quinta-feira, 11 de outubro de 2012

FMI: O PROFESSOR CONFESSA A SUA INCOMPETÊNCIA

 


Daniel Oliveira – Expresso, opinião, em Blogues
 
No relatório semestral sobre o estado da economia mundial, tornado público esta semana, o FMI reconhece que as medidas de contenção orçamental estão a ter um impacto negativo muito maior do que aquilo que previam. A Europa, e em especial os países intervencionados, como Portugal, estão entre as vítimas deste "erro de cálculo".
 
O FMI pergunta: "Estaremos a subestimar os multiplicadores orçamentais de curto prazo?" E respondem: sim, estão. Nos maravilhosos modelos de projeção que usam, por cada euro de corte na despesa pública ou em aumento de impostos o PIB perderia 50 cêntimos. A realidade, desde 2008 até hoje, foi bem diferente. Por cada euro de corte na despesa pública ou de aumento de impostos o PIB perdeu entre 90 cêntimos e 1 euro e 70 cêntimos. Em geral, a economia perdeu mais do que o Estado ganhou. Ou seja, já todos perceberam, com exceção de Angela Merkel e Passos Coelho, que a austeridade não só não resulta como é contraproducente.
 
Nada disto é novidade para os que, tantas vezes tão isolados, disseram que era exatamente isto que aconteceria. Que as políticas de austeridade teriam efeitos devastadores cada vez mais profundos e que não só não resolveriam os problemas dos países intervencionados como os acentuariam. Tinham razão e nem se pode dizer que ela era difícil de ter. Era uma evidência. Infelizmente, chegaram alguns economistas comprometidos com uma agenda ideológica radical - que têm imposto à Academia - e uns políticos incompetentes para que a evidência fosse tomada como cegueira. Os resultados estão à vista.
 
Perante esta mea culpa, quem compensa os países intervencionados pelo FMI (e não só) pelos danos causados às suas economias, aos trabalhadores e aos cidadãos? Quem paga o prejuízo da incompetência? Não só ninguém o fará como, já se percebeu, a receita que o próprio FMI reconhece ser um desastre, continuará a ser aplicada pelas instituições europeias e pelo... FMI.
 
A confissão do erro e a insistência no erro obriga-nos a repensar a nossa posição. Perante a confissão de incompetência do professor, como se pode continuar a manter a estratégia do "bom aluno"? Como podemos continuar a seguir uma receita em que nem quem a prescreveu acredita? Como é possível infligirmos a nós próprios estes maus tratos, sabendo nós e sabendo quem o exige que o façamos, que eles não resultam?
 
É mau aceitar uma intervenção externa. É péssimo aceitar uma intervenção externa que não resulta. É grave aceitar uma intervenção externa em que a própria instituição que intervém não acredita. É estúpido aceitar uma intervenção externa em que a própria instituição que intervém não acredita mas que, ainda assim, mantém inalterável.
 

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