domingo, 21 de outubro de 2012

Em SP, manifestantes fazem protesto em frente a prédio onde mora acusado de tortura

 


Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
 
São Paulo – Movimentos sociais, liderados pelo Levante Popular da Juventude, fizeram hoje (20), na região da Avenida Paulista, no centro de São Paulo, uma manifestação para expor publicamente um ex-militar reformado acusado de ter comandado sessões de tortura e homicídios durante a ditadura militar. O tipo de manifestação é inspirada em ações similares feitas na Argentina e no Chile chamadas de Escracho.
 
Cerca de 60 pessoas, segundo a Polícia Militar, fizeram uma pequena caminhada pela Avenida Paulista até a Rua Manoel da Nóbrega, endereço onde vive atualmente o ex-militar Homero César Machado, que chefiou equipes de interrogatório no antigo DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) entre os anos de 1969 e 1974.
 
“O que fazemos aqui é reivindicar a memória das pessoas que lutaram contra a ditadura militar e também reivindicar o presente, porque hoje vemos esses torturadores impunes. Este torturador [Machado] vive tranquilo em sua casa, não foi julgado e nem condenado, vive com aposentadoria paga com dinheiro público. O que ficou impune na ditadura dá carta branca para que esses crimes continuem acontecendo”, disse Paula Sacchetta, da Frente de Esculacho Popular.
 
Durante a caminhada, manifestantes colaram, em postes e latas de lixo, cartazes com fotos de pessoas que teriam sido torturadas por Machado na época da ditadura militar e distribuíram folhetos para a população informando que “um torturador mora neste bairro”.
 
Na frente do prédio onde Machado mora, parentes de Virgílio Gomes da Silva, que foi morto e torturado durante a ditadura militar, seguraram um megafone para dizer aos vizinhos que ali “mora um torturador”. Uma coroa de flores foi depositada em frente ao prédio e gritos e faixas lembravam um dos lemas do movimento: “Se não há Justiça, há esculacho popular”.
 
A viúva de Virgílio Gomes da Silva, Ilda Martins da Silva, acompanhou a manifestação de hoje com seu filho, Virgílio Gomes da Silva Filho e uma neta. “Ele [Virgílio Gomes da Silva] foi morto e torturado [na ditadura militar] e está desaparecido há 42 anos”, disse ela. Ilda foi presa no dia seguinte com três de seus quatro filhos.
 
“Quando eu fui presa, ele já estava morto. E eu não sabia. Fiquei presa com meus três filhos. Levaram eles para o Dops e, de lá, para um juizado. Ofereceram eles [meus filhos] para doação. Fiquei presa por nove meses, quatro deles incomunicável, sem poder ver meus filhos. Fui torturada tanto fisicamente quanto psicologicamente”, disse.
 
O filho de Virgílio tinha 6 anos na época. “O que sabemos são relatos de companheiros que estavam presos na época. Sabemos que no dia 29 de setembro de 1969, ele foi preso numa emboscada. Levaram ele para o Dops [Departamento de Ordem Política e Social] e bastaram seis horas de tortura para conseguirem matá-lo”, disse Silva Filho. Segundo ele, Homero César Machado foi um dos torturadores de seu pai.
 
A família de Vírgilio Gomes da Silva disse esperar pela condenação judicial dos torturadores da época. “Espero sim [condenação]. Não importa o tempo que dure para a justiça chegar”, disse o filho.
 
O ato chamou a atenção de vários moradores da região. Vários deles apenas espreitavam a manifestação pela janela, mas alguns desceram de seus apartamentos para saber o que estava ocorrendo. “Cumprimento o cara [Machado] há anos e nunca imaginei. Fiquei com nojo. Quando vi as fotos [dos torturados estampadas nos cartazes] e li as histórias, fiquei mesmo revoltada”, disse Sandra Gaui, moradora de um prédio próximo.
 
“Acho esses escrachos fundamentais porque, não é coisa dos atingidos ou das famílias. É coisa da sociedade, principalmente de jovens que abraçaram essa causa. É um pessoal que diz que a violência policial de hoje é fruto do passado e que os desaparecidos precisam ser localizados para se acabar com a impunidade”, disse Ivan Seixas, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos.
 
Segundo Seixas, o capitão Homero “era um dos militares mais furiosos nas torturas”. Para ele, movimentos como esse contribuem para se fazer uma condenação moral dos torturadores, enquanto a condenação judicial ainda não ocorreu.
 
