quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Angola: Manuel Vicente - Do petróleo a número dois do MPLA em apenas seis meses



FPA (EL) – Lusa, com foto

Luanda, 16 ago (Lusa) - Dos negócios para a política, em seis meses, Manuel Vicente tornou-se no 'número dois' de José Eduardo dos Santos na lista do MPLA às eleições gerais em Angola e é apontado como o futuro Presidente do país.

A 31 de janeiro, depois de muita especulação, Manuel Vicente, até então presidente da empresa pública de petróleos Sonangol, foi confirmado pelo Presidente da República como ministro de Estado e da Coordenação Económica.

Já na altura visto como uma estrela em ascensão, Vicente, de 56 anos, tornou-se no principal coadjutor do Presidente na condução da política económica de Angola e tem vindo a aparecer cada vez mais como uma "figura proeminente" do MPLA.

A 13 de junho assumiu o segundo lugar na lista do partido às eleições de 31 de agosto, ultrapassando dirigentes com peso e folha de serviços partidária, mas que não conseguiram contrapor as suas vontades aos desejos do Presidente.

Fiel a uma reputação de discrição, a sua primeira aparição pública como ministro só aconteceu três meses depois de entrar no Governo, a 10 de maio, quando apresentou o balanço das atividades do executivo de José Eduardo dos Santos no primeiro trimestre de 2012.

Mais recentemente, Manuel Vicente já apareceu pelo menos duas vezes em ações de campanha desde que começou o período oficial de campanha eleitoral, a 31 de julho.

Os rumores que situavam Vicente como o preferido de José Eduardo dos Santos na cadeia de sucessão começaram em março de 2011, quando Vicente, citado pelo semanário angolano Novo Jornal, disse que até ao final desse ano deixaria a presidência do conselho de administração da Sonangol.

Com a confirmação do seu nome como número dois na lista do partido às eleições, a hipótese torna-se mais real, já que, segundo a Constituição angolana, os números um e dois da lista vencedora das eleições gerais tornam-se automaticamente Presidente e vice-Presidente da República.

A politóloga angolana Paula Roque, da Universidade de Oxford, considera mesmo que, com um aliado como Manuel Vicente, que segundo a AFP é padrinho da sua filha Isabel, José Eduardo dos Santos poderia fazer uma falsa saída, mantendo-se indiretamente no poder, como Vladimir Putin, durante o mandato presidencial de Dmitri Medvedev.

"Manuel Vicente será o Medvedev de Dos Santos", diz a politóloga, citada em maio pela agência France Presse. "Vicente permitirá Dos Santos governar indiretamente, mesmo se sair, preservando os interesses da sua família e da elite militar e política e servindo de tampão entre ele e a ala reformadora do partido", acrescenta.

Engenheiro de formação e presidente da Sonangol entre 1999 e 2012, Vicente tem um perfil atípico, já que não fez carreira no exército nem no MPLA.

Manuel Vicente construiu o seu passado sempre nos petróleos, subindo a pulso no interior da Sonangol, tornando esta empresa de simples concessionária e distribuidora numa importante investidora, com ativos financeiros na Europa, Ásia e América, além de ter criado subsidiárias em alguns países africanos, sobretudo de língua portuguesa.

Da passagem de Vicente pela Sonangol há também a reter o facto de ter transformado uma empresa petrolífera num conglomerado onde coexistem participações nos capitais sociais dos mais variados setores: dos combustíveis aos serviços, passando pela banca, seguros e transportes.

Manuel Vicente formou-se em Engenharia a Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e antes de ser nomeado diretor-geral adjunto da Sonangol, em 1991, desempenhou, entre 1981 e 1987, as funções de chefe da unidade de energia da Sociedade Nacional de Estudos e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos.

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