Maria Luiza Rolim –
Expresso - Getty Images
Clima na Guiné-Bissau
é de "perseguição e medo". Liga Guineense dos Direitos Humanos tem
recebido chamadas de "pessoas apavoradas" a pedirem proteção
"para não serem atacadas por indivíduos armados".
A Guiné-Bissau está a ferro e fogo desde o ataque, no passado domingo, ao quartel de uma unidade de elite das forças armadas, que fez sete mortos. Está em curso uma "caça ao homem", denuncia a Liga Guineense dos Direitos Humanos, organização que descreve uma "perseguição total no país".
De acordo com a
Liga, uma das vítimas desta perseguição é Iancuba Indjai, porta-voz da
Frenagolpe, coligação de partidos, que foi detido por homens armados a meio da
manhã de ontem na sede do PAIGC. Foi brutalmente espancado e "enfiado na
bagageira de um carro".
Indjai terá sido
detido porque uma das viaturas usadas no ataque pertence ao ex-secretário de
Estado, Tomás Barbosa, também membro da Frenagolpe (Frente Nacional Antigolpe
de Estado desencadeado a 12 de abril).
Estão também a ser
perseguidas pessoas ligadas ao PAIGC (Partido Africano de Independência da
Guiné e Cabo Verde, no poder até ao golpe).
A Liga afirma à
Lusa estar a receber, a cada minuto, chamadas de pessoas apavoradas, que estão
a buscar refúgio para se resguardarem e não serem atacadas por indivíduos
armados". "Vive-se num clima de medo generalizado", adianta o
presidente da organização, Luís Vaz Martins.
Governo exige
extradição de ex-primeiro-ministro
Entretanto, depois
de ter acusado Portugal, a CPLP e o ex-primeiro-ministro guineense de
promoverem a violência em Bissau, o Governo de transição da Guiné-Bissau exige
a Lisboa a extraditação urgente de Carlos Gomes Júnior.
Em declarações à
TSF, o ministro da Comunicação do Governo transitório da Guiné-Bissau não
exclui a hipótese de o antigo primeiro-ministro estar também envolvido no
ataque ao quartel.
O
ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, atualmente a residir em Lisboa, é
acusado de ser um dos promotores "desta tentativa de desestabilização,
cujo objetivo é derrubar o Governo de transição".
O Executivo entende
que não se tratou de "uma revolta interna dos militares mas sim de
elementos estranhos às Forças Armadas", afirmou ontem o ministro dos
Negócios Estrangeiros do Governo de transição, Faustino Imbali.
ONU e CPLP apelam à
calma
A ONU condenou
ontem o ataque a base militar e apelou à calma. Em comunicado divulgado na
segunda-feira, o gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
afirma estar a "acompanhar a situação de perto".
Também a Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) condena "com veemência" o
"uso recorrente da força militar" na Guiné-Bissau, lamenta "a
perda de vidas humanas, e apela a um "diálogo político inclusivo"
para garantir "o retorno à normalidade constitucional e à busca de uma
solução duradoira para os problemas que afetam o país".
Num comunicado
divulgado ontem, a CPLP reitera a disponibilidade da instituição em
"apoiar a Guiné-Bissau nos seus esforços para a restauração plena da
legalidade e ordem constitucional em prol do desenvolvimento
socio-económico".
A Liga Guineense
dos Direitos Humanos defende uma "peritagem insenta" aos incidentes
da madrugada de domingo.
De acordo com a
versão oficial, o ataque liderado pelo capitão Pansau N'Tchamá - que está a
monte - provocou sete mortos, sendo seis de nacionalidade senegalesa,
presumivelmente mercenários contratados pelo militar.
Fontes na
Guiné-Bissau, no entanto, admitem que tudo pode não passar de um ajuste de
contas. Recorde-se que N'Tchamá, considerado próximo do ex-primeiro-ministro
Carlos Gomes Júnior, liderou o comando militar que em 2009 assassinou o então
Presidente Nino Vieira. De acordo com as forças de segurança guineenses, o
militar regressou recentemente a Guiné, procedente de Portugal, onde se
encontrava desde 2009 a receber formação militar.
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