FA – ESI - Lusa, com foto
Berlim, 31 out
(Lusa) – O escritor José Eduardo Agualusa manifestou “grande admiração” pelos
jovens que têm exigido democracia em Angola, num sarau literário realizado na
terça-feira à noite em Berlim, para apresentar o último romance traduzido para
alemão, “Barroco Tropical”.
Já na parte
reservada ao diálogo com o público, e em resposta a uma pergunta sobre o futuro
de Angola, tema que perpassa toda a sua obra, Agualusa disse “depositar grandes
esperanças nos jovens manifestantes que correm riscos de perder oportunidades
de trabalho para lutar por algo em que acreditam”.
Numa sessão
realizada na Embaixada do Brasil na capital alemã, o autor angolano enalteceu o
trabalho de reconstrução levado a cabo nos últimos anos em várias cidades do
país, depois da devastação causada pela guerra civil.
Simultaneamente,
advertiu que “as pessoas também estão destruídas e isso é muito mais difícil de
reconstruir”.
Em nota mais
otimista, disse acreditar, no entanto, que, com o regresso a Angola de muitos
jovens “com novas ideias” que tinham saído do país, após o fim da guerra e
devido ao crescimento económico, “ainda se vá a tempo de corrigir muitas
distorções" no rumo trilhado pela antiga colónia portuguesa.
“Uma das coisas
mais assustadoras é ver pessoas que há 30 anos defendiam uma sociedade mais
justa no centro deste processo de capitalismo selvagem, em absoluto desprezo
pela maioria da população”, lamentou Agualusa.
Bem secundado pelo
seu tradutor para alemão, Michael Kegler, o escritor lusófono deu também espaço
ao humor e à improvisação, partilhando com a numerosa assistência ideias que
resultaram em livros, como o sonho que teve em Berlim, durante uma residência
artística, que acabaria por dar origem ao romance “O Vendedor de Passados”.
Quando alguém quis
saber que tipo de relações tem com o poder instituído em Angola, devido às suas
críticas ao regime, Agualusa foi evasivo, sublinhando, porém, que “é muito
difícil lidar com a estupidez, porque esta é imprevisível, e os regimes
totalitários tendem a ser muito estúpidos”.
Neste contexto, o
papel do escritor e dos livros, na opinião de Agualusa, é "criar um
território de reflexão e de debate, porque a maioria da população não tem
possibilidade de fazer ouvir a sua voz e os livros servem para isso, para a
transportar e promover".
Ao longo de duas
horas, ainda houve tempo para revelar que tem pensado em abraçar um projeto
literário sobre os 27 anos de guerra civil e os 13 anos de guerra da
independência, mas admitiu que se trata de “um universo difícil de penetrar,
apesar de já haver agentes dispostos a falar disso”.
Agualusa, o
escritor angolano mais lido da atualidade, com quatro obras traduzidas na
Alemanha, esteve em Berlim para participar no Festival Berlinda, organizado
pelo magazine cultural eletrónico berlinda.org e pela sua editora, Inês Thomas
Almeida.
O festival, que
termina a 17 de novembro, inclui vários eventos culturais lusófonos e prossegue
hoje com um concerto da grande revelação da música angolana, Aline Frazão, que
atuará pela primeira vez na Alemanha.
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