Diário de Notícias, editorial
Agora é oficial: ao anunciar o novo pacote de austeridade a um país atónito, Pedro Passos Coelho conseguiu atingir aquilo a que todos os governos aspiram - a unidade de todo o povo. Só que, neste caso, contra as medidas avançadas.
Uma a uma, as cinco confederações (quatro patronais e uma sindical), que subscreveram o acordo social tripartido de concertação, em janeiro de 2012, recebidas em conjunto pelo Presidente da República, mostraram também elas o seu desagrado. E declararam três coisas importantíssimas.
A primeira é que boa parte do acordo "para o crescimento, a produtividade e o emprego" não está a ser posta em prática pelo facto de o Governo não concretizar as medidas de estímulo à economia acordadas. As tais que tantas vezes foram prometidas e descritas como essenciais.
A segunda é que nenhum dos parceiros sociais foi consultado pelo Governo quanto a medidas de um impacto social sem precedentes, como atesta a dimensão das 40 manifestações do passado sábado. O Governo, inebriado com o engenhoso mecanismo encontrado para baixar a TSU das empresas, nem cuidou de saber se tal interessava aos destinatários. Agora, o Executivo já sabe que ninguém lho quer comprar, nem mesmo aqueles, ligados aos sectores exportadores e de bens e serviços transacionáveis, que, por princípio, são favoráveis à descida da TSU.
A terceira é que o ganho em termos de reconhecimento internacional foi súbita e surpreendentemente posto em causa com o novo pacote de austeridade. A coesão da coligação já viu melhores dias, o Governo está maduro para ser remodelado, o arco parlamentar de apoio à política de estabilização está feito em pedaços.
Não parecendo ninguém, neste país, disposto a aceitar a iniciativa orçamental que o Governo terá considerado genial para 2013, Passos Coelhos e os seus conselheiros sabem que ou mudam o povo ou mudam eles. A primeira hipótese é, obviamente, uma ironia.
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