sábado, 7 de julho de 2012

PELO RENASCIMENTO AFRICANO! – I



Martinho Júnior, Luanda

1 – O grande desafio africano contemporâneo é vencer o subdesenvolvimento crónico a que o continente tem sido compulsivamente remetido pela história, por via dum renascimento cuja essência deve, num esforço inteligente e com sentido de vida, a todo o transe procurar promover o respeito para com o planeta e para com a humanidade.

Só dessa maneira é possível seguir uma trilha de sustentabilidade, de bem-estar e de garantia em relação ao futuro, de forma a que as gerações que se seguem recebam efectivamente um mundo com mais justiça, solidariedade, equilíbrio, inteligência, democracia e paz.

O movimento de libertação tem nessa trilha bastas razões para se continuar a afirmar: vencido o colonialismo e o “apartheid”, ultrapassadas as suas sequelas, abrindo-se as perspectivas de paz e de democracia, agora é preciso vencer o subdesenvolvimento crónico e para isso torna-se imperiosa a planificação geo estratégica com vista à edificação do futuro.

Também nesse caminho o movimento de libertação, no caso de Angola, se pode conferir um outro significado ao acto de vanguarda de todo o Povo Angolano e estabelecer nexos com todas as sensibilidades políticas, religiosas e sociais, tirando todos partido das possibilidades da própria democracia, aprofundando-a com consciência, inteligência, cidadania e participação!

Nessa planificação geo estratégica, a lógica capitalista não deve ser mais considerada como o ingrediente decisivo e fonte filosófica.

Não é com a competição desenfreada, com a exploração predatória das riquezas naturais, com o lucro, com a especulação, com os monopólios, com a formação de elites agenciadas, ou com o consumismo, que África conseguirá atingir sucessos no seu renascimento, muito pelo contrário.

O capitalismo já deu provas mais que suficientes de práticas de conspiração em África, contra o planeta e contra a humanidade e elas devem ser definitivamente dispensadas!

A lógica capitalista tem conduzido o planeta e a humanidade a riscos que são incomportáveis, pelo que a planificação geo estratégica terá de ser alicerçada a partir do inventário científico dos recursos e dum rigoroso controlo sobre a sua exploração no âmbito da esfera económica, tendo em conta que muitos desses recursos não são renováveis, nem há possibilidade exaustiva de reciclá-los.

O binómio homem-natureza deve ser a prioridade das linhas a definir pela planificação geo estratégica integrada, pelo que o inventário científico implica o envolvimento da inteligência dos povos de forma a beneficiar desde logo o todo.

As questões físico-geográficas e entre elas a água e as florestas, deverão estar entre as preocupações fundamentais; água é vida, pelo que o seu usufruto terá de ser respeitada como um assunto vital!

2 – Para Angola a ponte entre o passado do movimento de libertação e a sua perspectiva em relação ao presente e ao futuro torna-se uma questão de primeira grandeza: é imperioso dar continuidade ao esforço de libertação por via da continuidade do resgate de todo o Povo Angolano do subdesenvolvimento crónico a que, por razões históricas, tem sido votado, vencendo-o agora numa perspectiva de sustentabilidade efectivamente respeitadora do homem e da natureza, o que em muitos aspectos não está a acontecer.

Dou um exemplo:

Angola está motivada à inserção de Parques Naturais e Reservas junto às fronteiras do sudoeste (Projecto Kaza-TFCA), conjugando esforços com a Zâmbia, o Zimbabwe, o Botswana e a Namíbia, todavia contraditoriamente, não fez sequer o inventário científico dos seus recursos aquíferos, na generalidade e com isso, não protege as grandes nascentes bem no seu centro geográfico, sendo muito raros os projectos de protecção do curso intermédio dos seus rios! (“The official launch of the KAZA TFCA – http://www.kavangozambezi.org/news13.php).

