Daniel do Rosário,
correspondente em Bruxelas - Expresso
Comissão Europeia e
BCE minimizam novas conclusões do FMI sobre impacto da austeridade no
crescimento e defendem que ajustamento já está a ser feito com flexibilidade.
A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) rejeitam que o erro das previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) em relação ao impacto da austeridade no crescimento possa servir de argumento para abrandar a consolidação orçamental em países como Portugal. Enquanto Bruxelas assume uma postura intransigente, Frankfurt sublinha que o processo de ajustamento já está a ser feito com flexibilidade.
Para as outras duas
entidades que compõem a troika (juntamente com o FMI), a forma como os
programas de ajustamento estão a ser aplicados tem em conta a realidade
económica dos países e o contexto em que estes se encontram e tem igualmente um
elemento de flexibilidade com provas dadas: o exemplo, é o ano suplementar já
concedido a Portugal para reduzir o défice.
Estas posições
foram veiculadas ao longo da última semana na imprensa. Contactado pelo
Expresso, o serviço de imprensa do BCE remeteu para declarações feitas por
Vítor Constâncio à MNI, uma agência de notícias financeiras, em Tóquio, à margem
da reunião do FMI na capital japonesa, no dia 12 de Outubro.
Cuidado com a
análise aos dados do FMI
Aí, o
vice-presidente do BCE afirmou que os novos dados do FMI "devem ser
analisados cuidadosamente" e, em relação aos programas de ajustamento curso,
salientou que é preciso "observar de forma contínua os resultados e fazer
as adaptações necessárias para garantir o seu êxito".
De acordo com o
texto da referida agência, Constâncio declarou que, no passado, as autoridades
políticas demonstraram a flexibilidade necessária ao adiar por um ano as metas
orçamentais de Portugal e Espanha, acrescentando que é essencial manter essa
flexibilidade no futuro.
Questionado sobre
se o impacto negativo da austeridade no crescimento pode fazer com que a
condicionalidade dos futuros programas de ajustamento seja transferida dos
cortes orçamentais para as reformas estruturais, Constâncio empurrou para
Bruxelas: "a principal responsabilidade cabe à Comissão, que tem a
competência legal de negociar estes programas".
Um artigo que
passou despercebido
Em Bruxelas, o
porta-voz do comissário responsável pelos assuntos económicos e monetários
remeteu o Expresso para um artigo de opinião publicado no Wall Street Journal,
no dia 13 de Outubro, no qual Olli Rehn efectua uma análise mais detalhada e
intransigente do relatório do FMI.
No texto, Rehn
afirma que para um país sob programa de ajustamento, como Portugal,
"abandonar ou inverter a sua política de consolidação orçamental" é
uma "tentação ilusória", em relação à qual se deve ser
"profundamente desconfiado".
O comissário do
euro recorre igualmente ao exemplo do ano suplementar dado a Portugal e Espanha
para reduzir o défice para argumentar que o Pacto de Estabilidade e Crescimento
do euro "pode adaptar o ajustamento orçamental acordado para um país se a
situação económica assim o pedir". E continua a explanar argumentos para
"desmascarar o mito prejudicial" de que os governos europeus estão a
aplicar "duras medidas de austeridade de forma cega", sob o olhar de
uma Comissão Europeia "obcecada em implementar metas do défice nominal
escolhidas de forma arbitrária".
O caminho é este
O comissário
finlandês admite que a consolidação orçamental possa ter um efeito negativo no
crescimento a curto prazo e reconhece que o estudo do FMI "merece ser
analisado", mas avisa que se deve ser "cauteloso quanto a retirar
conclusões demasiado depressa".
Além do impacto dos
"multiplicadores orçamentais", que considera discutível, para o
responsável comunitário há outros factores a prejudicar o crescimento
económico, como por exemplo a total perda de acesso aos mercados ou a queda da
confiança dos consumidores e investidores.
E conclui que
"a consolidação orçamental, efectuada a um ritmo apropriado para cada
país, deve permanecer como um elemento central" da política económica da
Europa: "Agora não é o momento de nos afastarmos de políticas que
conduziram a esta melhoria (nos défices e dívidas dos países da zona euro) e
que estão a contribuir para um regresso gradual da confiança na zona euro".
Sem comentários:
Enviar um comentário