segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Cabo Verde: TRAIÇÃO DE POLÍCIA, “ARREPIANTE INÉRCIA” DO PODER POLÍTICO

 


Detenção de ex-agente cicatriza feridas na PJ -- Diretor Nacional
 
24 de Setembro de 2012, 16:04
 
Cidade da Praia, 24 set (Lusa) -- O diretor-adjunto da Polícia Judiciária (PJ) de Cabo Verde considerou hoje que a detenção, em Paris, de um ex-agente acusado de ter desviado 189 quilogramas de cocaína em 2008 vem "cicatrizar feridas" na corporação, na sequência de uma "profunda traição".
 
Paulo Rocha confirmou hoje, em conferência de imprensa, a detenção de Alino Vieira, um ex-agente da polícia científica que se encontrava em fuga desde 2010 e que foi detido na sexta-feira passada na capital francesa.
 
"Para a PJ, tratou-se de uma operação com vista a cicatrizar feridas abertas com o que unanimemente caraterizamos de profunda traição. (...) Foi uma operação que reafirma o nosso compromisso com a aplicação da lei e com a garantia de que a justiça é feita", sublinhou Paulo Rocha.
 
Segundo o diretor adjunto da PJ cabo-verdiana, a detenção foi possível com o apoio das congéneres portuguesa, francesa e norte-americana, estando já em curso, através do Ministério da Justiça e da Procuradoria-Geral da República (PGR), a elaboração do processo de extradição.
 
Os 189 quilogramas de cocaína desaparecerem em março de 2008 dos cofres da PJ cabo-verdiana, então situados na Achada Santo António, na Cidade da Praia.
 
A fuga de Alino Vieira ocorreu em janeiro de 2011, depois de o ex-agente da PJ, após 16 meses em prisão preventiva, ter saído em liberdade na sequência de um "habeas corpus", devido a falhas processuais, aproveitando para fugir para Dacar (Senegal).
 
Meses depois, o STJ cabo-verdiano julgou o recurso interposto por Alino Vieira e de outros envolvidos no processo, confirmando a pena de 20 anos de prisão.
 
Segundo Paulo Rocha, o processo que levou à detenção de Alino Vieira em Paris começou no final de 2011, quando a companheira do ex-agente, que residia no Sal, emigrou para Portugal.
 
"Passou a ser uma prioridade para nós localizá-la e acompanhá-la, acreditando que esta acabaria, como de facto aconteceu, por nos permitir localizar Alino Vieira", explicou.
 
Questionado sobre como é possível o roubo ter acontecido, Carlos Reis, diretor nacional da PJ cabo-verdiana, lembrou que Alino Reis era "um amigo e um colega", agente há oito anos, e que nenhuma instituição consegue garantir a imunidade a situações do género.
 
O Ministério da Justiça e a PGR de Cabo Verde têm agora 30 dias para requerer o processo de extradição às autoridades francesas.
 
JSD.
 
Presidente do STJ denuncia "arrepiante inércia" do poder político
 
24 de Setembro de 2012, 16:23
 
Cidade da Praia, 24 set (Lusa) - O presidente do Supremo Tribunal da Justiça (STJ) cabo-verdiano criticou hoje a "arrepiante inércia" do poder político em Cabo Verde por não ter facultado uma lei moderna na revisão constitucional de 2010.
 
Arlindo Medina, citado pela agência noticiosa Inforpress, falava na abertura do I Congresso de Direito Constitucional Cabo-verdiano, Lusófono e Comparado, a que hoje presidiu na Cidade da Praia, admitiu também que a "imprecisão e ambiguidade" nas leis cabo-verdianas são produto de vários interesses antagónicos e de compromisso de "várias forças".
 
"O certo é que essa imprecisão e ambiguidade ocasionam quase sempre a intervenção dos tribunais que, dessa forma, passam a funcionar como uma espécie de intérprete e executor das escolhas políticas feitas em sede legislativa", frisou.
 
Para o presidente do STJ, a reivindicação de uma "justiça tributária de uma ideia do estado social" propicia uma maior intervenção dos juízes.
 
Em jeito de crítica à recente revisão constitucional em Cabo Verde, em que se registaram algumas mexidas nas normas relacionadas com o poder judicial, Arlindo Medina afirmou que os legisladores deveriam ter sido "mais assertivos" em alguns aspetos.
 
Segundo o presidente do STJ, a ausência de uma lei de justiça/contencioso administrativo, que se adeque às diretivas constitucionais, constitui "um dos grandes obstáculos" para a consolidação do Estado de Direito Democrático em Cabo Verde.
 
A lei de 1983, em vigor, frisou, "está em flagrante rutura com a Constituição".
 
"O poder político, numa arrepiante inércia, não se dignou facultar aos cabo-verdianos uma lei moderna, capaz de lhes oferecer uma tutela jurisdicional efetiva e de lhes assegurar uma adequada proteção jurisdicional nas suas relações com o Estado", sustentou.
 
O Congresso de Direito Constitucional Cabo-verdiano, Lusófono e Comparado conta com a participação de juristas nacionais e estrangeiros, de que se destacam Jorge Bacelar Gouveia (Universidade Nova de Lisboa) e Wladimir Brito (Universidade do Minho), considerado o "pai" da Constituição cabo-verdiana.
 
O Congresso é promovido pelo Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais (ISCJS), no quadro dos 20 anos da Constituição de Cabo Verde, que se assinalam na terça-feira.
 
JSD.
 
*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG
 
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