Isso é tão mais premente quanto esses rios angolanos são autênticos escândalos geológicos, ou melhor, “arrastões” de preciosidades: é neles que o homem recolhe os diamantes-jóia aluviais numa escala de tal ordem que os leitos estão a ser totalmente removidos, restando deles os destroços das explorações não controladas, autênticas crateras a céu aberto que agravam as condições ambientais de cada vez maiores espaços nacionais, a começar na região geo estratégica central das grandes nascentes (planalto do Bié)! (“Projectos de extracção de diamantes vão duplicar” – http://giuridicopolitico.blog.com/2007/11/04/projectos-de-extraccao-de-diamantes-vao-duplicar/).

Se assim foi nos últimos anos de guerra, com o projecto de “diamantes de sangue” de Savimbi, agora com a ausência de tiros e a orientação capitalista da economia angolana, as explorações têm-se multiplicado sem controlo, constituindo um dos factores de risco que conduzem à atracção de migração africana ilegal e não controlada, que por seu turno gera motivações de repressão que estão a ser interpretadas como pondo em causa direitos humanos, extrapolando os padrões de ingerência que se vão arquitectando contra o estado angolano (“Pôr termo às violações e abusos de imigrantes congoleses” – http://quintasdedebate.blogspot.com/2012/05/hrw-divulga-relatorio-sobre-violacoes-e.html).

A fim de recolher da natureza a riqueza efémera do diamante, por que o capitalismo é assim, o homem põe em risco a riqueza fundamental do ambiente e das suas próprias razões de vida, a água interior (os aquíferos subterrâneos, os lagos e a rede hidrográfica), por que, sem uma nova filosofia que implica a economia dos recursos, uma filosofia com o adequado conhecimento científico, nem sequer consegue realizar o inventário físico-geográfico do país, muito menos alguma vez controlar a migração ilegal e o que ela provoca quando a febre dos diamantes está na ordem do dia…

Agregar as Universidades aos estudos científicos e pesquisas sobre a água interior em Angola, de acordo com essa nova filosofia e de forma a fundamentar a planificação geo estratégica integrada em função da economia dos recursos e não da economia capitalista, é uma obrigação do presente no caminho do renascimento africano, da sustentabilidade e do resgate imperioso do movimento de libertação face ao mais decisivo dos desafios, a luta contra o subdesenvolvimento crónico a que África tem sido compelida!

Isso é tão mais pertinente quanto foi a lógica capitalista que derivou em colonialismo e “apartheid” e é a lógica capitalista que agora faz a derivação neo colonial com todo o seu caudal de ingerências e manipulações!

3 – Lembro algumas das minas aluviais dos diamantes de sangue de Savimbi em tempos de guerra, instaladas no eixo norte-sul do Cuango e do Quanza (“O vale do Cuango” – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html):

“No rio Cuango, inclusive no curso internacional, em 1999 era o seguinte o inventário das minas aluviais dos diamantes de sangue de Savimbi, antes da preparação da ofensiva das FAA:

MARROCOS - Latitude - 06º 01’ 05’’ SUL . - Longitude - 16º 35’ 01’’ LESTE .
CUANGO - Latitude - 06º 18’ 41’’ SUL . - Longitude - 16º 42’ 18’’ LESTE .
BONGOLO - Latitude - 06º 35’ 54’’ SUL . - Longitude - 16º 46’ 03’’ LESTE .
BOTOMUNA ( RDC ) - Latitude - 06º 33’ 54’’ SUL . - Longitude - 16º 51’ 56’’ LESTE .
KITANGU - Latitude - 06º 58’ 57’’ SUL . - Longitude - 16º 54’ 54’’ LESTE .
MASSAU - Latitude - 07º 13’ 58’’ SUL . - Longitude - 16º 54’ 50’’ LESTE .
QUIBALA - Latitude - 07º 18’ 21’’ SUL . - Longitude - 17º 01’ 32’’ LESTE .

