Ana Loro Metan – Timor Lorosae Nação, em 12.11.10 - reposição
O REPÚDIO AOS TRAIDORES TAMBÉM
Díli, Timor-Leste, 12 de Novembro de 1991. Aquela mãe podia ter dito aos filhos mais jovens que não fossem, que não se integrassem na manifestação que pretendiam espontânea e em que havia a perspetiva de juntar muito povo, que mostraria aos repórteres internacionais, que estavam na cidade, a nossa determinação pela independência do país, a nossa vontade em sermos uma nação reconhecida por todo o mundo. Não, a mãe não disse aos filhos que não fossem. Ela mesmo, depois dos filhos terem saído de casa, se integrou no cortejo que se encaminhava para o Cemitério de Santa Cruz, pretexto de homenagem a Sebastião, um jovem assassinado havia poucas horas pelos ocupantes indonésios.
Naqueles momentos, todos juntos, pelas ruas de Díli, sentimo-nos livres. Essa liberdade sentida, apesar do medo oculto, fez-nos ter a certeza de que o sabor agridoce da independência iria ficar mais forte, pese embora pressentirmos que a repressão dos ocupantes estava prestes a uma vez mais derrubar os nossos corpos, mas nunca a nossa determinação em escorraçarmos o ocupante indonésio que naquela data já somava na sua negra contabilidade mais de duas centenas de milhares de cadáveres de filhos de Timor-Leste assassinados.
E eis que para os imensos jovens que gritavam por independência e pela Nação, que vitoriavam os heróis tombados, que os choravam, também chegou o massacre em local achado próprio, no Cemitério de Santa Cruz. Foi o pavor, as fugas desordenadas, os tombos e tropeços de campa em campa. Foi o cair de dezenas de corpos assassinados pelas mãos dos assassinos que ocupavam o nosso país. Foi mais uma manifestação de poderio e de maldade que nos reprimia e nos queria suprimir havia quase duas décadas.
Desde então, por todos aqueles anos de matança, assistimos a mais de duas centenas de milhares de mortes dos nossos entes queridos. Era uma matança massiva a que o mundo estava indiferente. Foram corpos desaparecidos, lançados ao mar por navios da marinha indonésia e em helicópteros, muitos ainda vivos viram-se lançados das alturas para servir de banquete a tubarões. E era então que o verde-esmeralda do nosso amado mar chorava connosco e se fazia vermelho. A cor da nossa bandeira. A cor do sofrimento e da luta que jamais havia de parar. Também as nossas lágrimas eram de sangue. Ainda hoje as nossas lágrimas são de sangue. Ocupante algum, ou alguém dos atuais dirigentes de Timor-Leste, consegue consolar e fazer parar o nosso pranto, enquanto prevalecer a injustiça para com o nosso povo, para com os nossos mártires, mãe nenhuma perdoará aos assassinos de seus filhos, muito menos aos traidores que agora num Timor Leste independente nos querem roubar memórias das décadas terríveis passadas e oferecem a impunidade aos assassinos dos nossos filhos.
São esses traidores, hoje no poder do Estado, que na azáfama de tanto roubarem os nossos recursos, se esquecem que ainda nos estão a roubar algo mais precioso: a paz, a dignidade e a justiça que têm de devolver aos nossos filhos e filhas, aos nosso maridos, a todos os nossos familiares e irmãos, às centenas de milhares de compatriotas.
As traições têm nomes e os principais agentes dessa traição aos nossos imortais filhos e filhas são Alexandre Gusmão e Ramos Horta. Depois vem todo o séquito de traidores que com eles tem emparelhado no objetivo de nos fazer esquecer tudo que sofremos e tudo que perdemos, deixando apenas as tristes memórias do amor que ainda hoje sentimos pelos que deram a vida pela Nação em atos dignos de patriotas amantes da liberdade e da independência do nosso país.
E são esses traidores que vimos ainda há pouco, hoje, e amiúde, dizerem sobre quanto sofrem pelos nossos mártires, julgando-os mortos, quando afinal eles para nós estão vivos nos nossos corações e carregados de tristeza por saberem que os seus lideres se desviaram para os caminhos do roubo e da traição, da indiferença pelo povo que continua a sofrer todo o tipo de carências, enquanto eles vivem no fausto e se pavoneiam como heróis – uma máscara que só lhes serve devido à sua enorme capacidade de serem desonestos e a eles próprios se terem traído a troco da vivência deslumbrante que todos os humanamente mal-formados e traidores almejam às custas dos povos que manipulam e dominam.
Não, as mães nunca esqueçem os seus filhos e gritam por justiça, abominando os traidores, todos eles, os de agora e os do futuro. Isso mesmo se lhes pode ler no semblante, nos olhos que trazem sempre lágrimas de amor e saudade, de dor eterna, e de repulsa pela traição que acorda a seu lado todos os dias, até ao dia em que seja feita justiça em julgamento onde os assassinos ainda vivos sejam mostrados e julgados pelas leis do Direito Internacional para crimes praticados contra nós, contra os nossos mártires, contra a nossa inteligência e contra os nossos mais profundos sentimentos e dores.
Um dia será feita justiça. A dos homens, porque a de Deus não nos serena o coração, quanto mais a indignação. Atualmente, a vergonha, a perfídia, pertencem a Gusmão e a Horta, só comparável à dos assassinos dos nossos filhos e filhas, enterrados em valas comuns não se sabe onde, queimados, atirados ao mar, e que agora devem ter por missão eternamente assombrar os traidores, a exemplo de suas mães.
Um dia será feita justiça, pelo Massacre de Santa Cruz, por todos os massacres, por todas as traições e roubos dos bens materiais e dignidades que queremos ver devolvidos.
Em Timor-Leste todos os dias são dias de homenagem aos mártires e de repúdio aos traidores. Somos muitos milhares a partilhar esses sentimentos, quase em silêncio. Um silêncio que agora decidi quebrar.
As mães podiam ter dito aos filhos para não lutarem pela Pátria… mas nunca disseram, nem nunca pensaram que os traidores se estavam a perfilar sobre os cadáveres dos seus filhos e de todos os outros entes seus queridos. Hoje é cristalino quem são e quais são os que se usam quase em exclusivo dos benefícios da nossa luta, principalmente da luta dos nossos mártires.
O REPÚDIO AOS TRAIDORES TAMBÉM
Díli, Timor-Leste, 12 de Novembro de 1991. Aquela mãe podia ter dito aos filhos mais jovens que não fossem, que não se integrassem na manifestação que pretendiam espontânea e em que havia a perspetiva de juntar muito povo, que mostraria aos repórteres internacionais, que estavam na cidade, a nossa determinação pela independência do país, a nossa vontade em sermos uma nação reconhecida por todo o mundo. Não, a mãe não disse aos filhos que não fossem. Ela mesmo, depois dos filhos terem saído de casa, se integrou no cortejo que se encaminhava para o Cemitério de Santa Cruz, pretexto de homenagem a Sebastião, um jovem assassinado havia poucas horas pelos ocupantes indonésios.
Naqueles momentos, todos juntos, pelas ruas de Díli, sentimo-nos livres. Essa liberdade sentida, apesar do medo oculto, fez-nos ter a certeza de que o sabor agridoce da independência iria ficar mais forte, pese embora pressentirmos que a repressão dos ocupantes estava prestes a uma vez mais derrubar os nossos corpos, mas nunca a nossa determinação em escorraçarmos o ocupante indonésio que naquela data já somava na sua negra contabilidade mais de duas centenas de milhares de cadáveres de filhos de Timor-Leste assassinados.
E eis que para os imensos jovens que gritavam por independência e pela Nação, que vitoriavam os heróis tombados, que os choravam, também chegou o massacre em local achado próprio, no Cemitério de Santa Cruz. Foi o pavor, as fugas desordenadas, os tombos e tropeços de campa em campa. Foi o cair de dezenas de corpos assassinados pelas mãos dos assassinos que ocupavam o nosso país. Foi mais uma manifestação de poderio e de maldade que nos reprimia e nos queria suprimir havia quase duas décadas.
Desde então, por todos aqueles anos de matança, assistimos a mais de duas centenas de milhares de mortes dos nossos entes queridos. Era uma matança massiva a que o mundo estava indiferente. Foram corpos desaparecidos, lançados ao mar por navios da marinha indonésia e em helicópteros, muitos ainda vivos viram-se lançados das alturas para servir de banquete a tubarões. E era então que o verde-esmeralda do nosso amado mar chorava connosco e se fazia vermelho. A cor da nossa bandeira. A cor do sofrimento e da luta que jamais havia de parar. Também as nossas lágrimas eram de sangue. Ainda hoje as nossas lágrimas são de sangue. Ocupante algum, ou alguém dos atuais dirigentes de Timor-Leste, consegue consolar e fazer parar o nosso pranto, enquanto prevalecer a injustiça para com o nosso povo, para com os nossos mártires, mãe nenhuma perdoará aos assassinos de seus filhos, muito menos aos traidores que agora num Timor Leste independente nos querem roubar memórias das décadas terríveis passadas e oferecem a impunidade aos assassinos dos nossos filhos.
São esses traidores, hoje no poder do Estado, que na azáfama de tanto roubarem os nossos recursos, se esquecem que ainda nos estão a roubar algo mais precioso: a paz, a dignidade e a justiça que têm de devolver aos nossos filhos e filhas, aos nosso maridos, a todos os nossos familiares e irmãos, às centenas de milhares de compatriotas.
As traições têm nomes e os principais agentes dessa traição aos nossos imortais filhos e filhas são Alexandre Gusmão e Ramos Horta. Depois vem todo o séquito de traidores que com eles tem emparelhado no objetivo de nos fazer esquecer tudo que sofremos e tudo que perdemos, deixando apenas as tristes memórias do amor que ainda hoje sentimos pelos que deram a vida pela Nação em atos dignos de patriotas amantes da liberdade e da independência do nosso país.
E são esses traidores que vimos ainda há pouco, hoje, e amiúde, dizerem sobre quanto sofrem pelos nossos mártires, julgando-os mortos, quando afinal eles para nós estão vivos nos nossos corações e carregados de tristeza por saberem que os seus lideres se desviaram para os caminhos do roubo e da traição, da indiferença pelo povo que continua a sofrer todo o tipo de carências, enquanto eles vivem no fausto e se pavoneiam como heróis – uma máscara que só lhes serve devido à sua enorme capacidade de serem desonestos e a eles próprios se terem traído a troco da vivência deslumbrante que todos os humanamente mal-formados e traidores almejam às custas dos povos que manipulam e dominam.
Não, as mães nunca esqueçem os seus filhos e gritam por justiça, abominando os traidores, todos eles, os de agora e os do futuro. Isso mesmo se lhes pode ler no semblante, nos olhos que trazem sempre lágrimas de amor e saudade, de dor eterna, e de repulsa pela traição que acorda a seu lado todos os dias, até ao dia em que seja feita justiça em julgamento onde os assassinos ainda vivos sejam mostrados e julgados pelas leis do Direito Internacional para crimes praticados contra nós, contra os nossos mártires, contra a nossa inteligência e contra os nossos mais profundos sentimentos e dores.
Um dia será feita justiça. A dos homens, porque a de Deus não nos serena o coração, quanto mais a indignação. Atualmente, a vergonha, a perfídia, pertencem a Gusmão e a Horta, só comparável à dos assassinos dos nossos filhos e filhas, enterrados em valas comuns não se sabe onde, queimados, atirados ao mar, e que agora devem ter por missão eternamente assombrar os traidores, a exemplo de suas mães.
Um dia será feita justiça, pelo Massacre de Santa Cruz, por todos os massacres, por todas as traições e roubos dos bens materiais e dignidades que queremos ver devolvidos.
Em Timor-Leste todos os dias são dias de homenagem aos mártires e de repúdio aos traidores. Somos muitos milhares a partilhar esses sentimentos, quase em silêncio. Um silêncio que agora decidi quebrar.
As mães podiam ter dito aos filhos para não lutarem pela Pátria… mas nunca disseram, nem nunca pensaram que os traidores se estavam a perfilar sobre os cadáveres dos seus filhos e de todos os outros entes seus queridos. Hoje é cristalino quem são e quais são os que se usam quase em exclusivo dos benefícios da nossa luta, principalmente da luta dos nossos mártires.
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