domingo, 23 de setembro de 2012

Guiné-Bissau: E UMA MANHÃ A CASA VEIO ABAIXO

 

FP - Lusa
 
Bissau, 23 set (Lusa) - Joãozinho Gomes tinha uma casa mas ela caiu e 15 pessoas ficaram sem teto. Sem emprego, Joãozinho está "a andar" desde então à procura de ajuda e à espera que pare a chuva: "havendo material temos vontade de trabalhar".
 
O drama de Joãozinho Gomes, 57 anos, não é único em Bissau ou no resto da Guiné-Bissau, onde a maior parte das casas são de construção precária, feitas de terra e cobertas de colmo, às vezes de zinco. Em anos de muita chuva os blocos de terra voltam a ser lama e as casas desmoronam-se.
 
Este ano, depois de um 2011 anormalmente seco, a época das chuvas (de maio a outubro) tem sido especialmente pródiga e a queda de casas também. Na última semana em Bissau, quase meia dúzia ruiu, segundo a televisão nacional, em Cacheu, a norte, caíram pelo menos 11, e em Bula, leste, foram abaixo mais algumas e até o pavilhão de uma escola.
 
Tudo isso pouco diz a Joãozinho Gomes, que olha com tristeza as paredes meio desfeitas da casa que o abrigava a ele e a sete filhos e respetivas famílias, 15 pessoas ao todo. Caiu tudo numa manhã de chuva, quando felizmente ninguém estava no interior.
 
Valeu-lhe a solidariedade do vizinho, que numa primeira fase acolheu parte da família e que agora ele mesmo se foi embora, porque uma parte da sua casa também caiu. Joãozinho dorme agora numa casa que ameaça cair, ao lado da sua casa caída. Alguns dos filhos espalharam-se pelas camas dos amigos.
 
Joãozinho nasceu na região de Mansoa e trabalhou na antiga empresa Ultramarina, no tempo colonial. A empresa fechou em 1980 e desde então nunca mais teve emprego. Nem nenhum dos seus filhos trabalha.
 
A casa tinha cobertura de colmo, que para ser impermeável tem de ser mudado todos os anos. Este ano Joãozinho teve um AVC e o colmo não foi mudado. Com tanta chuva a casa começou a meter água e ele, confessa, já andava desconfiado de que o pior podia acontecer. E uma manhã a casa veio mesmo abaixo.
 
"Tínhamos cama, espumas, coisas do fogão, caçarolas, algumas coisas estragaram-se outras não", conta à Lusa, explicando que desde que a casa caiu está a pedir ajuda.
 
"Estou a pedir ao senhor Presidente e ao primeiro-ministro se podem ajudar, estou aí a andar desde o outro dia mas até agora nada", diz.
 
Joãozinho também já pediu ajuda ao presidente da Câmara, que prometeu que passaria no local, mas sabe que enquanto não terminar a época das chuvas nada poderá ser feito. "O que nós queremos é que quando a chuva parar começarmos a arranjar. O problema é só o material, porque se vem o material temos vontade de trabalhar".
 
"É a força da chuva que obrigou a casa a cair. Faltam os alicerces. Não há meios para fazer casas melhores", diz, repetindo com voz baixa, entre os escombros, "meios ka tem" (meios não há).
 
Ainda assim, do mal, o menos. A solidariedade dos vizinhos deu-lhe um teto, ainda que também ele demasiado vulnerável. E os filhos ajeitam-se por ali. "Durmo em casa de colegas, a parte da casa onde eu dormia não caiu mas agora tenho medo de ficar aqui", diz um deles, 24 anos, estudante.
 
Só dormir. Porque durante o dia tomam-se as refeições e fica-se por ali. À volta da casa. Dos escombros de paredes erguidas há anos por eles e da sepultura de um outro filho que morreu aos 28 anos. Só com a vontade de trabalhar, enquanto a chuva não vai e as ajudas não vêm.
 

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