Eduardo Oliveira
Silva – i online, opinião
Juntam-se análises
internas negativas e graves reservas externas. Vamos a caminho da tempestade
perfeita
Sempre se disse que
cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Ora aí está,
seguramente, o ditame popular que inspirou a troika quando notificou o governo
português de que era absolutamente indispensável ter à mão um cenário
alternativo (vulgo plano B) para o caso de as previsões em que assenta o
Orçamento do Estado (OE) de 2013 se verificarem erradas.
Em paragonas nas
manchetes dos jornais mais ligados à economia, a notícia mais não faz do que
reproduzir uma afirmação singela que a ex-ministra das Finanças Manuela
Ferreira Leite teve oportunidade de fazer, não uma mas duas vezes na semana
passada.
Vindo de Bruxelas o
recado parece, porém, mais estridente e não há margem para assobiar ao
cochicho.
A lógica do plano B
assenta, evidentemente, na previsível falha do plano A, ou seja, da política
orçamental do actual governo.
Não vale a pena
iludir mais nenhuma vez o assunto. A garantia que a troika é, claramente, fruto
da experiência feita e traduzida noutra expressão popular: “Gato escaldado da
água fria tem medo.” Trata-se pois de uma prevenção elementar depois dos erros
sucessivos nas estimativas do ministro das Finanças português. Qualquer que
seja a forma de pôr a questão ou a entidade que o faça, tudo se resume à
evidente e objectiva falta de confiança nas estimativas e previsões que o
governo fez ou fará.
E não são só as
entidades externas que assim pensam. A UTAO (Unidade Técnica de Apoio
Orçamental), um organismo nacional criado no quadro da Assembleia da República,
fez saber ontem que até no Orçamento Rectificativo as receitas fiscais estão
abaixo do esperado.
A mesma UTAO também
assinalou que o governo se enganou redondamente na previsão da taxa de
desemprego, que bate recordes sucessivos, o que obviamente também trouxe
consequências negativas do ponto de vista orçamental e agravou a recessão.
Como não há duas
sem três, mal estes números foram conhecidos chegaram outros referentes à
execução orçamental que não eram propriamente mais animadores. Depois de
apuradas contas, fazia-se saber através da própria Direcção-Geral do Orçamento
que as receitas fiscais andam 4,9% abaixo do cobrado em 2011. Só no IVA a
diferença para o ano passado foi de 245,2 milhões de euros até Setembro.
Estas dados e
posições de instâncias nacionais e internacionais impressionam qualquer mortal
e transformam Portugal numa aposta improvável.
Bem pode Marcelo
Rebelo de Sousa dizer nas suas homilias dominicais que Vítor Gaspar perdeu
crédito interno, mas ganhou crédito externo. Só mesmo a conhecida bondade
cristã do professor pode justificar tamanha benevolência.
A realidade mostra
que estão criadas as condições objectivas para uma recessão permanente ou para
uma tempestade social de gravíssimas repercussões.
Quando os nossos
parceiros externos se aperceberem unanimemente disso, a auréola de Vítor Gaspar
já terá deixado de brilhar e, muito possivelmente, o ministro estará a caminho
de um belo lugar num areópago internacional de economia, sentindo que já reembolsou
a pátria exausta do seu vasto plano de estudos…
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