quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Agualusa afirma ter "grande admiração" por jovens que se manifestaram em Luanda

 

FA – ESI - Lusa, com foto
 
Berlim, 31 out (Lusa) – O escritor José Eduardo Agualusa manifestou “grande admiração” pelos jovens que têm exigido democracia em Angola, num sarau literário realizado na terça-feira à noite em Berlim, para apresentar o último romance traduzido para alemão, “Barroco Tropical”.
 
Já na parte reservada ao diálogo com o público, e em resposta a uma pergunta sobre o futuro de Angola, tema que perpassa toda a sua obra, Agualusa disse “depositar grandes esperanças nos jovens manifestantes que correm riscos de perder oportunidades de trabalho para lutar por algo em que acreditam”.
 
Numa sessão realizada na Embaixada do Brasil na capital alemã, o autor angolano enalteceu o trabalho de reconstrução levado a cabo nos últimos anos em várias cidades do país, depois da devastação causada pela guerra civil.
 
Simultaneamente, advertiu que “as pessoas também estão destruídas e isso é muito mais difícil de reconstruir”.
 
Em nota mais otimista, disse acreditar, no entanto, que, com o regresso a Angola de muitos jovens “com novas ideias” que tinham saído do país, após o fim da guerra e devido ao crescimento económico, “ainda se vá a tempo de corrigir muitas distorções" no rumo trilhado pela antiga colónia portuguesa.
 
“Uma das coisas mais assustadoras é ver pessoas que há 30 anos defendiam uma sociedade mais justa no centro deste processo de capitalismo selvagem, em absoluto desprezo pela maioria da população”, lamentou Agualusa.
 
Bem secundado pelo seu tradutor para alemão, Michael Kegler, o escritor lusófono deu também espaço ao humor e à improvisação, partilhando com a numerosa assistência ideias que resultaram em livros, como o sonho que teve em Berlim, durante uma residência artística, que acabaria por dar origem ao romance “O Vendedor de Passados”.
 
Quando alguém quis saber que tipo de relações tem com o poder instituído em Angola, devido às suas críticas ao regime, Agualusa foi evasivo, sublinhando, porém, que “é muito difícil lidar com a estupidez, porque esta é imprevisível, e os regimes totalitários tendem a ser muito estúpidos”.
 
Neste contexto, o papel do escritor e dos livros, na opinião de Agualusa, é "criar um território de reflexão e de debate, porque a maioria da população não tem possibilidade de fazer ouvir a sua voz e os livros servem para isso, para a transportar e promover".
 
Ao longo de duas horas, ainda houve tempo para revelar que tem pensado em abraçar um projeto literário sobre os 27 anos de guerra civil e os 13 anos de guerra da independência, mas admitiu que se trata de “um universo difícil de penetrar, apesar de já haver agentes dispostos a falar disso”.
 
Agualusa, o escritor angolano mais lido da atualidade, com quatro obras traduzidas na Alemanha, esteve em Berlim para participar no Festival Berlinda, organizado pelo magazine cultural eletrónico berlinda.org e pela sua editora, Inês Thomas Almeida.
 
O festival, que termina a 17 de novembro, inclui vários eventos culturais lusófonos e prossegue hoje com um concerto da grande revelação da música angolana, Aline Frazão, que atuará pela primeira vez na Alemanha.
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana