A Guiné-Bissau
estará presente na 67ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)
que começa na terça-feira (25.09). Mas quem representará o país que vive em
crise desde o golpe de Estado de 12 de abril?
A resposta será
conhecida no arranque da Assembleia Geral da ONU que decorre até dia 1 de
outubro. Até agora, tem-se vivido um braço de ferro. De um lado, Carlos Gomes
Júnior, primeiro-ministro deposto do golpe de Estado, em abril, tem afirmado
que representará o seu país. Do outro, o governo de transição considera que é a
única autoridade representativa do país.
Recentemente, em declarações à agência Lusa, o ministro dos Negócios
Estrangeiros de transição, Faustino Imbali garantiu que “a Guiné-Bissau será
representada por este governo que, há quatro meses, tem tido o controlo do
país, que paga salários que vocês recebem, que as nossas representação no
exterior recebem, que mantém a acalmia a que todos os guineenses assistem neste
momento, que negoceia, que representa a Guiné-Bissau em todas as conferências e
cimeiras internacionais”.
Carlos Gomes Júnior deverá já estar acreditado
Mas, recorde-se, o governo de transição é apenas reconhecido pela Comunidade
Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), sendo contestado por uma
grande parte da comunidade internacional, pelo que Paulo Gorjão, do Instituto
Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), considera que Carlos
Gomes Júnior continua a ser “o representante legítimo e legal” da Guiné-Bissau.
O analista político
avança ainda que tem informações de que “houve alguma persuasão, negociação,
pressão no sentido de a embaixada da Guiné-Bissau em Nova Iorque acreditar
Carlos Gomes Júnior como representante. Sei que, de facto, até há poucos dias,
foi a Carlos Gomes Júnior que foram atribuídas as credenciais”.
Apesar disso, em relação às autoridades de transição, o analista do IPRIS
reconhece: “não sei o que é que se passou do lado do governo deposto, portanto,
se eles também conseguiram essas credenciais”.
Vontade de avançar nas negociações
Independentemente da representação da Guiné-Bissau em Nova Iorque, CEDEAO e
CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), com posições até agora
divergentes, estarão em terreno neutro para discutir o futuro do país.
De acordo com Paulo
Gorjão, “há da parte das duas organizações algo novo que é a vontade de
encontrar um ponto comum”. Segundo o analista, por um lado, “a CEDEAO sabe que
este governo de transição, se a situação não se alterar, provavelmente terá um
mau desfecho, é muito provável que possa haver outro golpe de Estado”, pelo
que, acredita o plano de saída da crise desta organização (que contempla a
realização de eleições em 2013) “está morto ou moribundo, daí a aparente
flexibilidade que se tem visto nos últimos tempos da parte da CEDEAO”.
Por outro lado, “a CPLP sabe que a sua posição rígida não é viável”, diz Paulo
Gorjão. Pelo que “há espaço para que as duas [organizações] recuem e que
encontrem uma solução que seja satisfatória do ponto de vista das duas e para o
bem dos próprios guineenses”, acrescenta o analista do IPRIS. Essa plataforma
comum de entendimento está para breve, defende ainda Gorjão.
Durante esta semana, grande parte dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos
países da CEDEAO e da CPLP vai estar em Nova Iorque para participar na
Assembleia-geral, pelo que haverá a possibilidade de se realizarem numerosos
contactos de alto nível.
PAIGC continua unido a Gomes Júnior
A nível interno, na
Guiné-Bissau, surge agora um novo elemento. Domingos Simões Pereira,
ex-secretário-executivo da CPLP, admite candidatar-se à liderança do maior partido,
o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), que
estava no poder até ao golpe de Estado.
Paulo Gorjão afasta a palavra crise no seio do PAIGC, liderado até agora por
Carlos Gomes Júnior. O analista considera que Simões Pereira e Gomes Júnior
atuam de forma concertada e não estão em rota de colisão.
Segundo o analista “Domingos Simões Pereira tem plena consciência de que não
tem hipóteses de derrotar Carlos Gomes Júnior. Estou convencido de que falaram
e de que há um entendimento entre os dois”. Por isso, remata Paulo Gorjão, “o
partido continua muito unido à volta de Carlos Gomes Júnior”.
Autora: Glória Sousa - Edição: António Rocha
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