domingo, 15 de julho de 2012

O BRASIL ASSUME A SOBERANIA DA AMAZÓNIA AZUL? – II



Martinho Júnior, Luanda

4 – As características dos navios da classe Amazonas permitem assumir um conjunto alargado de missões que vão desde a fiscalização sobre as pescas, até o socorro a sinistros no mar ou em zonas costeiras.

No Brasil, como na maior parte dos países com acesso ao mar, a maioria da população habita regiões costeiras, onde aliás se disseminam as maiores metrópoles e por esse facto, os Navios de Patrulha Oceânica possuem também aptidões para fiscalização de portos, socorro a náufragos e socorro perante catástrofes nas orlas costeiras, o que é importante se tivermos em conta as abruptas transformações climáticas que estamos correntemente a assistir.

A classe Amazonas destaca-se da experiência Britânica com os similares da classe River, o que politicamente é em si uma contradição que não foi tida em conta neste caso pelo Brasil (a classe River tem assiduidade nas ilhas do Atlântico Sul sob domínio britânico).

A classe não se pode considerar especificamente como de navio militar, pois o armamento é ligeiro e as aptidões respondem a requisitos vocacionados para áreas civis, pelo que se pode considerar como um modelo avançado de polivalência adaptado a uma Zona Económica Exclusiva alicerçada na plataforma marítima continental. (“Offshore Patrol Vessels” – http://www.baesystems.com/product/BAES_027244?_afrLoop=30841059645000).

De forma a fazer-se a comparação e a justificação sobre a contradição, vale a pena conhecer o registo da incorporação do Amazonas na Marinha de Guerra do Brasil. (http://www.defesanet.com.br/naval/noticia/6559/NPaOc-Amazonas---Incorporacao-do-Navio-Patrulha-Oceanico-AMAZONAS-a-Marinha-do-Brasil).

“No dia 29 de junho, às 11h, em cerimônia presidida pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante-de-Esquadra Fernando Eduardo Studart Wiemer, nas dependências da Base Naval de Portmouth, no Reino Unido, ocorrerá a Incorporação à Armada da Marinha do Brasil do Navio-Patrulha Oceânico Amazonas.

O navio, construído pela empresa BAE Systems Maritime – Naval Ships, recebe o mesmo nome da classe em que se enquadra, Amazonas, que contará com mais duas embarcações até 2013: Navio-Patrulha Oceânico Apa e Navio-Patrulha Oceânico Araguari, todos nomes de importantes rios brasileiros.

O navio teve sua construção iniciada em 15 de fevereiro de 2008, com o batimento de quilha em 15 de junho do mesmo ano.

Foi lançado ao mar em 10 de fevereiro de 2009 e sua construção foi finalizada em setembro de 2010.

As principais características do Navio são:

Comprimento Total: 90,5 metros
Comprimento entre Perpendiculares: 83 metros
Boca Máxima: 13,5 metros
Calado de Navegação: 6,0 metros
Deslocamento Carregado: 2.060 toneladas
Velocidade Máxima com 2 MCP: 25 nós
Raio de Ação a 12 Nós: 4.000 milhas náuticas
Autonomia: 35 dias
Capacidade de Tropa Embarcada: 39 militares
Capacidade de Transporte de Carga: 06 Conteineres de 15 toneladas
Armamento: 01 canhão de 30mm
e 02 metralhadoras de 25mm
Sistema de Propulsão: 2 Motores MAN 16V28/33D 7.350 HP
Geração de Energia: 3 Geradores CATERPILLAR de 550 kW
1 Gerador CATERPILLAR de 200kW
Tripulação: 12 Oficiais, 21 SO/SG e 48 CB/MN

Os Navios-Patrulha destinam-se ao patrulhamento das Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), devendo executar diversas tarefas, dentre elas a de, em situação de conflito, efetuar patrulha para a vigilância e defesa do litoral, de áreas marítimas costeiras e das plataformas de exploração/explotação de petróleo no mar e contribuir para defesa de porto; e, em situação de paz, promover a fiscalização que vise ao resguardo dos recursos do mar territorial, zona contígua e zona econômica exclusiva (ZEE), de repressão às atividades ilícitas (pesca ilegal, contrabando, narcotráfico e poluição do meio ambiente marinho), contribuir para a segurança das instalações costeiras e das plataformas marítimas contra ações de sabotagem e realizar operações de busca e salvamento na área de responsabilidade do Brasil.

