segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Moçambique: MENINGITE PRIVA LOCOMOÇÃO A EKSON MATOLA

 

Coutinho MacanandzeVerdade (mz)
 
Ekson Matola, de oito anos de idade, residente no bairro de Hulene “B”, arredores de Maputo, não fala, não anda, não come sozinho e nem se pode manter de pé. É uma criança condenada a nunca mais se locomover porque uma meningite paralisou os seus membros inferiores e superiores. Vive deitado numa esteira incómoda, da qual só se livra quando se encontra nos braços da mãe, Margarida Matola. O menino, segundo a progenitora, está neste estado desde os dois meses de vida, altura em que foi acometido pela doença.
 
Margarida Matola e Feliciano Novela são os pais biológicos do pequeno Ekson, que vive a dor de depender de terceiros para fazer tudo. Nasceu normal como muitas outras crianças, porém, aos dois meses e meio de vida, contraiu uma meningite que culminou com a deficiência física, que se traduziu na perda dos movimentos. Perante aquele cenário, diga-se, triste, a família e o menino vivem um tremendo martírio.
 
Entretanto, Feliciano Novela, o pai, abdicou de desempenhar tal papel. Pura e simplesmente abandonou-os e eximiu-se da sua responsabilidade paternal e social. Desde que saiu de casa em 2004 ainda não deu nenhum sinal de vida.
 
Margarida Matola conheceu Novela algures na cidade de Maputo. Decidiram unir-se e formar uma família. Ela acolheu-o em sua casa, mas, passado algum tempo, a ideia de construir um lar não passou de um plano falhado. Ekson Matola é fruto dessa relação.
 
“Pensei que com ele podia construir uma família como meu marido. Acolhi-o em minha casa, mas ele desvalorizou a minha generosidade. Deixou- me na desgraça e passo dias e noites a chorar. Agora procuro garantir carinho e saúde ao meu filho”.
 
Margarida trabalha numa empresa de segurança na qual está afecta ao sector das limpezas. Para além de Ekson, toma conta de outros dois filhos e consegue sustentá-los com o parco salário que ganha.
 
Se para alguns ter pai é sinónimo de felicidade, Ekson vive o contrário. Por causa do seu estado de saúde perdeu o carinho paternal. Visivelmente emocionada, a senhora conta que antes de o menino ficar deficiente já vivia uma relação marcada por atritos com o esposo.
 
Com a doença, o ambiente entre o casal tornou-se “turvo”, insustentável. Novela abandonou a família e eximiu-se de custear as despesas do lar e do tratamento do seu filho por alegada falta de dinheiro.
 
“O meu filho não anda, não fala, não fica de pé e não come sozinho. Ele é dependente em tudo. Está sempre deitado ou no colo. Quando vou trabalhar ele fica sozinho e, às vezes, em casa sozinho porque durante a manhã a minha filha vai à escola e o irmão faz alguns biscates para ajudar nas despesas da casa”, disse.
 
O começo da amargura
 
A doença de Ekson Matola começou nos fins de 2004. Meses depois de vir ao mundo, passou mal e a mãe procurou por um acompanhamento médico no Hospital Central de Maputo.
 
Através dos exames clínicos ficou-se a saber que ele padecia de meningite e tinha um líquido no cérebro que aumentava o tamanho da sua cabeça. Para contrariar esta tendência, os médicos tiveram que lhe submeter a uma cirurgia. No princípio, parecia que tudo estava controlado, até o dia em que a criança teve uma convulsão, em Junho do 2011.
 
Em Setembro do mesmo ano, houve necessidade de se proceder a mais uma operação porque o mesmo líquido que deteriorava o seu quadro clínico persistia e a anterior cirurgia tinha criado uma ferida profunda na cabeça, da qual o líquido em causa se expelia. Feito o tratamento, o tamanho da cabeça diminuiu, mas depois de algum tempo o menino teve uma segunda convulsão e foi parar à sala de reanimação durante dois dias.
 
Segundo a mãe, o maior pesadelo foi ver o filho perder o movimento dos membros. A ele, o destino, diga-se, trágico, arrancou a oportunidade de frequentar uma escola, de correr de um lado para o outro com os amigos. À Margarida Matola torturam as lembranças do tempo em que Ekson gatinhava normalmente pelo quintal e contaminava a família com os seus sorrisos.
 
“O que mais me inquieta é o facto de os médicos dizerem que não sabem quais são as causas desta doença, mas eles fazem muita coisa pela saúde do meu filho”, reconhece.
 
Margarida revela que ganha 3.300 meticais, valor que não cobre sequer metade das despesas de casa. Não sabe o que é repouso porque todos os fins-de-semana vai à machamba, que constitui a sua segunda fonte de rendimento.
 
Uma cadeira de rodas para aliviar o sofrimento
 
A mãe do pequeno Ekson afirma que os médicos aconselharam-na a mandar o filho a sessões de fisioterapia pelo menos duas vezes por semana. Os exames médicos concluíram que a doença está numa fase crítica, o que retira qualquer probabilidade de recuperação dos movimentos.
 
Desde o dia 10 do corrente mês, Ekson Matola vive dias diferentes. Foi-lhe oferecida uma cadeira de rodas feita de papelão, no âmbito das celebrações do Dia Mundial da Saúde Mental. Os técnicos de saúde que cuidam da sua terapia fizeram-no com o propósito de atenuar as dores constantes de que se queixa e evitar o agravamento da perda dos movimentos.
 
Margarida Matola afirma que está aliviada e agradece efusivamente aos trabalhadores e técnicos do Hospital Central de Maputo pelo gesto, uma vez que vai minimizar o sofrimento do seu filho. Aliás, para além da satisfação, diz alimentar a esperança de que melhores dias ainda virão, de pessoas de boa-fé, no tocante à ajuda a Ekson.
 
O que é a meningite e como preveni-la?
 
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o sistema nervoso central e a espinal medula. Trata-se de uma alteração que pode ser grave porque as meninges, ao aumentar de tamanho, pressionam o cérebro – que é um órgão vital – e também os vasos sanguíneos que o irrigam.
 
Os sintomas da meningite (doença que atinge mais crianças ainda em tenra idade) são desconhecidos, mas deles constam a febre, pescoço dolorido, pequenas manchas vermelhas na pele, vómito, convulsões, falta de apetite e cansaço anormal.
 
Para evitar a meningite é necessário não partilhar talheres, palhinhas, copos e demais objectos que contenham a saliva de outras pessoas. Não partilhe igualmente cigarros, charutos ou cachimbos. Não deixe as crianças colocarem na boca objectos que estiveram na boca de outras crianças.
 
Evite aproximar-se de pessoas que estejam a tossir ou a espirrar e, quando estiver nestas duas últimas situações, tape a boca e lave as mãos frequentemente com água morna e sabão, pois é possível que tenha tocado nalgum objecto já contaminado. Não deixe que outras pessoas beijem os seus filhos mais novos directamente na boca.
 
No caso dos adolescentes, estes devem ser informados do facto de que, quando beijam alguém na boca, estão a passar e a receber bactérias.
 

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