Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O primeiro-ministro português, com funções delegadas por Angela Merkel (estavam a pensar que eram por Miguel Relvas?) diz que os escravos do reino devem redobrar os esforços. Aí está a adenda à receita anterior.
Passos Coelho diz do alto da sua cátedra que diminuir mais a despesa pública implica cortes na saúde e educação.
Nada disto, é claro, tem a ver com o facto de o Tribunal de Trabalho do Porto ter condenado o BPN a pagar a António Coelho Marinho, ex-administrador do banco nacionalizado, uma indemnização de 178 655 euros, além de este ficar proprietário de um Mercedes de luxo.
Voltemos ao dono do reino. “Há quem veja aqui uma oportunidade, mais uma vez, quem veja na decisão do Tribunal Constitucional uma desculpa para não cumprir”, afirmou Pedro Passos Coelho, referindo que “o Governo tinha tomado uma opção diferente” em relação à consolidação orçamental, mas garantiu que irá agora “ajustar as suas escolhas de modo a serem consideradas constitucionais pelo Tribunal Constitucional”.
Passo Coelho afirmou que a “seu tempo”, no âmbito da preparação do Orçamento do Estado para 2013, o Governo apresentará as “soluções” para responder à deliberação do TC que considerou inconstitucionais os cortes dos subsídios de férias e de Natal no sector público e a pensionistas.
Como a procissão do Governo ainda não chegou ao adro, é de prever que os portugueses passem a ficar agora privados dos pratos, já que da comida há muito que estavam. Os escravos de Passos Coelho costumam dizer: vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Mas agora vai ser ainda mais difícil, porque já estão manetas.
“Mas deixem-me dizer-vos já que o Governo tem cumprido o seu programa de restrição orçamental”, acrescentou, referindo que num ano se reduziram “substancialmente os consumos intermédios na administração pública”.
Será que a detenção, na Suíça, de Abdul Rahman El-Assir, o intermediário de origem libanesa, naturalizado espanhol, parceiro de Manuel Dias Loureiro no BPN em negócios polémicos, em Marrocos e Porto Rico, poderá ajudar a solidificar as teses de Passos Coelho?
“E os maiores orçamentos, os mais significativos, são o da Saúde e o da Educação. Quem hoje disser que temos de substituir a poupança gerada pela suspensão do 13º e do 14º mês em redução de despesa pública tem de dizer quanto é que quer que se corte no Serviço Nacional de Saúde e nas escolas públicas em Portugal”, acrescentou Passos Coelho, que falava no 38º aniversário da Juventude Social Democrática.
Cá para mim não haverá qualquer problema em acabar com as despesas na saúde e na educação. Os portugueses, para além de estarem a aprender (sem ser nas escolas) a viver sem comer, já morrem sem ir ao médico. Além disso, não é preciso frequentarem as escolas. Se um dia precisarem de uma licenciatura basta-lhes ir à Lusófona…
Passos Coelho reconheceu que “a realidade” mostra que “os objectivos do país” estão “mais difíceis de alcançar”. De facto não está a ser fácil colocar Portugal ao nível dos países mais desenvolvidos do norte de… África.
“Não, a nossa reacção deve ser a contrária. Se é mais difícil de alcançar, temos de redobrar o nosso esforço e atenção para alcançar essas metas e objectivos”, afirmou o sumo pontífice.
E afirmou bem. Mas Portugal não perde grande coisa. Quanto Mais difícil melhor se verá a mestria de Passos Coelho no sentido de retirar do país todos aqueles que estão a mais e que, desde há muito, são conhecidos por… portugueses.
O primeiro-ministro sublinhou que num ano, o Governo reduziu “aproximadamente mil milhões de euros” tanto no orçamento da educação como no da saúde, tendo pedido aos enfermeiros, médicos, professores e todo pessoal administrativo e técnico que num momento de “emergência nacional” consigam manter ou “até fazer, se possível, mais com menos dinheiro”.
Para isso, como tinha sido revelado uns dias antes, o melhor é pô-los – para já – a ganhar a fenomenal quantia de quase quatro euros à hora. Mas, como para alguns mão há direitos adquiridos, que se ponham a pau. Um dias destes ainda vão ter de pagar para trabalhar.
“Precisaremos de encontrar novas formas de ajustar o nosso défice público e vamos fazê-lo, mas gostaríamos que houvesse menos demagogia à volta desta discussão e que cada um assumisse as suas responsabilidades e dissesse o que propõe para manter as metas a que nos propusemos enquanto país”, acrescentou.
Já tenho feito várias propostas nesse sentido. Uma delas passa por reduzir o número de refeições a que cada português tem direito. Se apenas com uma refeição, embora pequena, por dia o problema não se resolveu, proponho que durante aí seis meses passem a não ter nenhuma refeição.
Passos Coelho quis ainda deixar “bem claro” que para o Governo “há necessidade de haver uma justa e equitativa repartição de sacrifícios” e que o Executivo pensava ter tomado a melhor opção. Porém, sublinhou, havendo uma “doutrina que diz o contrário, essa doutrina deve prevalecer” e o Governo não deixará de a “absorver”.
Enquanto Passos Coelho falava da tal “justa e equitativa repartição de sacrifícios” ouviu-se uma estrondosa gargalhada. Entre outros, Duarte Lima, Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira e Eduardo Catroga riam-se a bandeiras despregadas.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: NO PODER POR TEMPO INDETERMINADO
Sem comentários:
Enviar um comentário