Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
No relatório
semestral sobre o estado da economia mundial, tornado público esta semana, o FMI
reconhece que as medidas de contenção orçamental estão a ter um impacto
negativo muito maior do que aquilo que previam. A Europa, e em especial os
países intervencionados, como Portugal, estão entre as vítimas deste "erro
de cálculo".
O FMI pergunta:
"Estaremos a subestimar os multiplicadores orçamentais de curto
prazo?" E respondem: sim, estão. Nos maravilhosos modelos de projeção que
usam, por cada euro de corte na despesa pública ou em aumento de impostos o PIB
perderia 50 cêntimos. A realidade, desde 2008 até hoje, foi bem diferente. Por
cada euro de corte na despesa pública ou de aumento de impostos o PIB perdeu
entre 90 cêntimos e 1 euro e 70 cêntimos. Em geral, a economia perdeu mais do
que o Estado ganhou. Ou seja, já todos perceberam, com exceção de Angela Merkel
e Passos Coelho, que a austeridade não só não resulta como é contraproducente.
Nada disto é
novidade para os que, tantas vezes tão isolados, disseram que era exatamente
isto que aconteceria. Que as políticas de austeridade teriam efeitos
devastadores cada vez mais profundos e que não só não resolveriam os problemas
dos países intervencionados como os acentuariam. Tinham razão e nem se pode
dizer que ela era difícil de ter. Era uma evidência. Infelizmente, chegaram
alguns economistas comprometidos com uma agenda ideológica radical - que têm
imposto à Academia - e uns políticos incompetentes para que a evidência fosse
tomada como cegueira. Os resultados estão à vista.
Perante esta mea
culpa, quem compensa os países intervencionados pelo FMI (e não só) pelos danos
causados às suas economias, aos trabalhadores e aos cidadãos? Quem paga o
prejuízo da incompetência? Não só ninguém o fará como, já se percebeu, a
receita que o próprio FMI reconhece ser um desastre, continuará a ser aplicada
pelas instituições europeias e pelo... FMI.
A confissão do erro
e a insistência no erro obriga-nos a repensar a nossa posição. Perante a
confissão de incompetência do professor, como se pode continuar a manter a
estratégia do "bom aluno"? Como podemos continuar a seguir uma
receita em que nem quem a prescreveu acredita? Como é possível infligirmos a
nós próprios estes maus tratos, sabendo nós e sabendo quem o exige que o
façamos, que eles não resultam?
É mau aceitar uma
intervenção externa. É péssimo aceitar uma intervenção externa que não resulta.
É grave aceitar uma intervenção externa em que a própria instituição que
intervém não acredita. É estúpido aceitar uma intervenção externa em que a
própria instituição que intervém não acredita mas que, ainda assim, mantém
inalterável.
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