasil. Mas não o é. Estamos falando de parlamentares estadunidenses que foram apanhados com a boca na botija. Os caras gozavam de favorecimentos escusos em troca de benesses não reveladas.

Essa é a conclusão a que podemos chegar ao tomar conhecimento do relatório final de uma comissão especial da Câmara dos Deputados estadunidense, divulgado na quinta-feira, que investigou o envolvimento de parlamentares com o Countrywide, uma das maiores empresas hipotecárias do país, na época da bolha imobiliária.

A Comissão descobriu que membros do Congresso e outros funcionários do Legislativo foram beneficiados por empréstimos imobiliários em “condições especiais”, fora das regras do mercado.

O favorecimento era conhecido como “Programa VIP” ou “Amigos do Angelo”, numa alusão a Angelo Mozilo, fundador e principal executivo do Countrywide.

Dependendo do grau de influência do mutuário, o tratamento especial incluia bônus, taxas de financiamento abaixo do mercado, rapidez no processamento do empréstimo e regras contratuais menos rigorosas. Uma pequena queda dágua, em comparação com as frondosas cachoeiras do Brasil.

Vale explicar que o Countrywide, comprado pelo Bank of America em 2008, pelo seu gigantismo, foi um dos que mais influência tiveram na quebra do sistema imobiliário estadunidense. Emprestava a rodo, sem checar o crédito do candidato. Diz a lenda que para conseguir um financiamento do Countrywide bastava que o candidato estivesse com o coração batendo. Se é o crédito era bom ou ruim, pouco interessava naquele período de louca euforia. A mesma política, talvez um pouco mais discreta, era praticada também por outras empresas de financiamento imobiliário e até pelos grandes bancos.

O resultado foi o desmonte do sistema imobiliário que acabou contaminando todo o setor financeiro dos EUA, levando o país à crise econômica que se estende até os dias atuais.

Quanto ao mercado imobiliário, nunca mais se recuperou e, segundo os mais realistas, nunca mais voltará aos preços praticados naquele período de total irreponsabilidade, sob a batuta do governo de George W. Bush.

E já que falamos em Bush e suas estrepolias não podemos deixar de falar em Obama e sua desesperada tentativa de se manter mais quatro anos na Casa Branca.

Mais confiante depois da vitória conquistada na Suprema Corte com a aprovação de seu projeto de reforma da saúde, o Obamacare, o presidente está em plena campanha pela reeleição e não perde qualquer chance de amealhar mais alguns votos .

Ao comemorar o feriado de 04 de julho na Casa Branca, Obama homenageou cerca de duas dezenas de estrangeiros que conquistaram a cidadania estadunidense em troca da prestação de serviço nas forças armadas.

Dirigindo-se aos novos cidadãos americanos, gente que veio do México, Ghana, Filipinas, Bolivia, Guatemala, China e Russia, Obama mandou essa: "Quando você veste o uniforme de um país que ainda não é totalmente o seu, em tempo de guerra, colocando sua vida em perigo, você exibe os valores que celebramos a cada 4 de julho: dever, responsabilidade e patriotismo”.

E voltou a reclamar uma reforma nas leis de imigração dos EUA, como se ele não tivesse nada com isso. Tá certo que com a composição atual da Câmara dos Deputados, Obama tem pouca ou nenhuma chance de aprovar seus projetos, ainda mais quando se sabe quão tortuoso é o tema da imigração no país. Mas não podemos esquecer que ele teve os dois primeiros anos de seu mandato com folgada maioria nas duas casas do Legislativo e, aparentemente, não deu ao assunto a importância devida.

Ele agora corre atrás do prejuízo e aproveitou a visibilidade da cerimônia, para lembrar sua recente decisão de suspender a deportação de imigrantes indocumentados (cerca de 800 mil) que foram para os Estados Unidos, ainda crianças, levados pelos pais.

Uma medida que lhe trouxe dividendos políticos junto à comunidade hispânica, que tem enorme cacife eleitoral.

*Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.

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