Fillipe Mauro – Opera Mundi
Dossiê liberado a
pedido da Justiça revela que policiais, promotores e pastores estão envolvidos
no escândalo de pedofilia
Uma série de
autoridades do Oregon, nos Estados Unidos, encobriram por quase três décadas
casos de pedofilia praticados por chefes do Boy Scouts of America, um dos
maiores grupos de escotismo do país. Por ordem da Corte Suprema do estado, foi
aberto um dossiê que comprova que chefes locais de polícia, bem como promotores
e lideranças religiosas, participaram discretamente do esquema entre os anos de
1959 e 1985.
Os documentos
registram alegações de abuso sexual em todo o país, da pequena cidade de
Adirondacks, em Nova York, à capital do estado da Califórnia, Los Angeles.
Desde 1959, cerca de cinco mil chefes-escoteiros foram expulsos do Boy Scouts
of America sob suspeita de molestarem crianças.
À época, as
expulsões eram justificadas como necessárias pra preservar a reputação e os
projetos sociais da organização. No entanto, detalhes presentes nas mais de 14
mil páginas do dossiê provam que a instituição recorreu a manobras políticas e
jurídicas para manter os supostos crimes em silêncio.
Essas provas estão
arquivadas na sede do Boy Scouts of America e incluem memorandos da cúpula da
organização, cartas redigidas por supostas vítimas e recortes de matérias
publicadas pela imprensa norte-americana sobre o tema. Embora haja detalhes
sobre pedófilos confessos, também estão presentes alegações infundadas.
Por 26 anos, os
escoteiros conseguiram manter vários dos suspeitos fora dos postos de
liderança. No entanto, a própria organização admite que omitiu da polícia pelo
menos um terço dos casos de abuso. Em diversos casos, há evidência de que o Boy
Scouts of America teve “compaixão” dos suspeitos, preferindo confiá-los a
pastores e psiquiatras do que às autoridades.
Um dos casos mais
sintomáticos do escândalo de pedofilia entre os escoteiros ocorreu em
Louisiana, em agosto de 1965, quando um dos membros da organização confessou
ter estuprado três jovens, mas, ainda assim, não foi indiciado. Em carta à sede
do Boy Scouts of America, seis dias após a denúncia da mãe de uma das vítimas,
o diretor estadual revelava que o responsável pelo crime não seria processado
para "preservar o nome do escotismo”.
O porta-voz da Boy
Scouts of America, Deron Smith, emitiu um comunicado nesta terça-feira (18/10)
e alegou que "não há nada mais importante do que a segurança de nossos
escoteiros”. Ele admite que houve momentos em que as respostas da organização a
casos de abuso sexual foram "claramente insuficientes, inapropriadas ou
equivocadas". Smith estendeu às supostas vítimas e seus familiares
"seus mais profundos e sinceros sentimentos".
No início do mês, a
Boy Scouts of America publicou as conclusões de uma auditoria interna sobre o
tema. Jennifer Warren, psiquiatra que coordenou o levantamento, concluiu que,
das 1622 supostas vítimas dos chefes de escotismo, 1302 estavam envolvidas em
atividades da organização. Os casos restantes teriam ocorrido em contextos
desvinculados dos exercícios de escotismo.
No entanto, Warren
alega que “a taxa de abuso sexual entre os escoteiros é muito baixa”, já que se
revela inferior ao registrado pelo Departamento de Saúde dos Estados Unidos por
todo o país. Ela julga a taxa de 1,4 a 2,1 casos de estupro para cada 100 mil
membros algo aceitável diante da média nacional.
Leia mais
Sem comentários:
Enviar um comentário