The
Daily Telegraph, Londres – Presseurop – imagem Petar
Pismestrovic
Os líderes europeus
decidiram avançar com a união bancária. Mas muito mais devagar do que o que
concordaram no passado mês de junho. A culpa é da procrastinação e timidez da
Alemanha, lamenta o correspondente do Daily Telegraph em Bruxelas.
Angela Merkel
queria adiar uma nova supervisão bancária do Banco Central Europeu porque iria,
por sua vez, atrasar a decisão de utilizar os fundos de regaste do euro para
recapitalizar os bancos até ao período posterior às eleições alemãs.
Para ver as
falácias, o tom evasivo, o fugir das responsabilidades – um exercício
linguístico que ocorreu hoje nas primeiras horas do dia – é preciso contrastar
o antes e o depois.
Antes: Aqui fica a
versão original que os líderes começaram a discutir ontem: “Temos de avançar
para um quadro financeiro integrado, aberto, na medida do possível, a todos os
Estados-membros que queiram participar. Neste contexto, o Conselho Europeu
convida os legisladores a prosseguirem com o trabalho relativamente às
propostas legislativas de um Mecanismo Único de Supervisão (MUS) de forma
prioritária, com o objetivo de o completar até ao final do ano”.
Depois: Aqui fica o
texto final aprovado: “Temos de avançar para um quadro financeiro integrado…
Neste contexto, o Conselho Europeu convida os legisladores a prosseguirem com o
trabalho relativamente às propostas legislativas de um Mecanismo Único de
Supervisão (MUS) de forma prioritária, com o objetivo de se chegar a acordo
sobre o quadro legislativo até 1 de janeiro de 2013. A implementação
operacional será realizada ao longo de 2013”.
Isto não é nenhuma
vitória. A UE passou de um prazo a “cumprir” para um a “marcar” transferindo o
programa previsto para dezembro de 2012 para qualquer altura do próximo ano. O
que significa que a chanceler adiou o problema da recapitalização direta dos
bancos através do MEE para o período posterior às eleições de setembro de 2013,
contrariando por completo a decisão tomada na cimeira de junho.
De facto, conseguiu
evitar uma votação perigosa do Bundestag. Também é verdade que a UE mudou de
ideias sobre a decisão tomada há quatro meses e que tinha sido encarada como um
passo positivo e vital, para romper o laço entre os bancos e as soberanias.
Os líderes da UE
tiveram mais tempo – graças a Mario Draghi – para resolver as coisas, mas
recusaram assumir qualquer responsabilidade devido à fraca pressão dos mercados.
Estamos perante uma reação digna da declaração de Maria Antonieta “Não têm pão,
que comam brioches”: numa altura em que a agonia dos espanhóis ameaça dividir o
país e que todos os dias mil gregos estão a perder o seu trabalho, os líderes
da UE passaram uma noite em branco a deliberar sobre a alteração da palavra
“cumprir” por “marcar” de forma a evitar as suas responsabilidades.
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