Brasilino Godinho – A Quinta Lusitana
Pela Internet chegou-nos a seguinte informação:
“Segundo o JN, a equipa que investiga a compra dos submarinos quando Paulo Portas era ministro da Defesa não consegue encontrar documentos sobre o negócio. "(...) Grande parte dos elementos referentes ao concurso público de aquisição dos submarinos não se encontra arquivada nos respetivos serviços [da Defesa], desconhecendo-se qual o destino dado à maioria da documentação", escreveu o procurador João Ramos, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, em despacho de 4 de junho que arquivou o inquérito em que era arguido Bernardo Ayala”.
Esta notícia reporta-se a uma situação aparentemente grave…
Digo aparentemente porque ela é muito fácil de resolver. E com a vantagem de evitar que os investigadores judiciais se dêem ao desagradável incómodo de apurar responsabilidades quanto ao desaparecimento dos documentos relativos à aquisição de submarinos – ou não fossem estes, meios de locomoção em águas profundas… e estas, pela sua obscura natureza, se constituírem temidos prenúncios de terríveis tempestades violentas e repentinas…
Ao tempo da exoneração do governo de que Paulo Portas fazia parte noticiou-se que, na madrugada do último dia do executivo, ele teria estado ocupado na ciclópica tarefa de extrair milhares de fotocópias de documentos do Ministério da Defesa - o que na confusão poderia ter dado azo à dispersão da papelada por partes incertas ou também devido ao disseminado calor da azáfama, à combustão de alguns papéis extraviados pelos ventos que se geram habitualmente no decorrer dos fogos…
Portanto - e nem relevando sobremaneira as hipotéticas confusão e abrasadora ocorrência - é óbvio que se agora faltam documentos o ilustre político certamente facultará as respectivas fotocópias.
Até porque, eventualmente, ele assim teria procedido como um cauteloso mago possuído da faculdade de antecipar o que veio a acontecer.
Da mesma forma que as autoridades não se inquietaram com a extracção das fotocópias de documentos oficiais por parte de Paulo Portas - o que é manifestamente vedado a qualquer funcionário por mais qualificado que seja - também, agora, não se devem preocupar demasiado com a falta dos valiosos papéis; visto que as fotocópias estão ali franqueadas em fortalecidas portas… ou seja: ao alcance do gesto de boa vontade e da oportuna assistência do famoso e actual ministro dos Negócios Estrangeiros.
Aliás e a concretizar-se a prestimosa colaboração do referido personagem político, ela será um inequívoco motivo bastante auspicioso para sua excelência. Desde logo, a aliciante perspectiva de, a curto prazo, receber uma elevada condecoração recompensadora do esforçado gesto. Distinção honrosa, zelosamente atribuída pela presidência da República a tão exemplar servidor da coisa pública…
Finalmente, sosseguem os espíritos dos detentores do poder judicial: as fotocópias estão em boas mãos ou em bem resguardados e fortes cofres domésticos da invulgar personalidade… Será só necessário dar um passo na direcção da mesma, ali posta, qual adorno decorativo, no Palácio das Necessidades - este grande edifício, das ditas que, por acaso ou desdita malvada, afligem os agentes da investigação em curso…
Daí, igualmente, se poder considerar um duplo titulo ao detentor do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros: o Paulo das Necessidades dos Negócios e o Paulo das Necessidades da Justiça. Para umas e outras prevalecem as Portas… Do Portas, entenda-se!
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