domingo, 16 de setembro de 2012

Portugal: COLIGAÇÃO LIGADA À MÁQUINA

 


Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião
 
Por "patriotismo", segundo o próprio, Paulo Portas decidiu não decretar a morte da coligação de que faz parte, mas deixou-a ligada à máquina sem grande esperança de lhe restituir vida verdadeira que permita a Portugal ter governo para os três anos que faltam de legislatura.
 
Não sabemos se Pedro Passos Coelho fez um testamento vital para a coligação. Conhece, como conhecemos todos, o CDS de Portas. Passos aceitará este prolongamento artificial de vida? Também ele é um "patriota" e não quer levar o país até ao risco de procurar outra solução governativa? Prefere ficar neste estado de coma provocado pela TSU do que correr o risco de regressar à vida deixando cair esta polémica medida?
 
Portas não esteve bem ao alimentar um tabu porque alimentou também um clima de desconfiança que irá marcar o resto da vida desta coligação. A coisa está de tal forma que um dos vice-presidentes do CDS achou por bem informar o país de que já não há química na coligação. O que agora está em jogo, no entanto, já não é a capacidade dos parceiros de coligação recuperarem a alegada química que um dia tiveram, o que agora se joga é a capacidade do poder executivo preservar a ligação às pessoas em nome de quem governa.
 
Passos Coelho não pode agora confundir determinação com casmurrice. Se o seu parceiro de coligação entrou no coro generalizado de criticas à fórmula TSU, não sobra muito espaço para manter a fórmula. É preciso que o Executivo não perca de vista o que aconteceu ontem em várias cidades do país. Não se governa contra tudo e contra todos. Por mais mérito que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças vejam nesta matéria, estão obrigados a perceber que já não estão a governar em nome da maioria política que os suporta no Parlamento, porque o CDS, mesmo que vote a favor, resolveu ficar de fora.
 
Sobre a evidente situação política explosiva que se antevia escrevi a semana passada, não pensando, no entanto, que o divórcio da coligação já tinha feito um caminho tão longo. Este casamento "sem química" mantém-se, como muitos outros casamentos, por causa da crise. É artificial. O instinto de sobrevivência que os pode levar até às autárquicas é o mesmo instinto que vai confirmar o divórcio a meio da legislatura.
 
As centenas de milhar que ontem sairam à rua, o CDS, os barões do PSD, o PS e o Presidente vão ter de obrigar Passos Coelho e Vitor Gaspar a recuar. A coligação está ligada à máquina. O país também.

*Leia mais sobre Portugal - (símbolo na barra lateral)
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana