Coutinho Macanandze – Verdade (mz)
Ekson Matola, de
oito anos de idade, residente no bairro de Hulene “B”, arredores de Maputo, não
fala, não anda, não come sozinho e nem se pode manter de pé. É uma criança
condenada a nunca mais se locomover porque uma meningite paralisou os seus
membros inferiores e superiores. Vive deitado numa esteira incómoda, da qual só
se livra quando se encontra nos braços da mãe, Margarida Matola. O menino,
segundo a progenitora, está neste estado desde os dois meses de vida, altura em
que foi acometido pela doença.
Margarida Matola e
Feliciano Novela são os pais biológicos do pequeno Ekson, que vive a dor de
depender de terceiros para fazer tudo. Nasceu normal como muitas outras
crianças, porém, aos dois meses e meio de vida, contraiu uma meningite que
culminou com a deficiência física, que se traduziu na perda dos movimentos.
Perante aquele cenário, diga-se, triste, a família e o menino vivem um tremendo
martírio.
Entretanto,
Feliciano Novela, o pai, abdicou de desempenhar tal papel. Pura e simplesmente
abandonou-os e eximiu-se da sua responsabilidade paternal e social. Desde que
saiu de casa em 2004 ainda não deu nenhum sinal de vida.
Margarida Matola
conheceu Novela algures na cidade de Maputo. Decidiram unir-se e formar uma
família. Ela acolheu-o em sua casa, mas, passado algum tempo, a ideia de
construir um lar não passou de um plano falhado. Ekson Matola é fruto dessa
relação.
“Pensei que com ele
podia construir uma família como meu marido. Acolhi-o em minha casa, mas ele
desvalorizou a minha generosidade. Deixou- me na desgraça e passo dias e noites
a chorar. Agora procuro garantir carinho e saúde ao meu filho”.
Margarida trabalha
numa empresa de segurança na qual está afecta ao sector das limpezas. Para além
de Ekson, toma conta de outros dois filhos e consegue sustentá-los com o parco
salário que ganha.
Se para alguns ter
pai é sinónimo de felicidade, Ekson vive o contrário. Por causa do seu estado
de saúde perdeu o carinho paternal. Visivelmente emocionada, a senhora conta
que antes de o menino ficar deficiente já vivia uma relação marcada por atritos
com o esposo.
Com a doença, o
ambiente entre o casal tornou-se “turvo”, insustentável. Novela abandonou a
família e eximiu-se de custear as despesas do lar e do tratamento do seu filho
por alegada falta de dinheiro.
“O meu filho não
anda, não fala, não fica de pé e não come sozinho. Ele é dependente em tudo.
Está sempre deitado ou no colo. Quando vou trabalhar ele fica sozinho e, às
vezes, em casa sozinho porque durante a manhã a minha filha vai à escola e o
irmão faz alguns biscates para ajudar nas despesas da casa”, disse.
O começo da
amargura
A doença de Ekson
Matola começou nos fins de 2004. Meses depois de vir ao mundo, passou mal e a
mãe procurou por um acompanhamento médico no Hospital Central de Maputo.
Através dos exames
clínicos ficou-se a saber que ele padecia de meningite e tinha um líquido no
cérebro que aumentava o tamanho da sua cabeça. Para contrariar esta tendência,
os médicos tiveram que lhe submeter a uma cirurgia. No princípio, parecia que
tudo estava controlado, até o dia em que a criança teve uma convulsão, em Junho
do 2011.
Em Setembro do
mesmo ano, houve necessidade de se proceder a mais uma operação porque o mesmo
líquido que deteriorava o seu quadro clínico persistia e a anterior cirurgia
tinha criado uma ferida profunda na cabeça, da qual o líquido em causa se
expelia. Feito o tratamento, o tamanho da cabeça diminuiu, mas depois de algum
tempo o menino teve uma segunda convulsão e foi parar à sala de reanimação
durante dois dias.
Segundo a mãe, o
maior pesadelo foi ver o filho perder o movimento dos membros. A ele, o
destino, diga-se, trágico, arrancou a oportunidade de frequentar uma escola, de
correr de um lado para o outro com os amigos. À Margarida Matola torturam as
lembranças do tempo em que Ekson gatinhava normalmente pelo quintal e
contaminava a família com os seus sorrisos.
“O que mais me
inquieta é o facto de os médicos dizerem que não sabem quais são as causas
desta doença, mas eles fazem muita coisa pela saúde do meu filho”, reconhece.
Margarida revela
que ganha 3.300 meticais, valor que não cobre sequer metade das despesas de
casa. Não sabe o que é repouso porque todos os fins-de-semana vai à machamba,
que constitui a sua segunda fonte de rendimento.
Uma cadeira de
rodas para aliviar o sofrimento
A mãe do pequeno
Ekson afirma que os médicos aconselharam-na a mandar o filho a sessões de
fisioterapia pelo menos duas vezes por semana. Os exames médicos concluíram que
a doença está numa fase crítica, o que retira qualquer probabilidade de
recuperação dos movimentos.
Desde o dia 10 do
corrente mês, Ekson Matola vive dias diferentes. Foi-lhe oferecida uma cadeira
de rodas feita de papelão, no âmbito das celebrações do Dia Mundial da Saúde
Mental. Os técnicos de saúde que cuidam da sua terapia fizeram-no com o
propósito de atenuar as dores constantes de que se queixa e evitar o
agravamento da perda dos movimentos.
Margarida Matola
afirma que está aliviada e agradece efusivamente aos trabalhadores e técnicos
do Hospital Central de Maputo pelo gesto, uma vez que vai minimizar o
sofrimento do seu filho. Aliás, para além da satisfação, diz alimentar a
esperança de que melhores dias ainda virão, de pessoas de boa-fé, no tocante à
ajuda a Ekson.
O que é a meningite
e como preveni-la?
A meningite é uma
inflamação das meninges, membranas que envolvem o sistema nervoso central e a
espinal medula. Trata-se de uma alteração que pode ser grave porque as
meninges, ao aumentar de tamanho, pressionam o cérebro – que é um órgão vital –
e também os vasos sanguíneos que o irrigam.
Os sintomas da
meningite (doença que atinge mais crianças ainda em tenra idade) são
desconhecidos, mas deles constam a febre, pescoço dolorido, pequenas manchas
vermelhas na pele, vómito, convulsões, falta de apetite e cansaço anormal.
Para evitar a
meningite é necessário não partilhar talheres, palhinhas, copos e demais
objectos que contenham a saliva de outras pessoas. Não partilhe igualmente
cigarros, charutos ou cachimbos. Não deixe as crianças colocarem na boca objectos
que estiveram na boca de outras crianças.
Evite aproximar-se
de pessoas que estejam a tossir ou a espirrar e, quando estiver nestas duas
últimas situações, tape a boca e lave as mãos frequentemente com água morna e
sabão, pois é possível que tenha tocado nalgum objecto já contaminado. Não
deixe que outras pessoas beijem os seus filhos mais novos directamente na boca.
No caso dos
adolescentes, estes devem ser informados do facto de que, quando beijam alguém
na boca, estão a passar e a receber bactérias.
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