Martinho Júnior, Luanda
1 – O nome HMS Dauntless ilustra uma das naves do 3º filme da série “Pirata das Caraíbas” produzido pela indústria cinematográfica de Hollywood, o navio almirante da Royal Navy, baseado em Port Royal, nas Caraíbas, pronto para o saque aos galeões espanhóis abarrotados dos tesouros roubados à América (http://pirates.wikia.com/wiki/HMS_Dauntless)...
A história de ficção, reportada a uma época em que as potências coloniais disputavam o mundo e faziam das Caraíbas um ninho de perigosos corsários prontos a tomar as ricas prezas que se dirigiam à Europa carregados com os tesouros provenientes dos saques das colónias, é no entanto bastante sugestiva no presente, pois colonialismo e pirataria são para todos os efeitos fenómenos que tudo têm a dizer um ao outro… não se pode avaliar onde acaba um e começa o outro…
O HMS Dauntless (http://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Dauntless) a que se refere a série mais moderna de navios da Royal Navy do século XXI, (o 5º a ter esse nome) foi o navio escolhido pelos britânicos para comemorar o 30º aniversário da batalha das Malvinas, em que derrotaram a tentativa dos argentinos da tomada daquelas ilhas ocupadas em nome de Sua Majestade (“Dauntless shield of the Falklands” - http://www.dailymail.co.uk/news/article-2124983/HMS-Dauntless-make-Argentina-think-twice-Falklands-threats-ex-Navy-chief-says.html).
Com isso a Grã Bretanha pretende marcar a sua hegemonia que absorve as Malvinas como um resíduo colonial, numa região não só potencialmente rica em petróleo, mas com uma localização geo estratégica importante no Atlântico Sul, podendo servir de base de retaguarda para as futuras actividades no cone sul da América e na Antárctida.
A Grã Bretanha aliás domina no Atlântico Sul e para além das Malvinas, um colar de ilhas como Ascensão (no paralelo de Luanda e entre Luanda e São Salvador da Baía), Santa Helena e Tristão da Cunha, que lhe permitem a manutenção dum sistema “ultra-reservado” de permanência que só está “dormente” para o “mundo exterior”, podendo servir de apoio para qualquer tipo de acção em todo o Atlântico Sul (como o serviu há 30 anos quando tiveram de deslocar meios poderosos e decisivos para a Guerra das Malvinas)…
O actual “Destroyer” da classe 45, é um sofisticado navio em termos de tecnologias de ponta de acção anti-aérea, capaz de cumprir um variado leque de missões multi funcionais, incluindo aquelas que integram forças especiais (“D 33” – http://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Dauntless_(D33)).
Esse sofisticado vaso de guerra desloca-se intimamente associado a outros meios (incluindo submarinos nucleares) e as suas comunicações estão permanentemente conectadas aos satélites do Pentágono e da Defesa Britânica, bem como aos Comandos e meios da OTAN no Atlântico, pelo que as Malvinas não são um assunto entre a Argentina e a Grã Bretanha: com esse resíduo colonial a hegemonia do império actua sobre os países do sul, expondo o seu potencial e o aparentemente ambíguo carácter do seu domínio.
2 – O HMS Dauntless, que esteve mas Malvinas em Abril, completou agora três dias de estadia em Luanda (de 26 a 29 de Junho de 2012), a pouco mais de um mês da visita a Angola da Presidente Argentina Cristina Kirchner (“Presidente da Argentina inicia hoje visita a Angola” – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/presidente_da_argentina_inicia_hoje_visita_a_angola).
É caso para perguntar: não estará o HMS Dauntless na esteira também da trajectória da Presidente Argentina?
É evidente que quer a sua deslocação para as Malvinas (teimosamente a Grã Bretanha mantém a denominação de Falklands), quer a permanência no Atlântico Sul (que vai durar praticamente até ao fim do ano), quer a visita a Luanda, inserem-se numa estratégia de hegemonia complementar ao actual raio de acção das forças dos Estados Unidos e da OTAN, intimamente associados.
Para os países do Atlântico Sul, esta “diplomacia de defesa” está mal disfarçada, não é assim tão “velada” nos seus propósitos quanto isso e para os países da América do Sul que têm demonstrado unanimidade no apoio à Argentina em relação às Malvinas, a “manobra” do HMS Dauntless sugere um acto continuado de afirmação da permanência num resíduo colonial e dos actos de pirataria que isso implica quando se leva em consideração a exploração das riquezas em função do sistema que evidencio, por muito “dormente” que se queira fazê-lo parecer!
3 – De sugestão em sugestão, é esclarecedor o argumento de que se serve o Capitão de Mar em Guerra William Warrender da Royal Navy, num país como Angola, cuja Zona Económica Exclusiva tem sido década após década devastada pelas frotas de pesca das potências marítimas, umas europeias, outras asiáticas, num acto ilegítimo, ilegal e continuado de pirataria que ninguém de facto até hoje põe cobro:
Disse assim o “embaixador”, conforme a notícia da ANGOP (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/5/26/Oficial-britanico-defende-unidade-dos-estados-combate-pirataria-nos-oceanos,a44b0bff-2bef-4f88-94ef-85b8e5af2af6.html):
“Oficial britânico defende unidade dos estados no combate à pirataria nos oceanos.
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Luanda – O comandante do navio britânico HMS Dauntless, capitão de mar e guerra William Warrender, defendeu hoje, em Luanda, a unidade entre os estados no combate à pirataria e outros crimes no contexto dos oceanos.
Falando em conferência de imprensa a bordo do navio britânico HMS Dauntless, que se encontra no país desde a manhã de hoje, referiu que no que toca ao combate à pirataria e outros crimes no contexto dos oceanos o mais importante elemento para o sucesso é o trabalho em conjunto.
Combater a pirataria como nações individuais é muito difícil, argumentou.
Por outro lado, o comandante HMS Dauntless disse ser uma grande honra trazer este navio para os mares de Angola e explicou que esta é a primeira viagem deste navio tipo destruidor 45 fora das águas territoriais do Reino Unido.
Explicou que ele encontra-se já fora das águas territoriais da Grã-Bretanha a cerca de sete meses, tendo já passado por países como Portugal, Cabo Verde, Serra Leoa, Côte D'Ivoire, Senegal e Ghana.
De igual modo, deu a conhecer que por todos os países onde têm passado são desenvolvidas uma série de acções que passam por encontros com a Marinha de Guerra destes respectivos países para a troca de experiências.
Ela visa ainda ajudar estes países a melhorar o seu programa e sistemas de segurança marítima.
Também para encoraja-los no trabalho que a marinha de guerra e algumas guardas costeiras podem desempenhar nas águas territoriais nesta região e garantir que estas (águas territoriais) sejam lugares seguros”, asseverou.
William Warrender referiu-se também à importância desta zona Austral do continente africano para a Grã-Bretanha, fazendo referência às boas relações existente entre os dois países.
Uma grande demonstração deste facto é a presença deste navio aqui, disse.
O navio HMS Dauntless irá permanecer no país até sábado e neste período serão desenvolvidas uma série de actividades para um maior intercâmbio entre angolanos e britânicos.
Construído sobretudo para a defesa antiaérea, ele possui uma capacidade máxima para 220 membros, no que toca a sua tripulação, um peso total de 7500 toneladas, 152.5 metros de cumprimento e capacidade para transportar dois helicópteros, diversas armas e radares”…
4 – A persistência com que os vasos de guerra da OTAN se aproximam das águas angolanas e o à vontade das visitas de navios de guerra portugueses, norte americanos, franceses e britânicos, são um desperdício para a paz em Angola e uma contradição nos propósitos das potências navais com esse sinal.
Ainda neste semestre Luanda recebeu a visita do navio de desembarque francês TCD Siroco, no quadro da “Opération Corymbé” (http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/0/4/Navio-Marinha-Guerra-Francesa-atracou-Porto-Luanda,851d5425-e8f8-42da-8005-704e0d93dd83.html).
Qualquer um desses navios e em especial este último, estão a anos luz, sob o ponto de vista tecnológico e operativo, das possibilidades de defesa de Angola e em nada vêm contribuir para a segurança, ou protecção, da Zona Económica Exclusiva do país: continuarão os piratas que devassam as riquezas marítimas a devassá-las da mesma maneira ou, de hipocrisia em hipocrisia, ainda de forma mais intensa?!
É também utópico pensar-se que as capacidades da Marinha de Guerra Angolana, ao contrário do que afirma o Almirante Augusto da Silva Cunha (“Marinha de Guerra Angolana preparada para combate a pirataria” – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2012/5/26/Marinha-Guerra-Angolana-preparada-para-combate-pirataria,cd1eaa81-09b5-46d5-83c4-0eeebc6f67ed.html), estejam efectivamente capazes de combater a pirataria das potências, incluindo a que se faz sentir, por exemplo, nas pescas em Zona Económica Exclusiva de Angola!
Sendo Luanda uma cidade que se entregou às indústrias de paz (nunca antes e por estas paragens africanas se assistiu a um “canteiro de obras” como este), é dispensável a presença de tantos e tão poderosos vasos de guerra, ainda por cima instrumentos como são da “Françafrique” uns, do meio “sugestivo”, meio “pirata” colonialismo Britânico outros, ou ainda da pátria de Barack Hussein Obama, o império que o é também dos “drones”, outros mais…
A conversa de corsário do Capitão de Mar e Guerra de Sua Majestade não é pois “para inglês ver”: é “para o angolano que vê, sentir” e, quando o angolano dissertar sobre a “pirataria”, fazê-lo de forma a nunca se referir à situação real que afecta os mares de Angola de há décadas!
É assim que se vai passando a mensagem aferida aos interesses e conveniências da OTAN, com a contribuição da “diplomacia de defesa” de Sua Majestade Beritânica!!!
PAZ SIM, NATO NÃO! - CUBA PARA A CPLP!
Martinho Júnior - 28 de Junho de 2012.
Foto: O HMS Dauntless atracado ao cais principal do Porto de Luanda; fotografia tirada a 28 de Junho de 2012: um vaso de guerra entre os guindastes de paz da construção de Luanda.
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