No Cuanza, imediatamente a sul, eram estas algumas das minas que estavam à disposição de Savimbi (imediatamente antes da Operação Restauro):

CHIMBAMBA - Latitude - 10º 41 58'' SUL . - Longitude - 16º 39' 57'' LESTE
SONGUE - Latitude - 10º 44' 54'' SUL . - Longitude - 16º 44' 57'' LESTE
CASSUMA - Latitude - 10º 47’ 56’’ SUL . - Longitude - 16º 35’ 58’’ LESTE .
SALVATERRA - Latitude - 10º 48’ 49’’ SUL . - Longitude - 16º 53’ 22’’ LESTE .
SANTOMA - Latitude - 10º 51’ 02’’ SUL . - Longitude - 17º 10’ 03’’ LESTE .
DANDO - Latitude - 11º 14' 29'' SUL . - Longitude - 17º 25' 12'' LESTE .
TCHOMBO - Latitude - 11º 41’ 49’’ SUL . - Longitude - 17º 29’ 56’’ LESTE .
GONDE - Latitude - 12º 02' 37'' SUL . - Longitude - 17º 39' 41'' LESTE .
CUÍME - Latitude - 12º 17' 00'' SUL . - Longitude - 17º 46' 47'' LESTE .
CHÍMUE - Latitude - 13º 15' 22'' SUL . - Longitude - 17º 25' 57'' LESTE .

Enquanto houve a “guerra dos diamantes de sangue” a HRW dava alguma da sua atenção aos actos depredatórios e sanguinários de Savimbi, tal como o fez para outros casos (Serra Leoa e Libéria); agora, esquecendo-se dos fenómenos implicitamente identificados com a migração ilegal a fim de proceder ao saque dos diamantes aluviais de Angola surgidos a partir do desaparecimento de Savimbi mas estimulados pelo seu”exemplo”, o HRW faz relatórios com base apenas dos kamanguistas-migrantes ilegais e de quem eles servem! (“Se voltarem, vamos matar-nos” – http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/angola0512ptwebwcover.pdf).

Estou de acordo em estudar os fenómenos com todas as suas implicações, por que isso corresponde aos padrões de minha posição ética e moral, bem como aos interesses africanos dum bom relacionamento entre os seus estados (neste caso entre Angola e a RDC), todavia isso não pode conduzir à fragilização dos já de si tão fragilizados estados africanos, nem em prejuízo do exercício saudável de sua soberania, da democracia e da paz, conforme muitas vezes acontece quando esses relatórios servem sobretudo ao exercício da hegemonia e dos seus interesses!

Foto:
Impressiva pintura do jovem pintor haitiano Vladimir Pascal, que faz parte do grupo “Folie ouverte” (que se inspira na reconstrução nacional), exposta no Museu do Panteão Nacional em Porto Príncipe.

A reconstrução inspira não só o Haiti, onde ocorreu um terramoto mortífero e devastador, mas praticamente toda a África vítima da agressão colonial e das guerras semeadas pelo império no quadro da lógica preferencial do capitalismo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Discurso del Presidente del Estado Plurinacional de Bolivia
"La economía verde es el nuevo colonialismo para someter a nuestros pueblos"


Evo Morales Ayma
Rebelión

...

La economía verde usurpa la creatividad de la naturaleza, que es un patrimonio común de todos los seres vivos existentes, para expropiarla hacia el lucro privado a nombre del cuidado de la naturaleza. Es una estrategia imperial que cuantifica nuestros recursos naturales: cada río, cada lago, cada planta, cada producto natural es traducido en dinero, para la ganancia empresarial y su apropiación privada. Convierte la fuente de vida de todas las generaciones en un bien privado para el beneficio de unas cuantas personas, al dar réditos económicos por la naturaleza, por ello este es solo un modo de realización del capitalismo destructor, gradual y escalonado de destrucción mercantil de la naturaleza.

Pero además el ambientalismo del capitalismo, la economía verde, es también un colonialismo depredador porque permite que las obligaciones que tienen los países desarrollados, de preservar la naturaleza para las futuras generaciones, les sean impuestas a los países llamados en vías de desarrollado, mientras los primeros se dedican de manera implacable a destruir mercantilmente el medio ambiente. Los países del Norte se enriquecen en medio de una orgia depredadora de las fuentes naturales de vida y nos obligan a los países del Sur a ser sus guardabosques pobres.

...

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=151843&titular="la-economía-verde-es-el-nuevo-colonialismo-para-someter-a-nuestros-pueblos"-

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