El
Periódico de Catalunya, Barcelona – Presseurop - Kap
A união bancária
sobre a qual os líderes europeus chegaram a acordo, a 18 de outubro, é apenas
uma peça de um jogo mais amplo que também inclui o controlo dos orçamentos
nacionais e o papel do BCE. E o fim das manobras é saber se, e como, Espanha
pedirá um resgate.
Será que o
primeiro-ministro Mariano Rajoy se vai decidir a solicitar o segundo resgate da
economia espanhola durante a cimeira que ontem começou em Bruxelas? Esta é a
pergunta que vale um milhão. Correndo o risco de ter de me emendar amanhã, a
minha opinião é que não o fará. Porquê?
O motivo não é, a
meu ver, como muitas vezes se diz, que Mariano Rajoy seja um indeciso que está
permanentemente a desfolhar o malmequer. A razão mais plausível é que tenha
sabido compreender que o resgate tem muito de jogo de poker, um jogo em que é
preciso saber esconder e jogar bem a nossa carta e obrigar os outros jogadores
a mostrarem as suas. E garanto-lhes que ninguém vai mostrar cartas nesta
cimeira.
Os negócios de uns,
os interesses de outros
Em Espanha há muita
gente, especialmente as elites financeiras, que acredita que não há nenhuma
carta para jogar e que o mais adequado é que, de uma vez por todas, se peça o
resgate. Deixando de lado o facto de muitos deles defenderem o resgate porque
isso convém aos seus negócios e sabem que não pagarão as condições, a verdade é
que Espanha tem, sim, uma carta para jogar.
Apesar de haver
motivos para criticar o governo pela maneira como está a gerir a crise, neste
caso deixem-me levantar a lança para o defender. Mariano Rajoy compreendeu que
a carta do resgate lhe dá jogo, mas antes de a mostrar vai forçar os outros
jogadores a destaparem as suas: a união bancária europeia, o novo fundo de
resgate, a intervenção do BCE, ou o controlo dos orçamentos nacionais.
A Alemanha não quer
jogar a carta da união bancária (possivelmente porque os seus bancos são como
um queijo gruyère) e prefere jogar a carta do controlo dos orçamentos nacionais
por um super ministro europeu. França opõe-se porque não quer a hegemonia alemã
e exige, primeiro, a união bancária. Nesta nova guerra franco-prussiana os
pontapés entre eles vêm parar no nosso traseiro.
De facto, os
elevados juros da dívida espanhola, ou seja, os custos adicionais que o Tesouro
espanhol tem de pagar para se financiar, não se devem apenas à enfermidade
espanhola, mas também a essa guerra franco-prussiana que ameaça o euro. Uma
parte desses custos adicionais responde ao temor dos investidores de que o euro
acabe por colapsar.
Partida de poker
Como já vimos,
depois de Mario Draghi ter dito que o BCE fará tudo o que for necessário para
salvar o euro, os juros da dívida espanhola foi baixando. Um indício claro do
efeito contagioso do euro.
Mas, apesar de o
BCE se dizer disposto a intervir, exigem que sejam os interessados a pedir-lhe
que o faça. É como se um hospital público cuja função é atuar por sua
iniciativa em casos de infeção contagiosa, exigisse que os próprios doentes
infetados lhe pedissem para agir. Não faz sentido. Por outro lado, ainda não se
sabe como vai atuar o novo fundo europeu de resgate e que capacidade de fogo
terá.
Como disse, estamos
perante um verdadeiro jogo de poker. Espanha não deve mostrar a sua carta até
que os outros tenham mostrado as suas. Mas ainda não é nesta cimeira que isso
acontecerá.
Traduzido do
castelhano por Maria João Vieira
Comentário
Plano de ajuda, refém
de Paris e Berlim
"O resgate de
Espanha agrava o braço de ferro entre a Alemanha e a França", titula
o El País, no dia seguinte ao do início do Conselho Europeu:
O resgate está aí,
ao virar da esquina, quase efetivado e dependente apenas do calendário
eleitoral de alguns países [...] Mas Espanha resiste a dar esse passo porque
Berlim continua a ser o grande temor de Rajoy. O executivo alemão quer ter a
última palavra no que diz respeito às condições, para apertar mais ou menos o
parafuso, e ser um pouco mais flexível tal como reclama Madrid.
A ajuda a Espanha
é, na opinião do diário madrileno, um novo motivo de confronto entre a França e
a Alemanha, acrescentando que o presidente François Hollande acusou a chanceler
Angela Merkel de adiar a concretização da união bancária para 2014 "por
interesses eleitorais", por causa das eleições alemãs que terão lugar no
outono de 2013.
Há divergências
entre Berlim e Paris sobre a maior parte dos grandes temas. A França quer um
resgate imediato da Espanha; a Alemanha prefere esperar. A França que que o
acordo de junho passado sobre a união bancária seja absoluta e integralmente
respeitado; a Alemanha conseguiu fazer prevalecer a sua interpretação. E assim,
ad infinitum. Apesar da chegada de Hollande representar um certo reequilibro
das relações de forças europeias, o euro é uma espécie de competição económica
de que a Alemanha saiu claramente vencedora.
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