quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Portugal: DE MAL A PIOR

 


Eduardo Oliveira Silva – i online, opinião
 
Juntam-se análises internas negativas e graves reservas externas. Vamos a caminho da tempestade perfeita
 
Sempre se disse que cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Ora aí está, seguramente, o ditame popular que inspirou a troika quando notificou o governo português de que era absolutamente indispensável ter à mão um cenário alternativo (vulgo plano B) para o caso de as previsões em que assenta o Orçamento do Estado (OE) de 2013 se verificarem erradas.
 
Em paragonas nas manchetes dos jornais mais ligados à economia, a notícia mais não faz do que reproduzir uma afirmação singela que a ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite teve oportunidade de fazer, não uma mas duas vezes na semana passada.
 
Vindo de Bruxelas o recado parece, porém, mais estridente e não há margem para assobiar ao cochicho.
 
A lógica do plano B assenta, evidentemente, na previsível falha do plano A, ou seja, da política orçamental do actual governo.
 
Não vale a pena iludir mais nenhuma vez o assunto. A garantia que a troika é, claramente, fruto da experiência feita e traduzida noutra expressão popular: “Gato escaldado da água fria tem medo.” Trata-se pois de uma prevenção elementar depois dos erros sucessivos nas estimativas do ministro das Finanças português. Qualquer que seja a forma de pôr a questão ou a entidade que o faça, tudo se resume à evidente e objectiva falta de confiança nas estimativas e previsões que o governo fez ou fará.
 
E não são só as entidades externas que assim pensam. A UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental), um organismo nacional criado no quadro da Assembleia da República, fez saber ontem que até no Orçamento Rectificativo as receitas fiscais estão abaixo do esperado.
 
A mesma UTAO também assinalou que o governo se enganou redondamente na previsão da taxa de desemprego, que bate recordes sucessivos, o que obviamente também trouxe consequências negativas do ponto de vista orçamental e agravou a recessão.
 
Como não há duas sem três, mal estes números foram conhecidos chegaram outros referentes à execução orçamental que não eram propriamente mais animadores. Depois de apuradas contas, fazia-se saber através da própria Direcção-Geral do Orçamento que as receitas fiscais andam 4,9% abaixo do cobrado em 2011. Só no IVA a diferença para o ano passado foi de 245,2 milhões de euros até Setembro.
 
Estas dados e posições de instâncias nacionais e internacionais impressionam qualquer mortal e transformam Portugal numa aposta improvável.
 
Bem pode Marcelo Rebelo de Sousa dizer nas suas homilias dominicais que Vítor Gaspar perdeu crédito interno, mas ganhou crédito externo. Só mesmo a conhecida bondade cristã do professor pode justificar tamanha benevolência.
 
A realidade mostra que estão criadas as condições objectivas para uma recessão permanente ou para uma tempestade social de gravíssimas repercussões.
 
Quando os nossos parceiros externos se aperceberem unanimemente disso, a auréola de Vítor Gaspar já terá deixado de brilhar e, muito possivelmente, o ministro estará a caminho de um belo lugar num areópago internacional de economia, sentindo que já reembolsou a pátria exausta do seu vasto plano de estudos…
 

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