sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Colômbia: Acordo de paz com as Farc traria economia e reduziria tráfico de drogas

 

 
Se acordo for fechado, países sul-americanos deverão investir menos em armas e o comércio de cocaína deverá ser reduzido, dizem especialistas. As duas partes começam em Oslo a discutir a paz pela quarta vez em 30 anos.
 
A quarta tentativa de um acordo de paz entre o governo da Colômbia e o comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) começa oficialmente nesta quinta-feira (18/10) em Oslo, na Noruega. As negociações devem se estender até o meio do ano que vem e serão concluídas na capital cubana, Havana.
 
Caso um acordo seja fechado, especialistas concordam que a paz não terá apenas um importante significado para a Colômbia, mas também para toda a região. Segundo Hubert Gehring, diretor da Fundação Konrad Adenauer na Colômbia, o acordo deverá fortalecer a América Latina não só no campo econômico, mas também no campo político.
 
Também deverá haver um processo de integração maior entre a Colômbia e seus países vizinhos, pois a perseguição a membros das Farc culminou na invasão de territórios vizinhos. Além disso, o governo colombiano, que investe muito no Exército do país para combater as Farc, deve diminuir os repasses e, assim, economizar dinheiro. E outros países sul-americanos, até então preocupados com a situação na Colômbia, deverão fazer o mesmo.
 
"Esse diálogo com as Farc vai ser benéfico porque esses países vão poder canalizar investimentos que iam para iniciativas militares para obras, desenvolvimento e saúde. Questões ambientais e sociais vão ser privilegiadas", avalia Argemiro Procópio, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
 
Comércio de drogas
 
Hoje a Colômbia é o terceiro maior produtor de cocaína pura na América do Sul, atrás do Peru e da Bolívia. A previsão é de que, mesmo com o fim das Farc, o país continue como grande exportador da droga. "Talvez haja menos crimes violentos no processo", afirma Procópio.
 
Já Gehring está convencido de que, se houver cooperação entre os países, o narcotráfico poderá ser diminuído substancialmente. Porém, o comércio de drogas não deve desaparecer rapidamente, já que alguns soldados das Farc devem atuar em outras organizações criminosas.
 
León Valencia, diretor-executivo da ONG colombiana Corporación Nuevo Arco Iris, também afirma que, se houver um acordo de paz com as Farc, o tráfico de drogas poderá até ser reduzido, mas não deverá acabar.
 
"O que se retira é a bandeira política, quer dizer, a relação entre a política e o tráfico de drogas. Mas, sem dúvida, o comércio das drogas não vai terminar. O crime organizado internacional vai continuar impulsionando tanto o cultivo quanto o processamento da cocaína", frisa.
 
Tentativas fracassadas
 
Esta é a quarta tentativa oficial de negociações com a guerrilha em 30 anos. A anterior havia ocorrido há exatos dez anos, quando o governo colombiano ordenou a suspensão das conversas por considerar que a guerrilha tinha aproveitado a desmilitarização de uma parte do território para se reforçar. Desta vez, o presidente colombiano excluiu a possibilidade de um cessar-fogo antes de se chegar a um acordo final.
 
Pelo fato de a agenda de discussões ser muito extensa – e conter temas de grande repercussão – é difícil prever se será divulgado um acordo de paz até julho de 2013, data prevista para o fim das conversações.
 
"Se as negociações vão dar certo, ninguém sabe. Mas eu acredito que as condições e as perspectivas desta vez são melhores do que nunca", conclui Gehring.
 
Cinco décadas de conflitos
 
Fundadas em 1964 durante uma revolta popular, as Farc são a maior e mais antiga guerrilha da América do Sul. Com o passar dos anos, porém, a guerrilha foi deixando para trás as antigas motivações políticas que levaram à sua criação.
 
Suas ações estão intimamente ligadas ao narcotráfico e incluem sequestros e outros crimes violentos. Segundo estimativas, os quase 50 anos de conflitos custaram a vida de mais de 200 mil pessoas.
 
"Temos muita esperança de que (as negociações) terminem num acordo de paz. O Estado se deu conta de que é impossível acabar a curto prazo com as guerrilhas pela via militar", disse Valencia.
 
Para especialistas, esse é o momento ideal para o diálogo, já que as Farc estão se enfraquecendo. O movimento, que segundo estimativas já reuniu cerca de 15 mil guerrilheiros, hoje tem pouco mais de 7 mil.
 
"Apesar da fraqueza e da incapacidade de chegar ao poder pela via militar, a guerrilha tem participado da agenda política nacional e internacional nos últimos 20 anos. Por isso o Estado precisa sair desse conflito marginal, que impacta a política de uma maneira impressionante", frisa Valencia.
 
Modelo esgotado
 
Com o apoio dos Estados Unidos, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (que ficou no poder de 2002 a 2010) iniciou uma guerra sangrenta contra os rebeldes, incluindo violações aos direitos humanos.
 
O atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ex-ministro da defesa de Uribe, manteve a política de embate com a guerrilha. Porém, ao contrário de seu antecessor, Santos vem se mostrando mais aberto ao diálogo.
 
"Acho que as Farc chegaram à conclusão de que esse modelo está um pouco esgotado, sobretudo porque eles têm um momento privilegiado na América Latina, ou seja, um governo colombiano que tem disposição ao diálogo", afirma Procópio.
 
Mas o caminho para a paz é ainda muito longo. Nos próximos dez meses, o governo colombiano e a guerrilha discutirão uma agenda composta por cinco temas centrais: reforma agrária, garantia do exercício político dos antigos guerrilheiros, fim do conflito armado, narcotráfico e, por último, o direito das vítimas dos ataques entre a guerrilha e o governo colombiano.
 
Autor: Fernando Caulyt - Revisão: Mariana Santos
 

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