O Navio-Patrulha Oceânico Amazonas foi projetado e construído para atender às necessidades de fiscalização de extensas áreas marítimas.

Devido à sua grande autonomia e capacidade de operar com aeronave orgânica (helicóptero) e duas lanchas, contribuirá com os demais navios da Marinha do Brasil na proteção e fiscalização de nossa Amazônia Azul.

Após a incorporação à Marinha, o Amazonas será preparado para navegar em direção ao Brasil, o que está previsto para ocorrer na primeira quinzena de agosto deste ano.

Em uma viagem de dois meses, o navio suspende de Plymouth, cumprindo o seguinte roteiro: Lisboa (Portugal), Las Palmas (Espanha), Mindelo (Cabo Verde), Cotonou (Benim), Lagos (Nigéria), São Tomé e Príncipe, Natal (RN), Salvador (BA), Arraial do Cabo (RJ) e tem como porto final, na primeira quinzena de outubro, o Rio de Janeiro (RJ)”.

5 – A Grã Bretanha possui navios similares, a classe River, que integra 4 Patrulheiros Oceânicos (HMS Clyde, HMS Mersey, HMS Tyne and HMS Severn).

Essa classe que tem sido também utilizada pela Grã Bretanha nas ilhas do Atlântico Sul, particularmente nas Malvinas, foi concebida no início do século XXI.

O Brasil, em Janeiro de 2011, em solidariedade com a posição da Argentina sobre as Malvinas, não havia autorizado o acesso do HMS Clyde ao Rio de Janeiro!... (“HMS Clyde” – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Clyde_(P257)).

A classe River está a ser lançada ao mesmo tempo que os navios de combate da classe 45 (do qual faz parte do HMS Dauntless), no quadro dum pacote integrado que responde ao actual programa de renovação naval britânico, que introduz as mais modernas tecnologias, uma das frotas mais potentes da NATO.

O Brasil adquiriu ainda aos britânicos (em 2008), o ex navio de apoio e auxiliar “Sir Galahad”, uma unidade construída em 1987 com o mesmo nome dum navio mais antiquado (1966) que foi afundado pela aviação argentina na baía de São Carlos, durante a Guerra das Malvinas. (http://en.wikipedia.org/wiki/RFA_Sir_Galahad_(1987)).

O Wikipedia faz constar a seguinte história do navio “Sir Galahad” que foi afundado pela aviação argentina na Guerra das Malvinas (http://en.wikipedia.org/wiki/RFA_Sir_Galahad_(1966)):

“Sir Galahad was active during the Falklands War, sailing from HMNB Devonport on 6 April with 350 Royal Marines and entering San Carlos Water on 21 May.

On 24 May 1982 in San Carlos Water she was attacked by A-4C Skyhawks of the Argentine Air Force's IV Brigada Aérea and was hit by a 1000 pound bomb (which did not detonate) then strafed by Dagger fighter bombers.

After removal of the unexploded bomb, she carried out supply runs to Teal Inlet along with RFA Sir Percivale.

On the 8 June 1982 while preparing to unload soldiers from the Welsh Guards in Port Pleasant, off Fitzroy, together with RFA Sir Tristram, the Sir Galahad was attacked by three A-4 Skyhawks from Argentine Air Force's V Brigada Aérea, each loaded with three 500 lb retarding tail bombs.

At approximately 14:00 local time RFA Sir Galahad was hit by two or three bombs and set alight.

A total of 48 soldiers and seamen were killed in the explosions and subsequent fire.

Chiu Yiu Nam a seaman on RFA Sir Galahad was awarded the George Medal for rescuing ten men trapped in a fire in the bowels of the ship”.

A contradição não deixa de ser sugestiva para o caso da emergência do Brasil, seus relacionamentos e para o Atlântico Sul: oferecer aos resíduos coloniais e de pirataria em relação às riquezas aquáticas e sub aquáticas (Malvinas incluídas), a oportunidade de fornecer unidades navais que visam precisamente combater entre outras missões essa pirataria, colocando-se de certo modo em dependência tecnológica, pode interessar muito às alas militares mais conservadoras e às elites financeiras componentes da oligarquia brasileira, mas interessará realmente ao Brasil?!...
Foto:

O Navio auxiliar Garcia d’Ávila é o antigo navio britânico “Sir Galahad” que sucedeu àquele com o mesmo nome que foi afundado na Guerra das Malvinas pela aviação argentina.

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