A Agência Brasil não conseguiu falar com Machado. Um dos funcionários do prédio informou que Machado não estava no local no momento do ato. Uma vizinha de apartamento disse que há 15 dias ele não se está no prédio. “Ele sempre foi muito gentil e educado. Até tomei um susto agora com essas informações. Ele não está aí. As correspondências dele estão na mesinha do lado do nosso corredor”, disse Fernanda Teixeira de Carvalho Souza.
 
Edição: Fábio Massalli
 

4 comentários:

Anónimo disse...

BANDO DE IMBECIS !!!! VÃO PROTESTAR NA FRENTE DA CASA DO BOLSONARO, PARA VER O QUE LHES ACONTECE. COVARDES !!!

AMEAÇAR VELHOS É MUITO FÁCIL.

Anónimo disse...

Os esquerdistas indignados com o processo do Mensalão deveriam vir a público explicar por que se exigem tantas provas e pudores quando os acusados são militantes petistas, mas nenhuma prova quando as acusações recaem contra militares e supostos “torturadores”.

Ainda que inexistisse a Lei de Anistia, quaisquer crimes supostamente cometidos por militares e policiais contra militantes de esquerda, guerrilheiros e terroristas durante as décadas de 1960 e 1970 deveriam receber o mesmo tratamento solene e respeitoso que aquele reservado aos episódios referentes ao Mensalão.

É simples compreender por quê: praticamente toda acusação contra os militares (especialmente os casos referentes à “tortura” e “desaparecimentos”) baseiam-se em testemunhos das próprias vítimas ou de conhecidos das vítimas. Seriam tais testemunhos suficientes para levar à condenação de um mensaleiro, por exemplo?

Anónimo disse...

A imprensa engajada acostumou-se a tratar os “crimes” cometidos durante o regime militar como fatos consumados, não cabendo quanto a eles qualquer tipo de questionamento, refutação ou defesa típicos do processo legal. Diante, entretanto, da circunstância com que os jornalistas exigiram que os crimes do Mensalão fossem tratados, nada mais justo que esperar deles, agora, a mesma abordagem em relação aos supostos “crimes” herdados do regime militar.

Se pretendem mesmo anular a anistia e levar aos tribunais octogenários fardados, é bom que aprendam a respeitar o contraditório jurídico e parem de acusar inocentes até o transitado em julgado (incluindo-se aí todos os recursos possibilitados pela legislação penal brasileira). Ou será que a imprensa reserva tais privilégios somente a confessos traficantes, homicidas e estupradores, mas não aos militares da reserva?

Não se trata aqui, evidentemente, de uma defesa da “tortura” ou da violência ilegal praticada pelo Estado contra seus cidadãos em qualquer circunstância, mas sim da proteção ao devido processo legal para todo suspeito ou réu independente de sua origem ou inclinação ideológica. Não foram poucos os jornalistas brasileiros que apuparam a morte de Osama Bin Laden sem que ele pudesse ser julgado por seus crimes, por exemplo.

Anónimo disse...

A imprensa engajada acostumou-se a tratar os “crimes” cometidos durante o regime militar como fatos consumados, não cabendo quanto a eles qualquer tipo de questionamento, refutação ou defesa típicos do processo legal. Diante, entretanto, da circunstância com que os jornalistas exigiram que os crimes do Mensalão fossem tratados, nada mais justo que esperar deles, agora, a mesma abordagem em relação aos supostos “crimes” herdados do regime militar.

Se pretendem mesmo anular a anistia e levar aos tribunais octogenários fardados, é bom que aprendam a respeitar o contraditório jurídico e parem de acusar inocentes até o transitado em julgado (incluindo-se aí todos os recursos possibilitados pela legislação penal brasileira). Ou será que a imprensa reserva tais privilégios somente a confessos traficantes, homicidas e estupradores, mas não aos militares da reserva?

Não se trata aqui, evidentemente, de uma defesa da “tortura” ou da violência ilegal praticada pelo Estado contra seus cidadãos em qualquer circunstância, mas sim da proteção ao devido processo legal para todo suspeito ou réu independente de sua origem ou inclinação ideológica. Não foram poucos os jornalistas brasileiros que apuparam a morte de Osama Bin Laden sem que ele pudesse ser julgado por seus crimes, por exemplo.

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