FP - Lusa
Bissau, 19 jul (Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau garantiu hoje ser completamente alheio ao golpe de Estado de 12 de abril e que muitas das críticas de que é alvo se devem "à coragem" de ter contrariado o seu partido.
"Eu não defendo todo o mundo, eu respondo por mim, não tenho e nunca tive, e nunca terei, nada a ver a com uma manifestação militar, porque eu sou democrata", assegurou.
"O país é pequeno e é fácil de constatar se alguma vez eu participei em alguma coisa de anormal. Eu não tenho essa postura", disse o Presidente de transição. "Ao nível de certas observações que se fazem de tentar conotar-nos com dirigentes de uma sublevação militar, isso é falso", garantiu.
Manuel Serifo Nhamadjo, que era antes do golpe primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional Popular, foi proposto para Presidente de transição a 11 de março, numa reunião realizada em Bissau com partidos políticos e dirigentes da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental).
O PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), do qual Serifo faz parte, não apoiou a nomeação e até hoje a maior parte da comunidade internacional também não a reconhece nem o governo de transição.
Serifo Nhamadjo candidatou-se a Presidente nas eleições de março à revelia do partido e foi, nomeadamente com Kumba Ialá (do Partido da Renovação Social, maior força da oposição) contestatário dos resultados eleitorais da primeira volta das presidenciais, que ditaram a vitória de Carlos Gomes Júnior, o primeiro-ministro e presidente do PAIGC, afastado no golpe militar, tal como o Presidente da República interino, Raimundo Pereira.
Na primeira grande entrevista que deu desde que ocupa o cargo, Serifo Nhamadjo disse que está a ser "mal-entendido", tudo porque teve a coragem de afrontar o PAIGC.
O atual chefe de Estado de transição queria que a escolha do candidato do partido para Presidente fosse por voto secreto e Carlos Gomes Júnior decidiu que seria por braço no ar, referiu Serifo Nhamadjo, criticando o método de "um primeiro-ministro todo-poderoso, num país onde quem dá emprego é o Governo porque não há empresas desenvolvidas para absorção de mão-de-obra, onde quem dirige o partido é o Presidente".
A escolha (por parte do Comité Central do partido) para disputar as presidenciais recaiu sobre Carlos Gomes Júnior mas Serifo Nhamadjo não acredita que essa escolha tenha sido livre, porque quem votasse contra "perderia as benesses, o emprego e as promoções". E justifica assim a sua candidatura a Presidente, à revelia do PAIGC.
"Imagine se eu não tivesse sido candidato, se houvesse esse golpe de Estado e se a exigência fosse para o retorno à normalidade constitucional via Parlamento. Quem seria o Presidente? Não havia outro, era eu o presidente do parlamento em exercício. O meu pecado é o de ter sido candidato", afirmou.
É certo, lembra, que contestou as eleições, mas é para ele também certo que o golpe militar, realizado na véspera da campanha para a segunda volta das presidenciais, "não teve nada a ver com as reclamações".
Na entrevista à Lusa Serifo Nhamadjo contou também que, após o golpe, foi surpreendido com o seu nome para ocupar a Presidência, saído de uma reunião entre militares e políticos, e que recusou, tanto mais que não entendeu que não tinham o direito de usar o seu nome sem o consultar.
"Falei abertamente com os militares, perguntando com que base é que utilizaram o meu nome. Disse que só assumia [a Presidência] por via legal, que devia passar por aquilo que a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] apoiou: voltar ao parlamento e retomar legalidade a partir do parlamento, o que significava anular a decisão da extinção", explicou, numa referência à determinação dos militares que tomaram o poder em extinguir o a Assembleia.
Serifo Nhamadjo não se revê nas críticas que o apontam como "o Presidente da CEDEAO".
O que se fez, defendeu, foi interpretar o regimento da Assembleia e a Constituição: quando não está o Presidente, assume o cargo o presidente da Assembleia, se ele não está assume o primeiro vice-presidente. "Podia ser o Joaquim ou o Alberto, mas estava lá o Serifo".
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